Maeve Jinkings foi a grande musa-revelação do Festival de Brasília 2012. No ano passado, a atriz pernambucana esteve presente em nada menos do que três dos filmes apresentados na capital federal: Era uma vez eu, Verônica (2012), de Marcelo Gomes, e Boa Sorte, Meu Amor (2012), de Daniel Aragão, ambos na mostra competitiva de longas de ficção, e no aclamado O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, que teve exibição hors concours. Principalmente nos dois títulos possíveis de premiação, no entanto, suas participações eram muito pequenas, coadjuvantes. Ao contrário, felizmente, do que acontece em Amor, Plástico e Barulho, de Renata Pinheiro, em que a atriz aparece como uma das protagonistas, ao lado da também competente Nash Laila.
Este filme foi a boa surpresa da quinta noite de atividades do 46° Festival de Brasília. Selecionado de última hora – somente após o cancelamento da participação de A Estrada 47, de Vicente Ferraz – este filme chegou como um retardatário, e mesmo assim causou uma boa impressão após sua exibição na noite de sábado. Competente, bem realizado e com ótimos intérpretes, deve fazer bonito na noite de premiação.
Outro título que deve ser lembrado é o documentário Morro dos Prazeres, de Maria Augusta Ramos. Capítulo final de uma trilogia iniciada com Justiça (2004) e Juízo (2008), acompanha o dia a dia de moradores da favela citada no título, localizada no Rio de Janeiro, após a interferência de uma UPP – Unidade Policial de Pacificação – na comunidade. Com muitos silêncios, tranquilidades e cuidado com os detalhes, a diretora soube traçar um painel amplo e convincente, num resultado tão pertinente quanto o percebido em seus títulos anteriores.
Os curtas apresentados na quinta noite ficaram entre os curiosos e promissores. O Gigante Nunca Dorme, de Dácia Ibiapina, do Distrito Federal, ficaria nessa última categoria, caso tivesse sido mais ousado. O documentário se propõe a traçar um olhar sobre as manifestações sociais que tomaram conta do país nos últimos meses. Porém, ao invés de investigar suas diversas origens e repercussões, se contenta em uma única entrevista, de uma fonte isolada, como se fosse suficiente para ser reflexo de uma insatisfação nacional. Frustrante, no mínimo.
Altos e baixos apresenta também a animação Engole ou Cospervilha?, projeto coletivo produzido pela Marão Filmes. Marão, inclusive, é um dos oito diretores que assinam essa série de vinhetas unidas quase que aleatoriamente, carentes de uma unidade maior que as compreendesse. Em comum, um humor irônico e sarcástico, por vezes exageradamente escatológico, mas nunca menos crítico. Tem seus bons momentos – como a menina que insiste em vestir uma calça absurdamente justa e a trajetória de uma ervilha até seu destino final. Mas são poucos diante o que prometia.
É o contrário do interessante Todos Esses Dias em que sou Estrangeiro, de Eduardo Morotó, do Rio de Janeiro. Belamente fotografado em preto e branco, tem como protagonistas dois irmãos que trabalham como garçons em um bar-restaurante. Estamos na periferia, a família há muito ficou para trás e tudo o que se pode esperar é pelo amanhã. É um filme que deixa muitas elipses e questões não resolvidas, recursos eficientes em provocar na audiência a mesma situação enfrentada pelos personagens. O bom elenco defende com garra a história, que possui uma conclusão tão surpreendente quanto intrigante. Assim como o próprio festival, que promete excitantes novidades em seus últimos dias.
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