O elenco é impressionante: duas vencedoras e outros quatro indicados ao Oscar estão reunidos, além de estrelas recentes dos palcos da Broadway e de grandes sucessos de Hollywood. No comando, no entanto, está um diretor desesperado para ter uma franquia para chamar de sua – Thor (2011) foi apenas OK, Operação Sombra: Jack Ryan (2014) foi um desastre, e Cinderela (2015), ainda que tenha sido o melhor dos três nas bilheterias, também ficou devendo em relação às expectativas (basta compará-lo com o recente A Bela e a Fera, 2017, por exemplo). Mas o pior, mesmo, são as mudanças em relação ao romance no qual se baseia. Primeiro, temos um prólogo tirado da cartola que busca apenas entreter o público, sem nada ajudá-lo à compreensão da trama prestes a se desenrolar. Depois, por mais que se tente ser fiel ao conceito básico de um grupo de pessoas reunidas num mesmo ambiente tendo que lidar com a morte de um deles, são tantos os elementos gratuitos inseridos de forma desajeitada no desenrolar dos acontecimentos que o mais grave a se perceber é a descaracterização do seu protagonista, o até então genial Hercule Poirot, que chega a ser vendido como herói de ação – perseguição por escadarias? Tiroteio num vagão de carga? – e perde sua característica mais importante: a perspicácia! Afinal, nesta versão de Kenneth Branagh, o infalível detetive chega a errar ao adivinhar o culpado, apontando, inicialmente, para uma resolução distante da original. E se algumas alterações são bem-vindas – Michelle Pfeiffer atinge com a sua personagem o que Lauren Bacall nunca conseguiu na versão de 1974 – este novo longa pode até funcionar como uma aventura passageira, mas não chega aos pés dos melhores momentos do longa de Sidney Lumet, quem dirá da engenhosidade percebida nos escritos de Agatha Christie.
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