Uma das maiores surpresas do anúncio dos indicados ao Oscar 2021 foi justamente nesta categoria. Afinal, a primeira vez em 93 anos de premiação que mais de uma mulher foi indicada no mesmo ano – e é sempre bom lembrar que em todo esse tempo apenas uma realizadora foi premiada (Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror, 2008). É também a primeira vez que dois cineastas de origem asiática são indicados juntos – o único já premiado até hoje foi Ang Lee, nascido em Taiwan, que ganhou em duas ocasiões (O Segredo de Brokeback Mountain, 2005, e As Aventuras de Pi, 2012). Outro fato curioso é que, dos cinco concorrentes, quatro estão na premiação pela primeira vez – uma renovação impressionante. Com tudo isso em cima da mesa, não é surpreendente que a favorita seja uma mulher, asiática e estreante na festa da Academia? Pois, como se pode ver, este vai ser um ano de quebrar tabus – felizmente! Vamos lá, então, com as nossas apostas para Melhor Direção!

 

Indicados

 


FAVORITA
Chloe Zhao, por Nomadland
Primeira mulher asiática a ser indicada ao Oscar, Chloe Zhao nasceu em Pequim, China, e está no seu terceiro longa-metragem (o quarto, a aventura Os Eternos, feito para os Estúdios Marvel, já está pronto e deve ser lançado ainda nesse ano). Por Nomadland, no entanto, ela recebeu nada menos do que quatro indicações de uma só vez – concorre ainda como produtora, roteirista e montadora – e tem grandes chances de ganhar ao menos três dessas disputas. Uma das mais garantidas é justamente a de Direção. Afinal, Zhao ganhou praticamente tudo a que disputou nesta temporada. Para começar, foi a escolhida do Sindicato dos Diretores da América (DGA, mais importante precursor da categoria). Levou ainda o Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e o Satellite, além de mais de 40 premiações de associações regionais de críticos por todos os Estados Unidos! Ou seja, só uma catástrofe para tirar a estatueta dourada de suas mãos, algo praticamente impossível de acontecer!

 

AZARÃO
David Fincher, por Mank
Concorrendo pela terceira vez ao Oscar (foi indicado antes por O Curioso Caso de Benjamin Button, 2008, e por A Rede Social, 2010), David Fincher assume dessa vez a posição de “azarão” por dois motivos bastante óbvios. Primeiro, por ser um cineasta veterano, respeitado e admirado. E, segundo, por ser responsável por Mank, que é nada menos do que o campeão de indicações neste ano, concorrendo em 10 categorias – ou seja, é um filme que os membros da Academia no mínimo gostam muito, certo? Indicado a praticamente tudo – Globo de Ouro, DGA, Critics Choice, Satellite – Fincher não viu seu nome ser anunciado como o “melhor do ano” em absolutamente nenhuma das disputas nas quais esteve presente na temporada. É carta fora do baralho, portanto? Provavelmente… mas nunca diga nunca, ainda mais se tratando do bom e velho corporativismo hollywoodiano. Se vencer a tradição frente aos novos tempos, ele é, de fato, a aposta mais segura. Algo que não deve acontecer, entretanto.

 

SEM CHANCES
Thomas Vinterberg, por Druk: Mais Uma Rodada
Dos cinco concorrentes desta categoria, apenas um não está na disputa por um longa que concorre também a Melhor Filme. Ou seja, já sai em desvantagem, certo? E esse é o lugar do dinamarquês Thomas Vinterberg, que comemora sua primeira indicação por Druk: Mais Uma Rodada. Em toda a história do Oscar, vários já foram os cineastas estrangeiros indicados, mas sabe quantos ganharam por títulos não falados em inglês? Nenhum. Mas, Vinterberg estará em boa companhia, ao lado de nomes como o do italiano Federico Fellini, do japonês Akira Kurosawa, do sueco Ingmar Bergman, do espanhol Pedro Almodóvar e até o nosso brasileiríssimo Fernando Meirelles, entre tantos outros – a exceção que confirma a regra é recente: Bong Joon-ho, de Parasita (2019). Vencedor do European Film Awards e do Robert (o “Oscar da Dinamarca”), nos Estados Unidos Vinterberg não foi indicado a nenhuma premiação regional de críticos de cinema, e muito menos nos grandes eventos da indústria. Ou seja, sua própria seleção já foi uma surpresa e tanto.

 

ESQUECIDA
Regina King, por Uma Noite em Miami
Num ano com tantas narrativas e personagens negros de destaque, como tiveram a coragem de deixar todos os cineastas afro-americanos de fora do Oscar? Spike Lee (Destacamento Blood), Shaka King (Judas e o Messias Negro), Radha Blank (The Forty-Year-Old Version) e George C. Woolf (A Voz Suprema do Blues) eram apenas alguns destes realizadores que poderiam ter ocupado ao menos uma dessas vagas com bastante merecimento. Mas, o que dizer de Regina King, que estreou como cineasta com o forte Uma Noite em Miami, filme que fala de e para negros com imensa propriedade? Além de ser também uma mulher, o que derrubaria dois tabus de uma só vez! Tanto é verdade que King foi indicada ao DGA, ao Globo de Ouro, ao Critics Choice e nas premiações dos críticos de Dallas-Fort Worth, Detroit, Georgia, Houston, Indiana, Carolina do Norte, Phoenix, Southeastern e Washington, tendo sido premiada pelos críticos do Havaí, Utah e da Filadélfia. Além de simbólica, sua inclusão também seria por merecimento. Uma lástima essa omissão.

 

:: Confira aqui tudo sobre o Oscar 2021 ::

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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