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Ele tinha apenas 27 anos, mas deixou um legado impressionante. Em 16 anos de carreira, Anton Viktorovich Yelchin morreu no dia 19 de junho de 2016 com seu nome nos créditos de 65 produções diferentes, entre produções para o cinema e para a televisão, longas, curtas e seriados. Desde a estreia, em um episódio da série Plantão Médico (E.R., 2000) até o ainda inédito Star Trek: Sem Fronteiras (2016), somou trabalhos como protagonista e como coadjuvante, como dublador e como cantor. Atuou sob o comando de cineastas consagrados, como Paul Schrader, J. J. Abrams, Jodie Foster, Roland Joffé, Jim Jarmusch e Joe Dante, e ao lado de astros como Anthony Hopkins, Chris Pine, Tilda Swinton, Patrick Stewart, Winona Ryder, Colin Farrell, Mel Gibson, Jennifer Lawrence, Christian Bale, Sharon Stone, Donald Sutherland, Bruce Willis e Justin Timberlake. Elogiado pela crítica, mereceu quase vinte prêmios e indicações ao longo desta breve carreira. Apesar de ter nascido na Rússia, se mudou com os pais para os Estados Unidos com apenas seis meses de idade, e com as oportunidades que teve tinha tudo para ser um dos maiores nomes de Hollywood – se tivesse tido tempo para tanto. Em sua homenagem, nós selecionamos abaixo seus dez filmes essenciais, que mostram bem a versatilidade do ator, seu talento para elogiadas produções independentes e também em grandes sucessos de público, deixando claro que sua partida foi cedo demais. Com vocês, o melhor de Anton Yelchin.

 

os-smurfs-papo-de-cinema10. Os Smurfs (The Smurfs, 2011)
Aqui ele não é o protagonista (papel de Neil Patrick Harris), nem o dublador mais famoso (Katy Perry, como a Smurfette). Porém, mesmo em uma participação menor, Anton Yelchin teve presença marcante como a voz do querido Desastrado, o tipo mais ingênuo e adorável de toda a trupe de pequenas criaturas azuis. Sua performance vocal foi tão marcante que acabou lhe gerando outros trabalhos na área, como nas versões norte-americanas das animações Da Colina Kokuriko (2011), do Japão, e Piratas Pirados (2012), da Inglaterra. Como curiosidade, outro ponto chama atenção: este foi o maior sucesso de bilheteria de toda a sua carreira, com mais de US$ 563 milhões arrecadados em todo o mundo.

 

um-novo-despertar-papo-de-cinema09. Um Novo Despertar (The Beaver, 2011)
Jodie Foster estava sem dirigir há quase duas décadas, e longe das telas há no mínimo três anos. Porém, para ajudar o amigo Mel Gibson – que enfrentava um período em baixa, tanto artística quanto pessoal – ela concebeu esse drama sensível, sobre um homem de família em crise que encontra sonoro apenas na marionete em forma de castor que usa no braço esquerdo – e através do qual consegue, enfim, se comunicar. A perturbação que atinge o pai e sobrecarrega a mãe termina por refletir também nos filhos, e principalmente no mais velho, papel que Anton Yelchin desempenha com louvor. O jovem rebelde, porém responsável, sabe dos problemas de casa, mas está cada vez mais sozinho – ao menos até encontrar consolo na amiga interpretada por Jennifer Lawrence. Uma história delicada, mas que chamou atenção pelo inusitado e rendeu à Yelchin uma indicação a Melhor Ator no Prism Awards, premiação voltada a reconhecer esforços artísticos ligados à temática da diversidade em relação à doenças mentais e abuso de drogas.

