Após dois dias ensolarados, o terceiro dia de programação oficial do 6th Paulínia Film Festival começou com chuva – e assim permaneceu até durante a noite. Um tom cinza para aquele que prometia ser o mais estrelado momento do evento até então – afinal, estava confirmada a presença da atriz Deborah Secco, que prometia acompanhar a primeira exibição do longa Boa Sorte (2014), de Carolina Jabor, selecionado para a mostra competitiva oficial. E assim foi: a estrela desfilou pelo tapete vermelho com ares de diva de Hollywood, levando fãs e curiosos ao êxtase. Como resultado, teve-se uma das sessões mais concorridas desta edição, com praticamente todos os lugares ocupados. A grande maioria estava ali, é claro, para ver a intérprete de perto. Porém o excelente filme apresentado compensou qualquer dedicação.
Carolina, filha do cineasta Arnaldo Jabor, estreia como realizadora com uma ficção que combina comédia romântica com drama psicológico a partir de um conto de Jorge Furtado. Apesar do protagonista ser o novato João Pedro Zappa (que está muito bem, aliás), quem de fato rouba a cena é Secco, que interpreta uma jovem HIV + viciada em drogas e internada em uma clínica de reabilitação. Boa Sorte é um filme bem humorado, que não tem medo de abordar temas mais sérios e pesados, mas sempre com leveza e num clima de fácil acesso. E a plateia parece ter percebido isso, visto os entusiasmados aplausos que foram ouvidos após o término da projeção. Temos aqui fortes candidatos aos prêmios principais, como Filme, Direção, Roteiro e Atriz.
Porém, antes dos longas da mostra competitiva, muitas outras atividades aconteceram durante o dia. O destaque da Seleção Internacional foi o infantil francês As Férias do Pequeno Nicolau (2014), divertida sequência do sucesso de 2010. Realizado pelo mesmo Laurent Tirard do longa anterior, agora acompanhamos as aventuras de Nicolau, uma criança cheia de imaginação, e sua família durante uma temporada na praia. Sente-se a troca do elenco infantil, mas no resto o mesmo clima de graça ingênua e iluminada se manteve, garantindo o bom resultado.
O Festivalzinho apresentou, apropriadamente, os longas O Pequeno Nicolau (para entrar no clima da continuação que seria projetada horas depois) e a animação nacional Minhocas (2011). Os curtas da mostra competitiva foram O Bom Comportamento (2014), de Eva Randolph, sobre adolescentes em uma colônia de férias que precisam ocupar o tempo livre longe da aparelhagem eletrônica moderna, e De Bom Tamanho (2014), de Alex Vidigal, sobre dois matadores de aluguel frente ao serviço mais difícil de suas vidas.
A noite terminou com o aguardado Castanha (2014), produção que teve sua estreia mundial do Festival de Berlim deste ano e vem angariando prêmios e reconhecimentos ao redor do mundo. Esta foi a primeira exibição no Brasil do longa dirigido pelo porto-alegrense Davi Pretto – completando aquela que poderia ser chamada de ‘noite gaúcha’ em Paulínia. Combinando ficção com documentário, tem-se como resultado uma obra escura, sombria, longe dos coloridos vestidos de noite que o transformista e ator João Carlos Castanha (o protagonista) costuma vestir em suas apresentações pelas noites de Porto Alegre em boates e inferninhos voltados para o público lgbt. Uma aposta corajosa, que não permite uma aceitação universal, mas que tem mérito inegáveis. É um filme que pode surpreender, confirmando a exitosa carreira que vem desempenhando até o momento.
(O Papo de Cinema é um veículo credenciado oficial do 6th Paulínia Film Festival)
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