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Nascido em 6 de maio de 1915, no estado do Wisconsin, Estados Unidos, George Orson Welles, aluno que se interessava pouco pelas matérias regulares da escola, resolveu dedicar-se à arte aos 15 anos, com a morte do pai. A total orfandade (a mãe falecera quando ele tinha apenas 9 anos) fez como que Welles precisasse se virar para ganhar a vida. Decidiu, então, estudar pintura, seu primeiro contato com o mundo da criação, este que mais tarde faria dele notável. Paralelo às artes plásticas, começou a se envolver com teatro e aos 18 anos já era figura de destaque no circuito experimental. Um ano depois, fez sua estreia na Broadway, com a adaptação de Romeu e Julieta. A amizade com o produtor John Houseman, com quem colaborou algumas vezes, propiciou a ele participar do New York Federal Theatre Project, onde lançou sua primeira montagem como produtor e diretor, uma versão de MacBeth encenada no Harlem.

Foi com Houseman, aliás, que Orson Welles criou a companhia Mercury Theatre, onde pôde desenvolver vários projetos, entre os mais célebres a versão de Júlio César (evidenciando sua paixão por William Shakespeare), ambientada na Itália fascista, lançada em 1937. No ano seguinte, o evento que inscreveu seu nome na história da comunicação: a transmissão ao vivo pela Rádio CBS de uma invasão de marcianos, que levou a população ao pânico. Na verdade, se tratava de uma dramatização do livro A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, lida em boletins como se fosse factual. A repercussão foi tão grande que Welles celebrou um contrato milionário com Hollywood para a realização de dois filmes, com possibilidade de total controle sobre eles, ou seja, com uma liberdade nada natural para os grandes estúdios e seus produtores mandas-chuvas.

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O primeiro desses filmes, ou seja, sua estreia cinematográfica, é nada mais nada menos que Cidadão Kane (1941) tido por muitos como o maior longa-metragem já realizado. A obra-prima oferecia na época uma série de inovações, como o inusitado uso da profundidade de campo, a ação entrecortada num mesmo ambiente, planos longos e fluidos convivendo com movimentos de câmera e montagem rápidos, etc. O sucesso foi estrondoso, público e critica acolheram o filme em sua maioria, ainda que o êxito não tenha se revertido necessariamente em grandes bilheterias. Contribuiu para isso a campanha pessoal do magnata das comunicações William Randolph Hearst, um dos homens mais poderosos da época, que acusou Welles de basear-se em sua vida (e deturpar fatos dela) para construir o filme. Hearts chegou a postular a destruição de todos os negativos e cópias de Cidadão Kane, o que felizmente não ocorreu.

Seu filme posterior, Soberba (1942), expõe uma visão ácida a respeito da sociedade norte-americana. Antes da estreia, o estúdio RKO mandou o cineasta para o Brasil a fim de filmar um segmento sobre Carnaval para inserção no documentário It’s All True. Enquanto trabalhava na América do Sul, não necessariamente captando imagens de festa – Welles registrou as precárias condições sociais da população, entre outros elementos anti-turísticos, por assim dizer – a RKO cortou à sua revelia 43 minutos de Soberba para o lançamento comercial e, não contente com as filmagens que chegavam do Brasil, destoantes da encomenda, demitiu diretor e sua equipe, apropriando-se também do material, acabando com o controle criativo do cineasta. Na época, em meio a esse turbilhão profissional, casou-se com a atriz Rita Hayworth, tendo com ela a filha Rebecca. O casal divorciou-se cinco anos depois.

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Cena de “Soberba”

Otelo (1952), a transposição de sua paixão por Shakespeare às telas de cinema, venceu a prestigiada Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mesmo com êxitos artísticos, a carreira de Welles foi bastante acidentada, sobretudo por conta dos inúmeros problemas de produção. A Marca da Maldade (1958), outra de suas obras-primas, foi lançada sem que o diretor tivesse direito ao corte final. Anos mais tarde, após sua morte, porém, o filme foi remontado seguindo suas orientações previamente anotadas, e relançado nos cinemas e em home-vídeo conforme a concepção original. Outro filme pós-Kane de destaque é a adaptação de O Processo, livro imprescindível de Franz Kafka, que Welles lançou em 1962. O que se vê é uma apropriação do cineasta dos temas suscitados pelo escritor, como se Welles tomasse para si os dramas de K, os filtrasse e expusesse na tela sua própria visão, não ficando subserviente à criação kafkiana, ainda que não provocasse uma ruptura total com ela.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas reconheceu a notável contribuição de Orson Welles para o cinema concedendo-lhe um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra como ator e diretor. Seu último trabalho foi a dublagem do personagem Unicron, vilão em um dos filmes animados dos Transformers. Doente e sem dinheiro, ainda emprestou sua voz para comerciais e outras narrações antes de falecer, no dia 10 de outubro de 1985, de ataque cardíaco, deixando para trás um dos maiores legados do cinema.

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Cena de “A Marca da Maldade”

Filme imprescindível (como diretor): Cidadão Kane (1941), considerado por muitos como sua obra-prima incontestável, um dos maiores filmes do cinema.

Filme inesquecível (como diretor): Verdades e Mentiras (1974), uma pérola em que Welles discute a verdade, o valor das obras de arte, inclusive o do cinema. Seu grande filme subestimado.

Maior sucesso de bilheteria (como diretor): Difícil mensurar, mas, em geral, seus filmes tiveram pouca reverberação comercial

Primeiro filme (como diretor): Cidadão Kane (1941)

Último filme (como diretor): Don Quixote (lançado, mesmo inacabado, apenas em 1992, no Festival de Cannes)

Guilty pleasure (como diretor): Falstaff: O Toque da Meia Noite (1965)

Oscar: Dividiu em 1942 o Oscar de Melhor Roteiro por Cidadão Kane com Herman Mankiewicz e recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua carreira em 1971.

Frase inesquecível: “O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.” 

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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