Sara Neves e Allan Ribeiro dividem o mesmo ambiente a maior parte do dia. Ele naquele espaço mora, ela é a doméstica que ali trabalha. Allan é cineasta reconhecido, premiado por longas como Esse Amor Que Nos Consome (2012) – Prêmio Especial do Júri da Associação Paulista de Críticos de Arte – e Mais Do Que Eu Possa Reconhecer (2015) – Melhor Filme na Mostra de Tiradentes. Aqui, no entanto, sai de cena, estabelecendo-se nos bastidores, para enfocar não Sara, mas tudo que ela é e representa. Ouvimos o discurso dessa mulher forte, trabalhadora, guerreira, que luta para não se perder no tempo ao mesmo tempo em que busca entender como suas convicções de ontem podem não mais ser válidas hoje. Essa confusão que enfrenta começou quando a filha anunciou: “para mim, chega de homem”. A homossexualidade da garota, surgida já no decurso de uma vida, após casamento e filho, deixou a mãe perplexa. Mas esse microcosmo é apenas um ponto de partida para uma discussão muito maior, que vai encontrar reflexos não apenas no dia a dia, mas também em esferas mais amplas e ambiciosas. Suas indagações, registradas com respeito e cuidado pelo realizador, fazem desse filme um exercício de observação e análise, em ambos os lados da tela. Afinal, quantos já não se pegaram pensando exatamente como ela? E o pior: sem o esforço de compreensão que a nossa protagonista aqui denota?
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