Thalita Carauta não é nenhuma novata – mas também está longe de ser uma veterana. A artista está naquele ponto gostoso de sua jornada que, apesar de já ter se consagrado entre o público e obtido o respeito da crítica, cada novo passo é uma aventura que se abre diante de si. Como a comédia Duas de Mim, que chega agora aos cinemas e marca sua primeira experiência como protagonista no cinema. Depois de ter participado de novelas como Páginas da Vida (2006) e Três Irmãs (2009) e de seriados como A Diarista (2005-2007) e Zorra Total (2011-2015), desde sua estreia na tela grande em A Mulher Invisível (2009) ela tem investido cada vez mais no cinema. Após ter conquistado o Grande Prêmio de Cinema Brasileiro – o Oscar da produção nacional – como Melhor Atriz Coadjuvante por sua participação no thriller O Lobo Atrás da Porta (2013), ela esteve no sucesso S.O.S.: Mulheres ao Mar (2014) – que ganhou uma continuação em 2015 – e agora está de volta sob os holofotes como Suryellen, a garota do subúrbio que precisa se virar para manter a casa até que, num passe de mágica, ela literalmente de duplica. E foi sobre esse mais recente trabalho que ela conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Olá, Thalita. Como surgiu essa oportunidade de viver tua primeira protagonista no cinema?
Isso é coisa da Cininha de Paula, a diretora. Na verdade, foi ela que me fez o convite. Fiquei super feliz, ainda mais por ser esse o primeiro longa dela. Imagina só, que responsabilidade! Só que foi assim, ela me convidou, achei que poderia ser muito legal, mas fiquei na minha, pois tinha que ler o roteiro antes de dizer qualquer coisa, certo? E somente após ao convite e que fui ler, torcendo muito para gostar, porque seria muito chato se tivesse que dizer “não”. Nossa, e que surpresa. Pensei “caramba, é exatamente isso que quero fazer”! Achei muito bacana, muito legal, fiquei feliz de ter sido um convite para uma história que eu quisesse muito falar. Não era uma cilada, algo que pudesse ir contra ao que penso, entende? Virou uma paixão, que veio num momento muito especial para mim. Este é um filme que fala muito dessa mulher de hoje, que mora na zona norte, no subúrbio, trabalha bastante, tá sempre na luta e não tem folga. E poder falar esse tema, ainda mais nos tempos em que estamos vivendo, é muito enriquecedor. De certa forma, é a nossa maneira, enquanto artista, de ajudar nessa questão. Foi um presente que recebi.
A Suryellen vive da gastronomia. Essa é uma atividade que te interessa? Você gosta de cozinhar?
Nossa, sou um desastre (risos). Mas, você sabe, depois do filme isso meio que começou a mudar em mim. Na minha família – e não só minha mãe, mas todo mundo mesmo, eu sou a exceção! – todo mundo cozinha muito bem, só que eu nunca tive gosto. Mas depois de ter participado deste filme comecei a criar certo gosto, meu interesse foi aumentado. Receita é uma coisa matemática, né? Tá tudo ali escrito, basta seguir o passo ao passo. Então, foi desmistificando esse universo para mim. Hoje em dia até me arrisco um pouco, então volta e meia até me arrisco com um macarrão, um molho de carne moída (risos). É um processo, né? Você vai amolecendo, um pouco a cada dia. Hoje, pegando a receita e fazendo tudo direitinho, até me arrisco. Mas é uma coisa que, para fazer, tem que gostar, e assim é com tudo na vida, pois é desse interesse que vem a facilidade.
Uma das grandes sacadas do Duas de Mim foi a presença do Latino, interpretando um cover dele mesmo. Como foi trabalhar com ele? E o melhor, tu já conheceu covers da Thalita Carauta?
Cara, já encontrei cover da Janete (N.E.: a personagem que ela interpreta no humorístico global Zorra)! Da Thalita, não, mas da Janete tem muito. Ter uma personagem tão popular, que viralizou desse jeito e motiva as outras pessoas a querer imitar, é especial. Já com o Latino, foi ótimo. Ele mesmo se surpreendeu com como foi fácil para ele, pois ficou muito à vontade, se divertia muito. É um querido, um cara que não tem nada de estrela, que chega junto, troca papo, tá sempre contando piadas. Ele foi fundamental para termos um set inteiro disposto a fazer o melhor de si. Tínhamos um grupo muito bacana. Trabalhar com humor puxa uma energia muito boa, e isso coloca todo mundo para cima.
