Jim Sturgess nunca esquecerá da primeira vez que viu Las Vegas. O jovem ator inglês estava voando desde o deserto de Los Angeles quando lhe chamou atenção a capital dos cassinos, que de certa forma seria sua nova casa pelas próximas seis semanas, durante as filmagens de Quebrando a Banca (21), novo longa do diretor Robert Luketic (Legalmente Loira, 2001).

Robert me chamou e disse: ‘quero estar ao seu lado quando você chegar em Las Vegas pela primeira vez para ver como será sua reação’, então nós voamos juntos”, explica. “Não sabia o que esperar. Estávamos voando sobre aquele vasto e belo deserto e, de repente, eis que surge Vegas, aquele extraordinário oásis no meio do nada, e é simplesmente maravilhoso. Foi alucinante!

E tem um momento no filme em que o meu personagem está olhando pela janela do avião quando vê Vegas pela primeira vez, e foi exatamente desta experiência que veio a minha interpretação. Rob usou a mesma reação. Meu rosto diz tudo – é fantástico!

O londrino de 27 anos mergulhou no universo de Ben Campbell, o líder de um grupo de estudantes altamente inteligentes do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology, ou Institulo Tecnológico de Massachusetts, uma das universidades mais disputadas e reconhecidas dos Estados Unidos). Eles usam um método complexo de ‘contar cartas’ para ganhar fortunas no ‘blackjack’ em seus passeios pelos cassinos de Las Vegas.

Basicamente, é um sistema onde um jogador senta na mesa do ‘blackjack’ (também conhecido como ‘21’, título original do filme) e começa a decorar mentalmente as cartas que já foram usadas. Quando uma mesa se torna “quente” – com poucas cartas sobrando, e a maioria de altos valores – ele alerta os demais amigos com sinais pré-combinados. O segundo jogador então se une à mesa e aposta alto, já sabendo que as probabilidades dele ganhar da casa são imensamente altas. E isso soa muito mais fácil do que realmente é.

“Eu tipo que entendi como isso funciona, mas simplesmente não consigo jogar!”, declara Sturgess sob fortes risadas. “Todos nós já tivemos esse problema da nossa matemática ser horrível e termos que usá-la rapidamente ao trabalhar com números. Tudo depende da velocidade da reação”.

Quebrando a Banca é baseado numa história real e Sturgess encontrou os estudantes verdadeiros, que atuaram como conselheiros no filme, incluindo Jeff Ma, que serviu de base para o seu próprio personagem.

Jeff foi o único do time que foi barrado de jogar ‘blackjack’ em qualquer lugar de Las Vegas. Se ele fizer, a tecnologia de reconhecimento facial dos cassinos irá identificá-lo em menos de 20 minutos, e ele será imediatamente cercado pelos seguranças, e será algo como: ‘Jeff, você sabe que não tem permissão para jogar aqui…’.

Ele é como uma lenda por lá e todos o conhecem. Certamente minha experiência ao lado dele foi extraordinária, ele recebe sempre um tratamento VIP, com todas as mordomias, e todos o adoram”.

Quando não estavam filmando, Sturgess e seus colegas de elenco iam às mesas de jogos em Vegas e, quando saíram da cidade, ele já era um vencedor! “Eu apostei e ganhei. É surpreendente, mas foi isso que aconteceu!

Alguns não foram tão bem, outros foram melhores, e fui um destes últimos. Estive muito pra baixo enquanto estávamos filmando. Era engraçado, porque todos os dias as pessoas entravam no set e me perguntavam ‘você está pra cima ou para baixo?’ E para alguns dizia ‘estou muito pra baixo…’

E então a nossa sorte simplesmente mudava. Quando saímos de Las Vegas eu realmente era uma das pessoas mais pra cima, o que nos faz sentir muito bem. Foi um bom momento para sair. Eu diria que estava ganhando trezentos ou quatrocentos dólares, o que já é muito bom. Teve momentos que estive perdendo milhares!

Ele admite que teve situações em que os limites entre seu personagem em Quebrando a Banca e sua própria vida social em Las Vegas se tornaram um pouco confusos. “Você está em Vegas ao lado de uma grande equipe e um elenco ótimo e todos nós aproveitamos o máximo!”, relembra.

