Teo Gutiérrez Moreno estreou no cinema com o pé direito: seu primeiro trabalho já foi como protagonista do premiado Infância Clandestina (2012), pelo qual foi indicado como Ator Revelação na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina. O longa foi o grande vencedor da cerimônia de 2012, levando 10 prêmios, entre eles os de Melhor Filme, Roteiro e Direção, para Benjamín Ávila – ele próprio um estreante em longas-metragens de ficção. Infância Clandestina foi indicado também ao Goya – o Oscar espanhol – e premiado nos festivais de Havana, Huelva, Philadelphia e San Sebástian, além de ter sido escolhido como representante argentino na disputa por uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira – o que, infelizmente, acabou não acontecendo. Mas o sucesso da produção foi enorme, levando o garoto de apenas 14 anos a viajar com seu trabalho, vindo inclusive ao Brasil, onde teve essa conversa inédita e exclusiva com o Papo de Cinema. Confira!
Olá, Teo, tudo bem? Como foi a seleção para conseguir o papel de protagonista de Infância Clandestina?
Quando ia ao colégio primário, havia uma produtora que fazia programas para a televisão pública somente com crianças. Eles organizaram um casting geral, para todos os interessados em participar. Eu fui e conheci o Benjamin, que é o diretor do Infância Clandestina. Nessa nossa primeira conversa – e a minha mãe estava junto, pra não me deixar mentir – foi quando falou desse projeto que tinha em mente, que era ainda algo muito na ideia, nada concreto, mas que talvez eu pudesse me encaixar. O roteiro ainda estava sendo elaborado, ou seja, era muito no princípio. Acontece que fui selecionado para esse programa de televisão, e começamos a trabalhar juntos. Daí para o cinema foi um passo – um passo que levou dois anos, mas ainda bem que deu tudo certo no final.
Com quantos outros candidatos você teve que disputar esse papel?
Olha, isso não recordo, somente a produção pode dizer ao certo. Mas lembro que era muita gente, muitas crianças estavam interessadas nessa oportunidade. Qualquer um que lesse o roteiro ficava encantado. Foi uma grande sorte ter sido escolhido. Mas não foi nada fácil. Do meu primeiro teste até quando me ligaram para dar o OK de que havia sido o escolhido se passaram mais três meses! Foi muito sofrimento e espera (risos).
Como foi que você ficou sabendo que havia sido escolhido para o papel?
Ah, foi bem tranquilo, porque já havia se passado tanto tempo que nem estava mais preocupado. Achava que não tinham gostado de mim. Até um dia em que eu estava lá, em cada, jogando Playstation, tomando um refrigerante, fazendo nada demais. Daí o telefone tocou, minha mãe que atendeu e veio com a boa notícia. Eu não acreditei, foi um choque! Mas daí festejamos, fomos jantar fora, foi tudo muito bacana.
Como foi o processo das filmagens de Infância Clandestina?
Eu tive, durante todo o período das filmagens, uma coach, uma treinadora particular, a Maria Laura Berch, que me ajudou muito. Ela é a pessoa que prepara praticamente todas as crianças no cinema argentino, tem muita experiência. Foi dela a orientação de que eu deveria agir de um jeito próprio, e não como os demais personagens do filme. Não deveria ficar me escondendo, sempre preocupado, e sim agir como uma criança de verdade, que gosta e aproveita sua infância. Essa é o diferencial do filme. Claro, haviam restrições, mas o meu personagem também tinha amigos, tinha família, frequentava a escola… ou seja, era “quase” normal, como todos os outros, e assim deveria se portar. Mas sem nunca esquecer que o medo, que a guerra, que a violência estava na espreita, poderia surgir a qualquer momento. Era preciso encontrar o equilíbrio. Precisei sempre estar muito atento ao diretor e à Maria Laura, pois as orientações vinham dos dois, e foi através deles que desenvolvi meu trabalho de ator.
Os atores adultos, como Natalia Oreiro e Ernesto Alterio, são muito populares da Argentina. Como foi trabalhar com eles?
Foi espetacular. Todos foram muito prestativos, atenciosos, me ajudando a todo tempo. Tive muito apoio. A Natalia chegou a me levar para jantar na casa dela, conheci o marido, tivemos momentos muito próximos, de interação, mesmo. Foi possível conhecê-los melhor, fui vê-los também no teatro, tive uma aproximação. Eu é que cheguei receoso, achando que seria diferente, que eles agiriam mais como estrelas. Mas foi o contrário, houve mesmo essa proximidade. Eles passavam cenas até com os extras, era todo mundo junto, todo mundo igual. Isso gostei muito, me ajudou bastante.
Como foi encarar a responsabilidade de, já no seu primeiro filme, assumir a função de protagonista?
Sabe que não senti isso? Em nenhum momento tive essa preocupação. Estive sempre muito cercado de ajuda, eram tantos talentos envolvidos, e todos ali ao meu lado, me apoiando. O Benjamin, a Maria Laura, os outros atores, todo mundo foi muito generoso comigo.
Infância Clandestina foi o filme escolhido para representar a Argentina no Oscar 2013. A indicação acabou não saindo, mas todos os prêmios conquistados no seu país já representaram uma grande vitória, não?
Pois é, o filme foi muito mais longe do que esperávamos. É claro que fiquei um pouco triste com a não indicação, já estava esperando o convite para ir a Los Angeles e ver todas aquelas estrelas mais de perto (risos). Mas tudo o que ganhamos e conquistamos com esse filme – como, por exemplo, estar hoje aqui no Brasil – já nos deixou bastante felizes.
Se você tivesse ido ao Oscar, quem gostaria de ter encontrado?
Ah, tanta gente… os músicos, talvez. Mas gosto muito do Brad Pitt! Ele é um ótimo ator, gosto muito dos filmes dele! Tem também o Sean Penn, o Samuel L. Jackson… o Tarantino seria o máximo!
(Entrevista feita em Porto Alegre no dia 30 de novembro de 2012)
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