Quem pensa que se trata apenas de mais um galã jovem da novela adolescente Malhação (2013), está muito enganado. Hugo Bonemer tem se esforçado nos últimos anos para mostrar que é mais do que um rosto bonito. E depois de passar pelos palcos e de se defender também como cantor, ele, que estreou no cinema no sucesso Confissões de Adolescente (2013), agora está de volta às telas em dose dupla: além de ser um dos destaques do elenco da novela A Lei do Amor (2016), da Rede Globo, também empresta sua voz para o protagonista da animação Trolls (2016), ocupando o espaço de ninguém menos que Justin Timberlake (que faz o mesmo personagem na versão original em inglês). E foi sobre esse mais recente trabalho que o ator, músico e agora também dublador conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Hugo, como surgiu esse convite pra participar do Trolls? É tua primeira experiência como dublador?
É, é a primeira! O convite veio através de um teste. Fui chamado pela distribuidora nacional pra ser testado. Concorri com outros dois atores…
Especificamente pra esse personagem ou tu podia…
Não, já era pro Tronco. O pessoal já sabia que eu fazia teatro musical, né? Aí me testaram, quiseram experimentar se eu ia funcionar para o que esperavam. A DreamWorks também viu meu material e acabou me aprovando. É assim que funciona, tudo passa por Hollywood. São eles que definem tudo, que determinam as regras e o que esperar dos dubladores de cada personagem.
Como foi o teste? Foi complicado?
Nossa! Sempre amei animação, acho que todo mundo ama (risos). Não conheço uma pessoa que não adore, né? Então era um sonho fazer. O processo todo foi muito legal, pessoal atencioso, tudo feito com muito cuidado e carinho. E quando a DreamWorks lhe faz um convite, você não recusa, certo?
E o que achou do personagem quando viu o filme?
Só fui ver o filme agora, para o lançamento, em uma pré-estreia. Na hora da dublagem não temos essa oportunidade. Só sabia o que iria fazer, só tinha escutado, no máximo, uma ou outra pessoa que contracenava comigo, mas em inglês. Depois que terminei tudo é que fui assistir ao filme na íntegra, e no original. Somente ontem é que tive a oportunidade de ver a versão dublada pela primeira vez, com todas as dublagens e os arranjos e tudo. Foi uma grande emoção.
Como foi esse processo de dublagem? Era preciso ficar restrito ao roteiro ou havia, dentro desses limites, como improvisar um pouco?
Em algumas coisas dava pra brincar. A tradução já era excelente, mas, eventualmente, a gente tinha alguma ideia, de alguma coisa. Um bom exemplo foi o uso do termo ‘trollar’! O Hercules Franco, que foi o diretor de dublagem, amou isso, pois não tava no original. Ele perguntou: mas o que é trollar? E trollar tem tudo a ver com o filme, né? É algo do tipo: você tá me sacaneando? Você tá me trollando? E a gente começou a botar “trollar” no filme. Então aconteceram algumas situações assim, de poder sugerir um coisa ou outra.
Tem outros nomes forte no elenco de dubladores brasileiros. Um é o teu xará, o Hugo Gloss. Vocês chegaram a trabalhar juntos ou foi tudo separado?
As gravações foram todas separadas. Tanto eu quanto o Hugo, os dois Hugos nunca tinham dublado. A Jullie, que faz a Poppy, ela é dubladora há muitos anos, e dela é a voz de muitos personagens infantis que a gente conhece. A Moranguinho, a Smurffete, uma série de outros personagens de séries. Ela faz a Supergirl! Tá na dublagem há muito tempo, e você pode reconhecer a voz de outras pessoas que também participaram. Então, foi muito importante estar junto com um time como esse. Afinal, tirando eu e o Gloss, o restante é muito descolado no assunto e experiente.
De um tempo pra cá tem sido cada vez maior a participação de atores e rostos conhecidos nas dublagens. Recentemente teve o Festa da Salsicha (2016), por exemplo, com a turma do Porta dos Fundos. O que você acha desse crescimento?
Atores sempre participaram das dublagens internacionais. O Danton Mello, que é um baita ator, dubla o Leonardo DiCaprio desde o Titanic (1996), ou talvez até antes. O Marcos Caruso é outro que que já participou de várias dublagens. Sempre existiu esse intercâmbio. A questão é que existe uma galera da dublagem, uma da televisão, outra do teatro. O que posso falar é sobre minha experiência nesse momento. Fico feliz de poder experimentar veículos diferentes, porque são profissões que se complementam. É muito libertador você fazer um trabalho que não precisa se preocupar com a imagem. Ou seja, dane-se como tô parecendo! Se tô bonito ou não! Ninguém vai me cobrar isso durante uma dublagem.
Dá pra ir trabalhar de bermuda e chinelo?
Posso ir gravar de cueca, ou mesmo só de meia! Igual à Nuvem do filme. E é libertador isso, entendeu?
E no cinema? Como ator, tem alguma coisa em vista, algo que possa adiantar?
Tem muita coisa vindo por aí! Ano que vem estreia Minha Fama de Mau, que é um filme sobre o Erasmo Carlos. Faço um personagem chamado Bobby Darin, que foi um cantor americano, uma das inspirações do Erasmo na juventude. É uma participação relâmpago, sou um pôster na parede do Erasmo, que sai do papel pra trocar uma ideia com ele. Falo assim: pô cara! aprende uns acordes de violão, uns negócio aí… dou umas dicas pra ele. Dessa participação fui convidado pra fazer parte da trilha. Então, além dessa cena, tem músicas com minha voz no filme. Além desse, tem também um que vou filmar agora no final do ano que vai se chamar Ela é o Cara! Trata-se de um trabalho novo, uma comédia pro ano que vem.
Com quem?
Com a Thati Lopes! Sabe? Do Porta dos Fundos. Foi com quem acabei de trabalhar no Rock in Rio Lisboa, a gente abria os shows. Uma experiência muito bacana. E esse é o segundo trabalho que vou fazer com a Thati. Tô muito feliz! Ela é o máximo, muito legal trabalhar com ela.
Fazer parte do Trolls, que é um filme bem musical, foi um grande achado, né? Dentro do teu perfil, eu digo…
Cara, teve tudo a ver. Porque a música é o lugar que melhor me recebeu profissionalmente até hoje. Vivo da Música há muito tempo. E também da música dentro do teatro. Nunca enveredei pra uma carreira musical, como cantor, porque me sinto protegido atrás de um personagem. Falo que se for cantar pra uma pessoa não sai uma nota, mas se to atrás de um personagem, rola tranquilo, sabe? E aí fico feliz, porque tem tudo a ver com a minha carreira, com o que tem me acontecido. Nem vou falar que sou eu que to construindo ela desse jeito, porque a gente não planeja nada na verdade. Em geral, a música tá sempre presente pra mim.
E sobre o tema do filme, sobre como é importante cada um encontrar sua própria felicidade. Como você acha que o público vai receber essa mensagem?
Acho que o público vai entender que, pra você ser feliz, não precisa devorar a felicidade do outro. Basta se conectar com as outras pessoas e, através dessa sintonia, você encontra uma maneira de encontrar a felicidade. Outra mensagem que é muito clara é de que a felicidade não é algo que você engole. Não é uma comida, não é um excesso, um remédio e nem algo que se empurra goela abaixo, que vem de fora. Nutella é ótimo, né? Mas tem outras formas de felicidade (risos).
(Entrevista feita ao vivo em São Paulo em outubro de 2016)
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