E me lembro de pensar ‘Deus, os limites entre trabalho e diversão estão cada vez mais confusos. Eu não consigo mais controlar’. Então numa hora nós estávamos fingindo ter uma noite alucinante enquanto nós realmente tivemos uma noite anterior muito louca – e estávamos com as dores de cabeça para provar! Era como ‘Deus, eu preciso sair daqui’!

Sturgess está se confirmando como um dos mais quentes jovens atores do momento. Um talentoso músico que teve seu primeiro estouro interpretando ‘Jude’ em Across the Universe (2007), inovador musical passado nos anos 60 dirigido por Julie Taymor, que usava as músicas dos Beatles para contar uma emocionante história de amor.

Eu realmente me senti, quando consegui o papel, que tudo o que havia feito antes na minha vida havia me levado até aquela conquista”, diz. “E realmente foi fantástico ter participado de tudo aquilo”.

Em breve poderá ser visto ao lado de Eric Bana, Natalie Portman e Scarlett Johansson no drama de época A Outra (The Other Boleyn Girl), e há pouco terminou de filmar o thriller policial 50 Dead Men Walking, ao lado do Sir Ben Kingsley.

Filho do meio de três irmãos, Sturgess nasceu em Farnham, Surrey, nos arredores de Londres, e estudou na Universidade de Salford jornalismo e interpretação. Em Quebrando a Banca, aparece ao lado de Kate Bosworth, que interpreta uma colega estudante, e Kevin Spacey, como Mickey Rosa, o professor de matemática que recruta os estudantes mais geniais e os treina para o time de contar cartas. Spacey é também produtor do filme.

Sturgess relembra da primeira reunião de leitura – quando o elenco inteiro se reúne para ler o roteiro pela primeira vez – e como estava nervoso na ocasião, e como a colega Kate Bosworth o ajudou a se concentrar.

Isso foi uma coisa muito intimidante para mim porque foi o meu primeiro grande filme feito na América”, diz. “E ter que fazer o sotaque americano pela primeira vez na frente de um grupo de pessoas, sentado ao lado de Kevin Spacey e de Laurence Fishburne, foi muito tenso”. “E quando terminou Kate foi a primeira pessoa a vir na minha direção. Ela me encheu de confiança e foi muito atenciosa, do mesmo modo como foi durante todo o filme. Então nós dois instantaneamente nos entendemos e ficamos amigos”.

Luketic e Spacey também ajudaram o jovem ator a se ajustar em Vegas ao papel de Ben Campbell. “Eles dois foram muito prestativos”, diz. “E não poderiam ter sido melhores, Robert tinha uma visão fantástica para o filme e eu acho que ele fez um trabalho incrível”. Este espírito de atenção e compreensão ultrapassou os limites da tela e pode ser percebido nas performances, ele acredita.

Havia um sentimento muito jovem durante todas as filmagens, e Kevin era parte essencial disso. Ele é muito engraçado, sacana e divertido”, relembra entre risos. “Ele é perversamente engraçado. E todos os produtores eram hilários, eram tão malucos quanto todos os demais”.

Ali estava aquela sensação inovadora nos bastidores e acho que isso se reflete no filme. Era como um grupo de amigos fazendo juntos um filme muito louco. E tinha caos, claro, nós estávamos tentando contar uma história nestes cassinos com toda aquela loucura ao nosso redor”.

 

Você tem estado ocupado. Como Quebrando a Banca se encaixa dentre os teus outros trabalhos?

Eu terminei Across the Universe e permaneci em Nova York por um tempo. Across the Universe foi um grande projeto para se estar envolvido, como nada que havia feito antes. Nunca havia estado em Nova York, então essa foi uma experiência fantástica, também. Era quase como se não quisesse mais voltar para casa! Mas acabei voltando, para filmar A Outra. Enquanto estava nestas filmagens Robert Luketic entrou em contato para dizer que tinha um papel para mim em Quebrando a Banca. Ele tinha visto algumas das minhas cenas em Across the Universe.

 

E o que aconteceu em seguida?

Eu me lembro dele ter ido a Londres, me contado tudo a respeito, de ter lido o roteiro e de termos trocado algumas idéias. Ele é um cara muito legal, com idéias fascinantes sobre como contar uma história com um visual realmente interessante, e tudo começou a partir disso.

