Infelizmente, não foi desta vez que chegamos a concorrer novamente ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O longa-metragem de estreia de Daniel Rezende como diretor não ficou entre os nove pré-selecionados, mas, certamente, isso nada teve a ver, em absoluto, com uma eventual falta de qualidade. Bingo: O Rei das Manhãs é um filme ousado, que retrata a vida de Arlindo Barreto – no longa, Augusto – um dos principais intérpretes do Palhaço Bozo – aqui, Bingo, por conta de questões concernentes aos direitos autorais. Sucesso absoluto nos anos 80, ele tinha uma vida pessoal marcada pelos excessos, especialmente por conta do vício crescente em cocaína. Daniel aborda esse personagem a partir de suas interações familiares, sobretudo tendo como âncora principal a relação com o filho que se sente negligenciado quando o pai alcança o sucesso. Especialmente por se tratar de um trabalho de estreia, impressiona a segurança com que Daniel conduz essa trama que dá conta de uma das histórias mais insólitas dos bastidores da televisão brasileira. Vladimir Brichta apresenta um grande trabalho como Bingo, como e sem maquiagem, construindo uma figura inebriada pelas luzes dos holofotes, suscetível às crises, de diversas naturezas, especialmente as que sobrevêm à sua demissão. Com uma reconstituição de época excepcional, vide figurinos, cenografia e a trilha sonora utilizada, este longa-metragem merece a posição de destaque na nossa eleição de melhores do ano, já que consegue, até mesmo na última cena, a da apresentação de Augusto no palco de uma igreja evangélica, mostrar do que é feito esse homem, ou melhor, apontar o que o alimenta.
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