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Um dos grandes cases audiovisuais genuinamente brasileiros, a marca Detetives do Prédio Azul – DPA, para os íntimos – ultrapassou a marca das 10 temporadas e dos 300 episódios na televisão. Naturalmente, esse sucesso levaria a uma transposição para os cinemas, o que aconteceu em 2016, com Detetives do Prédio Azul – O Filme, que rapidamente se tornou um sucesso de bilheteria, resultado encarregado de alavancar não apenas a produção da continuação, Detetives do Prédio Azul 2: O Mistério Italiano (2018), mas que esta tivesse um valor de produção ainda maior. Repetido o êxito (os dois filmes somaram mais de 2,5 milhões de espectadores), era moleza apostar na realização da terceira parte. Em 2019, num mundo pré-pandemia, começou a ser rodado DPA 3: Uma Aventura no Fim do Mundo no Rio de Janeiro, com previsão de filmagens em Ushuaia, cidade da Patagônia argentina, capital da província da Terra do Fogo. O Papo de Cinema foi convidado a conferir uma diária rodada na Base Aérea de Santa Cruz, na Cidade Maravilhosa. E lá nós fomos para observar de perto o que aprontavam os detetives e companhia.

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Foto: Desirée do Valle

Quando chegamos, o circo estava completamente montado. Um avião enorme estava servindo de locação principal, então imaginem o quão dispendioso foi todo esse processo que envolveu trabalhosas troca de luzes, ensaios, rodagens e ajustes finos feitos sob a batuta do cineasta Mauro Lima. Diferentemente do que aconteceu quando visitamos o set do segundo filme – o resultado você pode conferir aqui –, infelizmente não conseguimos conversar com todo o elenco principal e tampouco com o diretor, pois este estava tão atribulado que não teve sequer tempo de nos atender brevemente. Mas, conseguimos bater papos rápidos com Pedro Henrique Motta, o intérprete do detetive Pippo (o da capa verde), Nisole Orsini, a que vive a bruxinha Berenice e Ronaldo Reis, grande veterano da franquia, aquele que dá vida ao porteiro/amigo Severino, mas que neste terceiro longa-metragem se transforma no grande obstáculo a ser vencido pelas crianças intrépidas. Então, segue como foram essas nossos bate-papos com eles.

 

Trama e valor de produção
Em DPA 3: Uma Aventura no Fim do Mundo, Sol (Leticia Braga), Pippo (Pedro Henriques Motta) e Bento (Anderson Lima) se unem à feiticeira Berenice (Nicole Orsini) para solucionar, talvez, o maior caso de suas vidas. Depois de encontrar uma relíquia misteriosa nos escombros de um avião, Severino (Ronaldo Reis), o cara mais gente boa do pedaço, é transformado numa figura maligna. Adiante, ficamos sabendo que o artefato nada mais é do que metade do Medalhão de Uzur, responsável por manipular toda a energia do mundo. Além da ajuda dos aliados de sempre, os pequenos vão precisar viajar até os confins do mundo, numa terra nevada e mística, para encontrar uma solução que evite, ao mesmo tempo, um cataclismo e a perda permanente do querido Severino para o lado sombrio da magia. Atores e equipe técnica viviam a expectativa do embarque para um dos destinos turísticos mais importantes da América Latina, a belíssima Ushuaia. “As nossas capas são adaptadas para o frio de Ushuaia (risos). A equipe está ansiosa. Além a série do DPA te contar sobre história geografia, nos filmes temos a oportunidade de mostrar pontos turísticos de lugares que são muito bonitos. No primeiro filme, queríamos fazer algo bem carioca, mas não para os cariocas, e sim para que o resto do Brasil conhecesse um pouco melhor o Rio de Janeiro. No segundo filme tínhamos incursões por Niterói e pela região da Puglia, na Itália, e também mostramos esses espaços da melhor forma possível. E agora a gente vai mostrar Ushuaia que, pelo que pesquisei, deve ser um lugar incrível. É um lugar místico e que tem de agora com o filme se tornar mais mítico ainda”, afirmou Pedro.

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Foto: Desirée do Valle

 

E agora, Severino é mal?
Pois é. Severino, o tão amado amigo doa detetives, vai apresentar uma faceta nova. Claro, ele está devidamente enfeitiçado por um elemento poderosíssimo, mas essa mudança é uma ruptura considerável, especialmente para quem vem acompanhando o programa há tanto tempo. Vale lembrar que Ronaldo Reis é o único membro de DPA desde o primeiro episódio. “O Severino do mal é um dos maiores desafios que os detetives já tiveram. Pode não ser o maior vilão que já enfrentamos, mas aí conta o fator afetivo. A gente não tem medo necessariamente do Severino, mas dele ficar malvado para sempre. Nessa investigação, precisamos de muita delicadeza. Não estamos lidando com qualquer bruxo. Estamos lidando com o Severino que, além de porteiro e amigo, é padrasto da Sol”, refletiu Pedro. Na luta inglória contra esse inimigo, certamente a bruxinha Berenice será uma aliada essencial. Conversamos com sua intérprete, Nicole Orsini, para saber o que esperar do embate com um vilão tão familiar.