O seu personagem é baseado numa pessoa real?

Existe um rapaz, Jeff Ma, cuja história é usada no livro, e obviamente o filme é inspirado neste mesmo livro. Mas há tanto de novo no filme que lhe oferece uma nova narrativa, porque na vida real isso se prolongou por um período muito maior, e muito aconteceu com este cara. Então criamos algo mais do que apenas os fatos específicos que aconteceram com ele. Então muito do que o filme mostra realmente aconteceu com este cara. Ele era um estudante do M.I.T. assim como todos os outros.

 

O seu personagem tinha um motivo nobre quando ele se envolve no esquema, que era conseguir dinheiro para pagar os estudos. Isto foi real?

Isso é algo mais do filme do que da vida real. Isto lhe dava um propósito para ganhar tanto dinheiro. Mas acho que, primeiro, todos estavam adorando o fato de estarem ganhando tanta grana, assim como você também estaria, e isto era, afinal, apenas mais um motivo para ir até Vegas e aproveitar ótimos momentos. Segundo, era legal sentir toda aquela emoção. E terceiro, ganhar muito mais dinheiro do que qualquer um dos seus colegas de faculdade e amigos conseguiriam juntar trabalhando em livrarias ou restaurantes ou qualquer outra coisa que estivessem fazendo enquanto eram estudantes.

 

Você chegou a conhecer estes rapazes?

Sim. Todos eles. Ótimos rapazes. Estão todos ao redor dos 30 anos, atualmente. Creio que esta história aconteceu por volta de 1991, se não me engano. Nós modernizamos durante as filmagens. E você sabe, os times de contadores de cartas do M.I.T. ainda existem. É quase uma instituição por lá – isto começou antes dos nossos rapazes e continua até hoje.

 

Então esta é a sua primeira vez em Vegas e você está lá para participar de um filme. Deve ter sido uma experiência e tanto, não?

Foi alucinante. Eu me lembro como se todo o tempo em que estive em Vegas fosse como um fim de semana prolongado, e na verdade foram quase dois meses!

Vegas é um mundo muito estranho para se viver por um longo período de tempo?

Sim, com certeza. Teve um momento em que me dei conta de que não saía para tomar um ar fresco na rua já fazia quatro ou cinco dias! Lá é tudo tão grande, e há aqueles shopping centers conectados uns aos outros, com seus próprios climas, com nuvens e tudo mais, que você acaba acreditando que está na rua, mesmo quando você não está!

 

Você gostou de lá?

Sim, porque foi tudo tão extremo e diferente de tudo que conhecia. Mas claro que chegou um momento que estava rezando para sair de lá. Lembro de Kate (Bosworth) e eu nos olhando próximo ao término das filmagens e dizendo um ao outro ‘estamos ficando loucos!’. E o som, o barulho das máquinas nunca pára! Aquilo vai te deixando maluco! E tinha máquinas de jogos por todos os lados – até nos banheiros! A gente tentava se afastar daquilo – eu rezava por uma cerveja num pub! Venho de Londres, e tudo o que queria era me sentar num pub com uma cerveja e longe de toda aquela loucura. Até que achamos um bar irlandês em um dos cassinos, que era o mais próximo de um pub que se poderia conseguir por lá, e eles até tinham tortas de carneiro e tudo mais! Mas até lá estavam as máquinas de jogos. Não havia como escapar delas!

 

Qual jogo você mais se interessou?

Nós jogávamos apenas ‘blackjack’. Fizemos um pacto, e só jogávamos ‘blackjack’ o máximo que podíamos, porque isso serviria para o filme. Teve uma noite em que saímos juntos, bebemos alguns drinks e, você sabe, foi divertido. Começamos a jogar, e eu estava sentado ao lado de Aaron Yoo, que interpreta Choi no filme. Começamos a brincar e fingir que estávamos fazendo sinais com as mãos um para o outro, o que na realidade não fizemos, mas era na verdade mais um treino sobre como ser um time e tudo o mais. No primeiro dia após a leitura do roteiro em conjunto – nós havíamos recém nos conhecido – saímos para jantar e acabamos indo jogar até o amanhecer. Foi uma ótima experiência que nos uniu ainda mais.

 

Você já havia jogado antes?

