Gary Alazraki se formou na Escola de Cinema e Televisão da Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles, em 2001, e em seguida retornou ao México para trabalhar como assistente de direção em publicidade. Logo estava comandando seus próprios trabalhos, e três anos depois já era dono de sua produtora. Escritor e diretor de curtas-metragens que circularam por mais de trinta festivais por todo o mundo, ele estreou em longa-metragem com a comédia Los Nobles: Quando os Ricos Quebram a Cara (2013), um impressionante sucesso de público que quebrou recordes de permanência em cartaz em seu país. Foi sobre este filme, que está entrando em cartaz agora no Brasil, e sobre as diferenças entre os cinemas brasileiro e mexicano que o diretor conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Los Nobles é o seu primeiro longa-metragem. De onde veio a inspiração para a história?
Na verdade, na época eu estava escrevendo um roteiro sobre uma garota egoísta no colégio que precisava se esconder nos inimigos de seu pai na vila onde moram seu chofer e babá. Durante esse período afastada, ela acabava ficando amiga de um grupo de guias de caminhadas que lhe ensinam, às duas penas, a ser mais generosa. Então, o que estava claro é que precisava de um filme que fazia referência sobre crianças ricas e mimadas que aprendiam a serem humildes através do trabalho. Sabendo disso, meu mentor, Simón Bross, me emprestou o segundo filme de Luis Buñuel feito no México, El Gran Calavera (1949). Após assisti-lo, disse para mim mesmo: “aqui tem um filme”! Então tirei a primeira parte da história e me concentrei apenas na segunda parte. Isso levou dois anos, até que consegui levantar o dinheiro suficiente para tornar o filme realidade!
Como sua experiência anterior como curta-metragista lhe ajudou na realização deste novo projeto?
Aprendi a me mover nos sets de gravação dirigindo comerciais para a televisão. Mas os curtas-metragens me ensinaram a dar visibilidade ao meu trabalho, principalmente por poder apresentá-los pessoalmente em festivais. Quando, com muito orgulho, levei meu segundo curta, Volver, Volver (2005), ao Festival de Guadalajara, muitos gostaram por ser uma história leve e divertida. Até que um rapaz veio me perguntar afinal qual era a minha intenção em fazer uma curta que se parecia com uma telenovela? Isso me doeu muitíssimo e a partir daí comecei a aprender a impor uma distância entre o meu trabalho e como o público o recebe. Fui aprendendo a definir para quem e por que conto histórias.
Como foi a repercussão que Los Nobles teve junto ao público e a crítica no México?
Altamente positiva! O comentário geral era de que as pessoas sentiam falta de rir com o nosso próprio cinema. Estavam ansiosas por um cinema generoso e inclusivo que os fizesse participar da experiência cinematográfica como um todo.
O roteiro de Los Nobles foi indicado ao Ariel, o mais importante prêmio da indústria cinematográfica mexicana – é o Oscar do México. O que um reconhecimento como esse representa para a sua carreira?
A verdade é que nunca esperei que algo assim pudesse acontecer. Nem passava pela minha cabeça que pudessem lembrar de mim e do meu trabalho. Esse é o tipo de premiação que geralmente se direciona a um cinema mais sofisticado, então fiquei muito feliz por terem me incluído. Me fez sentir que também fui reconhecido por ter feito uma comédia elegante.
Como você imagina que o espectador brasileiro verá uma história como a de Los Nobles?
Mais ou menos como a versão cômica do cinema brasileiro que chega ao México. Cidade de Deus (2002) nos fascinou porque nos permitiu perceber as muitas semelhanças e diferenças entre México e Brasil. Espero que Los Nobles provoque o mesmo sentimento entre vocês.
Quais são as principais diferenças entre o cinema feito no Brasil e o que se faz no México?
Além do idioma, não vejo muitas diferenças entre as nossas expressões cinematográficas. Ambos somos feitos com dinheiro estatal e algum investimento das distribuidoras; ambos praticam um cinema de gênero e também um outro um pouco mais sofisticado; ambos produzem títulos que cruzam fronteiras e outros tantos que não; ambos possuem autores internacionais e outros locais. Enfim, ambos representam suas culturas fielmente.
(Entrevista feita por email em 13 de novembro de 2014)
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