Das cinco indicadas nessa categoria, duas representam as únicas lembranças de seus filmes ao Oscar 2021 – o que já indica que o trabalho particular delas é muito mais forte do que o conjunto. Ainda que ambas tenham conquistado prêmios anteriores de peso – uma o Globo de Ouro, a outra o Leão de Prata no Festival de Veneza –, saem em desvantagem na disputa. Entre as demais, temos a protagonista absoluta daquele que tem tudo para ser o filme do ano. Seria ela, portanto, a favorita? Em qualquer outro cenário, seria possível dizer que sim – menos neste ano. Afinal, ela já é uma vencedora de duas estatuetas – e em 92 anos de Oscar, apenas… UMA atriz conseguiu ganhar três ou mais Oscars como protagonista (Katharine Hepburn, premiada quatro vezes). Ou seja, será que teremos um recorde sendo quebrado, ou – o mais fácil de acontecer – podem achar que todos os demais reconhecimentos ao filme já serão suficientes e, neste quesito, a indicação por si estará de bom tamanho? Sobram duas por fim, e o cenário está tão embaralhado que ambas podem ser apontadas tanto como favorita ou como azarão. Vai depender apenas de para qual lado o vento irá bater até o último minuto. Uma disputa, enfim, bastante acirrada. E as nossas apostas para Melhor Atriz são:
Indicadas
- Viola Davis, por A Voz Suprema do Blues
- Andra Day, por Estados Unidos vs Billie Holliday
- Vanessa Kirby, por Pieces of a Woman
- Frances McDormand, por Nomadland
- Carey Mulligan, por Bela Vingança
FAVORITA
Viola Davis, por A Voz Suprema do Blues
Em 92 anos de Oscar, sabe quantas atrizes negras foram premiadas como protagonistas? Apenas uma (Halle Berry, por A Última Ceia, 2001) – há exatos 20 anos! Ou seja, se outros tabus são difíceis de serem rompidos, este aqui é um que está mais do que na hora de ficar para trás. Se há uma intérprete na Hollywood atual capaz de tal feito é Viola Davis, a primeira atriz negra a conseguir duas indicações nessa categoria (concorreu antes por Histórias Cruzadas, 2011, e foi premiada como Coadjuvante por Um Limite Entre Nós, 2016 – esta é a quarta indicação dela). E além dessa injustiça histórica, o que a coloca – ao menos pelo nosso ponto de vista – à frente das demais é o fato de ter ganhado o prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood (o SAG Awards), o mais forte precursor por aqui. Além disso, ganhou ainda o Image Awards, Círculo dos Críticos Negros e o prêmio dos críticos de Chicago (indie) e Filadélfia, e foi indicada ao Globo de Ouro, Critics Choice, Independent Spirit, Satellite e Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA. Ou seja, não será exatamente uma surpresa se triunfar, mas também não é das apostas mais seguras. Entretanto, conta com a nossa torcida!
AZARÃO
Carey Mulligan, por Bela Vingança
Esta é a segunda indicação ao Oscar da inglesa Carey Mulligan (concorreu antes, na mesma categoria, por Educação, 2009, há mais de uma década). E se antes ela era vista como revelação, agora desponta como uma das prováveis vencedoras (ou quase isso). Ao contrário de Viola Davis, Mulligan está em um longa indicado a Melhor Filme – ou seja, é um título que conta com maior apreço entre os votantes. Porém, durante a temporada prévia, também foi indicada a quase tudo – e ganhou quase nada de real importância. Suas vitórias mais relevantes até o momento foram no Critics Choice e no National Board of Review, além de ter sido escolhida a melhor do ano pelos críticos de Austin, Atlanta, Columbus, Dallas-Fort Worth, Denver, Georgia, Houston, Kansas, Los Angeles, Nova Iorque (online), Nevada, North Texas, Phoenix (Círculo & Sociedade), San Diego e St. Louis. Ou seja, como se pode perceber, é a queridinha da crítica especializada, o que nem sempre é determinante ao Oscar – mas, se não ajuda, também está longe de atrapalhar. Também indicada ao Globo de Ouro e ao Independent Spirit, surpreendeu ao ficar de fora do Bafta – assim como Viola Davis, aliás!
SEM CHANCES
Vanessa Kirby, por Pieces of a Woman
Quem é Vanessa Kirby? Antes da interpretação hipnotizadora que apresenta em Pieces of a Woman, era mais conhecida por ter sido a Princesa Margaret na série The Crown (2016-2017), além de ter aparecido em filmes de sucesso como Como Eu Era Antes de Você (2016) e Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018) – mas sempre como coadjuvante, nunca antes como protagonista. Ao ser agraciada no Festival de Veneza com o Leão de Prata de Melhor Atriz – superando, entre outras, a própria Frances McDormand, pelo mesmo Nomadland que a trouxe também até o Oscar – Kirby deixou todo mundo ciente ao seu nome, e por isso garantiu indicações ao Globo de Ouro, Bafta, SAG, Critics Choice e Satellite, tendo sido premiada, no entanto, apenas pelos obscuros críticos de New Mexico. Longe de ser suficiente, como se percebe, para lhe garantir qualquer chance de chegar ao ouro hollywoodiano. Mas, para quem nunca havia sido indicada antes, toda essa atenção já é mais do que uma vitória, certo?
ESQUECIDA
Sophia Loren, por Rosa e Momo
Grande musa do cinema italiano, Sophia Loren foi a primeira intérprete em um filme não falado em inglês a ganhar um Oscar – no caso, o de Melhor Atriz por sua atuação em Duas Mulheres (1960), há mais de seis décadas. Uma das últimas remanescentes da Era de Ouro de Hollywood, a diva mostra, aos 86 anos, que ainda está em ótima forma ao ser dirigida pelo próprio filho no drama Rosa e Momo. Porém, não foi suficiente para garantir um olhar mais atento dos votantes da Academia, que indicaram o filme apenas na categoria de Melhor Canção Original (“Io Si / Seen”, de Diane Warren e Laura Pausini). Ao aparecer como a Madame Rosa, uma ex-prostituta que se encarrega de cuidar do órfão Momo em um difícil momento da vida de ambos, Loren garantiu alguns reconhecimentos pontuais, como os prêmios de Melhor Atriz na Associação de Críticos de Filmes para Adultos (AARP Movies for Grownups Awards), no Festival de Capri, no CinEuphoria Awards e pelo Sindicato dos Críticos Italianos de Cinema, além de ter recebido indicações ao Satellite e ao David di Donatello (o “Oscar” da Itália). Pouco, diante de tudo que ela representa e de sua importância para o cinema mundial. Que feio, Academia!
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