Nunca. E nunca tinha sequer estado em um cassino. Eu me lembro de quando cheguei em Vegas pela primeira vez, antes de todo mundo. Ficava caminhando por lá, espantado e maravilhado com aqueles cassinos grandiosos, onde você tem que se sentar numa mesa junto a um monte de gente que desconhece. Eu me lembro de chegar e dizer: ‘me desculpem, sou inglês, tenham paciência comigo…’ e todos foram muito simpáticos, me ajudaram, e uma vez que você entende o que está acontecendo, tudo fica mais fácil e divertido.

Como foi a reação dos cassinos?

Foi algo confuso. Mas creio que eles são espertos o suficiente para saberem que contar cartas é algo quase impossível e que a atenção que o filme irá despertar irá levar várias pessoas até lá para tentar e falhar miseravelmente (risos)! Então acho que eles só viram tudo como mais uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, como sempre fazem. Qualquer filme que mostre esta atividade como algo agradável e atraente só será bom para Vegas. E especialmente do jeito que Rob filmou – ele fez o contar cartas parecer tão excitante e tão divertido! Com certeza terão grupos de pessoas que apenas querem jogar cartas e buscar aquele estilo de vida. É engraçado, mas você vê todos aqueles aviões saindo de Vegas, e todas aquelas pessoas que trabalharam conosco no filme, como consultores e experts em ‘blackjack’ e em cassinos, diziam: ‘lá se vão mais alguns milhares de dólares’!

 

O que desengatilhou todos estes incríveis filmes que você tem participado?

Julie Taymor, que me descobriu para Across the Universe. Houve audições abertas para o filme em todos os lugares: Nova York, Los Angeles, Londres, Liverpool, Manchester, Irlanda… ela percorreu um longo caminho. Não sabia muito quando fui até uma destas audições. Eu era apenas um ator em Londres e também um músico, então costumava estar em uma banda. Fui até lá com a mente completamente aberta e limpa. Tudo o que sabia é que seria um musical sobre os Beatles, o que considerava uma péssima idéia, mas fui até lá só para ver o que aconteceria. Sou um grande fã dos Beatles, e por isso não gostei nada da idéia de um musical sobre eles. Não sabia como isso seria tratado, e vi que era algo que precisava ser muito bem cuidado – e que mesmo assim iria despertar as mais diversas reações.

 

É engraçado como estes dois talentos, a música e a atuação, acabaram convergindo…

Sim, impressionante. Parecia que tudo que havia feito até então havia me conduzido até aquele momento. E eu precisava estar dentro. Então saí da audição com a ingênua certeza de que tudo havia dado certo, mesmo não sabendo ao certo do que havia acontecido. Ignorância foi uma bênção naquela situação. Julie não estava lá, era apenas um cara com uma câmera filmando aquelas centenas de pessoas que haviam aparecido – era algo como um teste para o Big Brother ou para o American Idol, algo do gênero.

O que você interpretou? Ou cantou?

Eu havia levado minha guitarra, o que mais ninguém ali tinha, e toquei Something e Revolution. Saí dali acreditando que nunca mais ouviria nada a respeito daquele encontro, mais ou menos como acontece toda vez que você sai de uma audição. Mas Julie deve ter visto algo naquela fita que lhe interessou. Então fui chamado novamente, e desta vez para interpretar algumas falas, com o sotaque de Liverpool. Fiz mais algumas cenas. Até que recebi um telefonema que dizia ‘eles querem que você vá até Nova York se encontrar com a diretora Julie Taymor’. Eu fui até lá, fiz alguns workshops com Julie, voltei para casa e duas semanas depois ela me ligou e disse: ‘quero que você seja Jude’. Foi maravilhoso!

 

E você soube que aquilo mudaria sua vida para sempre…

Sim, 100 por cento. E era algo que queria tanto naquele momento. Havia passado por alguns momentos bem difíceis nos anos anteriores, que aquilo foi quase como ‘por favor, me dê este papel, por favor, eu sou perfeito…’. Eu realmente achava que estava dando muito duro, sem nenhum reconhecimento até aquele momento. Doei todo o meu sangue, mente e corpo para a banda, e aquilo foi um grande fracasso. Então ser escolhido foi uma grande oportunidade, e serei eternamente grato à Julie por ter acreditado em mim!

(tradução e adaptação de Robledo Milani)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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