 

alpha-dog-papo-de-cinema08. Alpha Dog (2006)
Anton Yelchin tem sua primeira grande oportunidade na tela grande neste drama baseado em fatos reais dirigido por Nick Cassavetes. Jesse James Hollywood, a pessoa mais jovem da história a entrar para a lista de Mais Procurados do FBI, ganha aqui o nome de Johnny Truelove (Emile Hirsch). Em cobrança de uma dívida, ele ameaça Jake Mazursky (Ben Foster) sequestrando o irmão mais novo dele, Zach (Anton Yelchin). À princípio trata-se de um acordo entre Johnny e Zach, pois este acredita que o irmão irá pagar o devido logo e tudo ficará certo. Mas quando os pais – Bruce Willis e Sharon Stone entre eles – dos garotos se envolvem e a polícia acaba sendo chamada, o que deveria ser apenas uma brincadeira de crianças termina por adquirir contornos drásticos – e irreversíveis. Yelchin é a figura frágil, que quer ser amigo de todos, mas que vê sua sensibilidade sendo manipulada a favor dos demais. Uma performance comovente, que até hoje perturba pelo terrível destino ao qual é conduzido.

 

lembrancas-de-um-verao-papo-de-cinema07. Lembranças de um Verão (Hearts in Atlantis, 2001)
Ainda que sua estreia na tela grande tenha sido um ano antes, na comédia musical que ninguém viu A Man Is Mostly Water (2000), foi neste trabalho de Scott Hicks – diretor indicado ao Oscar por Shine: Brilhante (1996) – ao adaptar um conto de Stephen King que Anton Yelchin chamou de fato a atenção de um público maior pela primeira vez. Ele aparece como o filho de uma mãe viúva (papel de Hope Davis). Os dois se mudam para a casa ao lado de um senhor recluso e misterioso, personagem desempenhado com gosto por Anthony Hopkins. A partir do encontro entre os dois, as vidas de ambos serão mudadas para sempre. Hopkins entrega a excelência de sempre, mas foi de Yelchin a interpretação mais comentada do filme, rendendo-lhe indicações aos prêmios dos críticos de Las Vegas e Phoenix, além de um troféu no Young Artist Awards como Melhor Ator Jovem do ano – com apenas 12 anos!

 

Print06. O Exterminador do Futuro: A Salvação (Terminator: Salvation, 2009)
Anton Yelchin foi a escolha mais inusitada para viver um dos personagens mais icônicos do cinema de ficção-científica de todos os tempos: Kyle Reese, que em O Exterminador do Futuro (1984) foi interpretado por Michael Biehn e em O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015) por Jai Courtney. Pra quem não está lembrado, Kyle é o pai do líder da revolução dos homens contra as máquinas, John Connor (Christian Bale). Porém, entre tantas idas e vindas no tempo, temos a curiosa situação do filho ser mais velho que o pai. A história começa em 2003, quando Kyle era apenas um adolescente, e depois pula para 2018, quando Connor está em plena operação, recebendo a missão de resgatar o próprio pai, porém em sua versão jovem e presa nos escritórios centrais da Skynet. Este quarto episódio da saga – e o único sem a presença constante de Arnold Schwarzenegger – pode ter sido recebido com frieza pelos fãs, mas ainda assim arrecadou mais de US$ 370 milhões ao redor do mundo – e serviu para revelar Anton Yelchin também como herói de ação.

 

Star-Trek-Beyond-Chekov-poster-papo-de-cinema05. Star Trek (2009)
Pois foi justamente apostando nesse seu novo perfil artístico que Yelchin aceitou participar de sua segunda megaprodução no mesmo ano, mais uma vez revivendo um personagem adorado pelos fãs do gênero: e engenheiro russo Chekov, vivido por Walter Koenig na série clássica. Vivendo pela primeira vez na tela grande um personagem que compartilha sua mesma terra natal, Anton embarcou na Enterprise ao lado do Capitão Kirk e de companheiros como Spock, Bones e Uhura rumo aos limites do universo. A empreitada, que tinha no comando ninguém menos do que J. J. Abrams, foi tão bem recebida que não só gerou uma sequência – Além da Escuridão: Star Trek (2013) – como ainda ganhou um Oscar (Melhor Maquiagem), além de ter sido premiado como Melhor Elenco pelos críticos de Denver e de Boston e indicado na mesma categoria na premiação dos Críticos de Washington e no Critics Choice Awards. E Yelchin viveu mais uma vez o personagem no capítulo final da trilogia, Star Trek: Sem Fronteiras, previsto para estrear no próximo mês de setembro.