“O Ronaldo está muito focado em fazer esse Severino do mal. Queria até aproveitar para parabeniza-lo pelo grande trabalho. A primeira cena como malvado foi comigo e percebi o quão focado ele estava. Admiro-o muito como ator, acho que ele interpreta o Severino de uma maneira incrível. Dou altas risadas no set. Nunca tinha visto ele mostrando esse lado malvado. Estou curiosa para saber como as crianças vão se assustar”. Os desafios dessa virada radical de chave são instigantes, mesmo para um ator com a tarimba de Ronaldo Reis. Sempre empolgado e solícito, ele nos disse como estava encarando o desafio. “É uma alegria imensa fazer parte desse projeto desde a primeira temporada. Recentemente, comemoramos 300 episódios e eu estou em todos eles. Tenho um orgulho muito grande desse personagem e do programa, porque acredito que estamos marcando várias gerações. Estou vivendo a melhor fase da minha vida e neste filme deram uma privilegiada no Severino (risos). Preciso diariamente desconstruir esse sentimento bonito do Severino tem pelas crianças. Às vezes, tenho que ficar até ausente e não participar das brincadeiras no set, justamente porque preciso cultivar esse ranço. Estou tentando também fazer certas quebras, até porque as crianças não fiquem apavoradas com personagem. Interpretar vilão é realmente diferente, você pode fazê-lo debochado, escrachado, de vários modos. Estou tentando fazer um vilão um tanto quanto diplomático e elegante. Está sendo realmente o trabalho delicioso, mas verdadeiramente árduo”.

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Foto: Desirée do Valle

 

Mauro Lima, o diretor da empreitada
O diretor de DPA 3: Uma Aventura no Fim do Mundo é Mauro Lima, experiente profissional cujos créditos na função incluem os sucessos Meu Nome Não é Johnny (2008) e Tim Maia (2014). Diferentemente dos seus antecessores como comandante de um filme DPA – André Pellenz e Vivianne Jundi – ele assume a tarefa sem um contato prévio com o seriado, a não ser como espectador. Sobre isso conversamos com parte do elenco, tentando entender quais as contribuições dessa mudança substancial. “Essa é uma ótima pergunta. O André tinha dirigido a série antes de sermos detetives, então nos ajudou a virarmos detetives. A Vivi chegou para série quando nós já estávamos nela, então, de alguma maneira, ajudamos com o ritmo. Para o Mauro mostramos como é o ritmo DPA da série e do filme. Ele está sendo um cara super humilde, mas que também traz coisas novas. Ao mesmo tempo, estava sempre aberto a sugestões, porque entendia que compreendíamos a essência dos personagens, talvez até mais do que os diretores pensam, às vezes”, disse Pedro. “O Mauro falou conosco sobre a relação de paixão que o filho dele, o Pedro, tem com DPA. Com 15 dias de filmagem,  já estava completamente envolvido com esse universo dos detetives do prédio azul. Dá para perceber o quanto ele está empenhando. Veio para justamente adicionar temperos e equalizar o tom dos personagens. Na série, tudo acontece dentro do prédio azul, não temos externas. O Mauro é um mestre está caminhando muito firme. Para gente como ator é sensacional poder trabalhar com novos diretores”, complementou Ronaldo. Nicole reafirmou o fator positivo dessa troca, especialmente para expandir certos horizontes: “Estou gostando muito de trabalhar com o Mauro, ele é um ótimo profissional. Colaborar com outros diretores é sempre uma nova experiência. Encarei isso de uma maneira ótima. Por mais que os outros diretores sempre estejam no meu coração, é importante dar passos diferentes”.

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Foto: Desirée do Valle

 

Despedida dos detetives
Depois de DPA 3: Uma Aventura no Fim do Mundo, Leticia Braga, Pedro Henriques Motta e Anderson Lima deixarão as capas a uma terceira geração de detetives. Embora ainda sigam nos personagens à estreia da franquia no teatro, eles estão prontos para alçar novos voos. Infelizmente, não conseguimos falar com Leticia e Anderson sobre isso, mas Pedro acabou resumindo uma sensação provavelmente inerente aos três: “Olha esse processo está super tranquilo. É algo normal. De certa forma, também é um desejo pessoal de fazer outras coisas e veio de uma maturidade para aceitar que já era hora de isso acontecer. Os personagens tinham de tomar seus rumos, assim como os atores. Então, o primeiro processo foi a saída da série. Costumo dizer que o Pippo meio que vai se diluir, ele vai se desfazendo aos poucos e eu não vou perceber. Não vou ter um baque”. Nicole está vendo a situação por outro prisma, pois permanecerá no programa, sendo aos novatos uma espécie de precoce veterana. Sobre isso, ela falou: “Realmente é uma grande mudança. Claro que bateu uma tristeza, pois tenho uma relação quase familiar com todos do elenco. Mas, vou encarar a próxima leva de braços abertos, sem dúvida. Leticia Braga, Pedro e Anderson vão deixar saudade, mas é importante que a gente também acolha quem está chegando para somar. Fiquei muito feliz de receber a notícia de que a Berenice permaneceria e que eu seguiria vivendo a personagem”.

DPA 3: Uma Aventura no Fim do Mundo, cuja estreia inicialmente estava prevista para acontecer em 2020, teve seu cronograma de lançamento alterado para 2021, em data ainda a ser confirmada. Enquanto o filme não chega, vamos ficar com o primeiro trailer desta produção da Paris Filmes em parceria com o canal Gloob que ainda conta com Klara Castanho, Alinne Moraes e Lázaro Ramos em seu elenco.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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