Qual a maior dificuldade que você enfrentou durante o Duas de Mim? Como foi contracenar contigo mesma?
É, teve uma parte técnica bem difícil, que exigiu bastante. As filmagens até que foram tranquilas, mas não dava para bobear, tinha que estar muito atenta. Era preciso fazer tudo certinho, cada coisa em seu determinado momento, a câmera não podia mexer… era tudo muito programado. Em paralelo a isso, havia ainda a construção de cada personagem, pois, afinal, eram duas mulheres que eu estava interpretando, e aos poucos vamos descobrindo o quão diferentes elas são entre si. Então, fica delicado. Contracenar consigo mesma mexe no ritmo do humor, é preciso usar muito da imaginação, não só a nossa, mas também contar com a do espectador. Com certeza, é preciso muita concentração. Não tenho dúvidas de que esse foi o trabalho que me mais exigiu até hoje.
Duas de Mim é uma comédia, gênero em alta no cinema brasileiro. Mas o que esse filme apresenta de diferencial dentre tantos outros exemplares que tem chegado às telas recentemente?
Acho que o mais importante a respeito desse filme é que ele tem uma história pra contar, e não é uma bobagem, algo descartável. Sabe, estamos falando de algo muito sensível, também. As pessoas que forem assistir ao filme vão rir, com certeza, mas vão também se emocionar, vão chora. O que estamos contando aqui toca numa identificação, e mesmo aqueles que não são mulheres, que não tem a mesma experiência dela, vão entender. Tem isso da jornada dupla, de ter que se virar para sustentar a família, de morar em lugar longe, de difícil acesso, onde tudo é mais difícil. O filme vai por esse caminho, ri de situação engraçadas, mas a tragédia também está muito perto. Representa muito bem estes dois lados.
Apesar de ser uma das comediantes mais populares do Brasil, você foi premiada no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro por um drama. Comédia ou drama, o que te dá mais prazer?
Acho os dois difíceis, pra falar a verdade. Não faço essa divisão entre um ou outro, não chega a ser uma escolha consciente. Nunca escolhi fazer humor, por exemplo. Mas, quando você está começando na carreira artística e está aberta ao que aparece, é mais fácil seguir por esse caminho. Afinal, já há um mercado aberto, mais amplo, com maior aceitação. As pessoas consomem mais humor, tanto no cinema como na televisão ou no teatro. E foi onde comecei, nos palcos, fazendo as pessoas rirem, e uma coisa vai emendando na outra, um trabalho chama o outro… enfim, nunca planejei. Talvez essa mudança seja mais para o público, que pode pensar “nossa, mas ela era tão engraçada, como está séria agora”. Eu, no entanto, sempre pensei em fazer de tudo. Então, nunca senti essa divisão, do humor para o drama. Já o público, com certeza, levou um choque, o que foi bom também, pois chamou a atenção! Serviu para isso, para mostrar esse meu outro lado.
Duas de Mim também representou a estreia da diretora Cininha de Paula no cinema. Como foi trabalhar com ela?
Foi maravilhoso. A Cininha é uma amiga muito querida, esse filme foi apenas mais um passo na nossa parceria. Ela sabe muito o que quer, e isso é muito importante, pois te dá segurança. De todos os profissionais que já trabalhei, talvez ela tenha sido uma das mais precisas, senão a mais objetiva de todos. É alguém que sabe exatamente o que está buscando, e consegue transmitir isso ao ator de forma muito clara. Ela é certeira, e estar sob o comando dela nesse filme foi maravilhoso. Ela é uma pessoa incrível, e a nossa parceria vinha de antes e continuou depois – semana passada fomos ao Rock in Rio juntas! É uma mulher que admiro muito.
Você vê diferenças entre trabalhar com diretoras ou diretores?
Acho que, na verdade, não. Graças a Deus, estamos vivenciando de uma mudança, as pessoas se estão se conscientizando cada vez mais. O diretor não deixa de ser um chefe, por exemplo, e não importa se é homem ou mulher, o importante é ter respeito, estar atento às responsabilidades de cada um. Nunca percebi essa diferença pelo gênero. Em potencial, todo mundo é capaz de ser sensível, ser eficiente, independente se é homem ou mulher. Nunca presenciei nenhuma diferenciação, nunca.
Se você pudesse dar uma mordida em um bolo dos desejos, o que pediria?
Ah, mais amor, por favor! Com certeza seria isso!
(Entrevista feita por telefone em setembro de 2017 direto do Rio de Janeiro)
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