 

amantes-eternos-papo-de-cinema04. Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013)
Após viagens ao espaço e produções infantis, havia chegado a vez de Yelchin se aventurar pelo mundo sombrio e poético do diretor Jim Jarmusch. O resultado é o romântico e melancólico drama sobre dois vampiros – Tom Hiddleston e Tilda Swinton – que não podem mais viver juntos, porém menos ainda separados. Ele é um músico em constante depressão, ela é uma diva em busca do melhor que o mundo pode oferecer. Quando a irmã dela surge entre eles, interpretada por Mia Wasikowska, será preciso a presença humana para oferecer um balanço nessa relação – e é quando o jornalista vivido por Anton se mostra imprescindível. Fascinado pelo estilo de vida destes seres fantásticos, ele é o ponto de encontro com o espectador e o inimaginável, indo além do que a imaginação pode oferecer. Exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes, este é um filme que esconde muito mais do que uma primeira leitura pode oferecer, pois será no conjunto do todo em que a mensagem do diretor se faz, enfim, presente.

 

enterrando-minha-ex-papo-de-cinema03. Enterrando Minha Ex (Burying the Ex, 2014)
Esta divertida comédia de humor negro do diretor Joe Dante – responsável por alguns clássicos do gênero, como Piranha (1978) e Gremlins (1984) – nem chegou a ser exibida nos cinemas brasileiros, mas merece ser descoberta. A proposta é simples: quando sua namorada morre, rapaz não sabe se chora ou comemora – ela até gostava dela, mas de uns tempos pra cá não aguentava mais a relação. Assim, logo engata um novo romance. O problema é que, anos antes, ele e a ex haviam feito uma jura de amor eterno em frente a uma estátua do diabo, e coisas assim não podem ser tratadas levianamente. E quando a garota morta volta da tumba pronta a exigir o prometido, será um legítimo Deus nos acuda! O roteiro lembra um pouco o da animação A Noiva Cadáver (2005), mas tem um charme próprio, principalmente pela ousadia narrativa do diretor e pela performance de Yelchin, que como o protagonista mostra talento suficiente para não se levar tão à sério.

 

loucamente-apaixonados-papo-de-cinema02. Loucamente Apaixonados (Like Crazy, 2011)
Às vezes, o melhor mesmo é deixar a ironia de lado e assumir-se sem ressalvas, pois a franqueza e a coragem merecem respeito. É o que acontece neste drama irreversivelmente romântico em que Yelchin é um jovem que se apaixona por uma inglesa em intercâmbio, papel de Felicity Jones. A paixão entre eles é à primeira vista e parece não ter fim, porém tem data para acabar – quando ela voltar para sua casa. Os dois até se esforçam para ficarem juntos, mas a distância acabará falando mais alto – ao menos até Jennifer Lawrence (mais uma vez ela!) surgir na vida dele, agora como uma colega de trabalho caidinha por ele. Mesmo dono de uma beleza nada óbvia, Yelchin convence como o jovem apaixonado, deixando duas estrelas do primeiro time de Hollywood aos seus pés – assim como todos os demais do lado de cá da tela.

 

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01. A Hora do Espanto (Fright Night, 2011)
Remake do sucesso homônimo de 1985, esta aventura vampiresca dirigida por Craig Gillespie representa o momento alto da carreira de Anton Yelchin. Ainda que Colin Farrell – como o vampiro sedutor e sedento da casa ao lado – seja o primeiro nome do elenco, é Yelchin o verdadeiro protagonista, como o jovem que primeiro desconfia de algo errado com o vizinho, para logo em seguida fazer de tudo ao seu alcance para salvar a namorada (Imogen Poots), a mãe (Toni Collette), os amigos (Christopher Mintz-Plasse e Dave Franco) e quem mais estiver ao seu alcance. A produção não foi o sucesso de bilheteria que se esperava – US$ 41 milhões arrecadados em todo o mundo – mas possui um charme muito próprio, não ficando na sombra da versão original e mostrando um jovem talento que tinha tudo para ser herói romântico, dramático, cômico e até mesmo aterrorizante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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