Leonardo Brício definitivamente não aparenta seus quase 50 anos de idade e trinta de profissão, mas a longa lista de trabalhos na televisão e no teatro denunciam essa longa jornada. Mas ainda falta algo em sua carreira, e essa carência está no cinema. Durante todo este tempo, o ator carioca nascido no dia 07 de julho de 1963 participou de apenas dois filmes, Uma Escola Atrapalhada (1990), com Os Trapalhões, e As 12 Estrelas (2010), de Luiz Alberto Pereira, em que interpretava o protagonista, um astrólogo que se envolve com doze mulheres diferentes, uma de cada signo. Esse filme, lançado no Festival de Paulínia, teve uma passagem discreta pelos cinemas e conta ainda com participações de Paulo Betti, Claudia Mello, Debora Duboc, Cássio Scapin, Mylla Christie, Leona Cavalli, Rosanne Mulholland, Silvia Lourenço e Djin Sganzerla. E enquanto não surge uma nova oportunidade na tela grande, Brício segue se dividindo entre a telinha e os palcos, onde será possível vê-lo em Porto Alegre neste fim de semana, quando estará apresentando As Conchambranças de Quaderna, premiada peça de Ariano Suassuna. Foi sobre estes trabalhos que conversamos nessa entrevista exclusiva para o Papo de Cinema!
Em As Conchambranças de Quaderna, todo o elenco interpreta dois personagens. Você é a única exceção, pois faz o protagonista. O que faz de Quaderna um personagem tão especial?
O Quaderna que apresento tem um pouco do personagem visto em A Pedra do Reino, mas aqui ele tá muito mais completo, mais exposto. Ele é um mestre de cerimônias, um narrador que conduz o enredo por duas histórias que acontecem no ambiente de trabalho dele, que é um cartório. O Quaderna é um somatório do João Grilo e do Chicó, os dois protagonistas de O Auto da Compadecida, os personagens do Selton Mello e do Matheus Nachtergaele no filme. Mas tem um lance bacana na virada da primeira pra segunda história que também me ofereceu uma oportunidade de criar um outro tipo, pois o Quaderna resolve se disfarçar de Diabo pra aplicar um golpe. Então faço o Quaderna e o Quaderna se passando pelo Diabo. É muito bacana.
As Conchambranças de Quaderna está em cartaz há anos pelo Brasil, e retorna a Porto Alegre pela segunda vez. Porém é a primeira vez contigo como o protagonista. Quais as suas expectativas em relação ao público gaúcho?
Eu adoro o Theatro São Pedro, já estive com várias peças neste teatro, e sempre me dá um prazer enorme me apresentar aí. Então não é bem assim uma novidade pra mim. A diferença é que agora irei como o Quaderna, que é um personagem muito querido e que me dá muito prazer representar. E tem também o fato desse texto ser tão envolvente, tão importante. É um dos textos clássicos do teatro nacional. E se apresentar com ele num dos mais importante palcos do país, é incrível. Há poucos teatros assim pelo Brasil, como em João Pessoa, em Recife, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre! E por fim tem também que estamos no final da turnê, faltam ainda poucas cidades para nos apresentarmos. Então é quase como fechar com chave de ouro.
Apesar da tua longa carreira na televisão e no teatro, tens poucas participações no cinema. Atuar nestes dois meios é muito diferente?
Pois então, a minha relação com o cinema é bem complicada. Eu amo o cinema, adoraria ter feito mais. Quem sabe um dia? Mas faço televisão há trinta anos, estive muito ocupado com ela por muito tempo. E o teatro é uma coisa mágica, difícil de explicar. Essa peça, em especial, é muito circense, muito mambembe. Os personagens possuem características muito fortes, são tipos construídos pelo Ariano Suassuna para pontuar bem suas funções. Como é um texto muito ágil, uma peça muito rápida, é importante essas marcações, até para facilitar o entendimento do público. Isso é algo que não existe no cinema, que tu pode parar, voltar, começar de novo. A forma de relação com o público é completamente diferente.
Em 2010 você esteve como protagonista do filme As 12 Estrelas. Como foi essa experiência?
(risos) Bom, não posso considerar o As 12 Estrelas como minha estreia no cinema, porque há muito tempo participei do Uma Escola Atrapalhada, e se nem o Selton Mello tirou esse filme do currículo, quem seria eu para fazer isso? Mas com os Trapalhões foi uma brincadeira, uma diversão. Não teve reflexos futuros. Com o As 12 Estrelas foi diferente. Eu queria fazer algo legal, algo bonito. E infelizmente não foi o que aconteceu. Sendo sincero, não fiquei nada feliz com o resultado do filme. Não que ache meu trabalho ruim, no geral eu gosto. Tem uma ou outra cena que deveria ter sido feita diferente, mas o problema é o filme por completo. Tem muita coisa errada ali.
Por que você fez tão pouco cinema?
Sempre que me chamavam eu estava envolvido com a televisão. E a tv consome muito tempo. Também tem aquilo de você querer fazer um papel legal, não só uma pequena participação. Cinema é algo que fica, que permanece. E como cinema toma muito tempo, levam-se anos para um filme ficar pronto, as apostas precisam ser certeiras. Assim acaba escolhendo sempre os mesmos atores. Agora é o Wagner Moura, o João Miguel… tem o Milhem Cortaz, que tá em tudo que é filme, mas já foi o Murilo Benício, o Marcos Palmeira. Tem atores que fazem dois, três, cinco filmes por ano, e outros que não conseguem fazer nenhum. E não por serem ruins, porque se eu fosse ruim não teria feito tanto teatro e televisão, por exemplo. Acho que é mais por não conhecerem. Quando fui convidado para fazer o As 12 Estrelas tinha recém acabado uma novela, e parecia o momento certo. Mas o projeto é que tava errado.
Quais foram os principais problemas em As 12 Estrelas?
Tudo, eu acho. É um filme que no papel, no roteiro, quando li pela primeira vez, era um, e agora, pronto, na tela, é outro completamente diferente. E tem também o fato do cinema ser uma arte muito coletiva. Acontecia de eu ler determinada cena, ensaiar de uma forma, e quando chegava o momento da filmagem o diretor de fotografia pedir algo completamente diferente. Faltou uma mão mais forte do diretor para dar um norte ao processo. Daí a coisa virava outra bem distante do que havia sido planejado.
Ainda mais que você era o protagonista da história. O processo foi complicado?
Cinema, pra mim, em As 12 Estrelas, foi um grande desafio. Acho que aprendi muito. Porque cinema é algo que precisa de ajuste, de revisão. E é importante ter um foco muito definido, pensar sempre no todo, porque vamos fazendo como um quebra-cabeças, tudo aos poucos, sem continuidade. Depois é que é montado. Se há algum ruído entre o elenco e a direção, isso precisa ser resolvido. Do contrário o estrago pode ser enorme e só será percebido muito lá na frente. Quando olho o filme agora percebo os erros, vejo que muita coisa ficou diferente. Mas não dependia de mim, eu era apenas uma engrenagem no processo. E quando a engrenagem está solta, sem ser direcionada, a concepção é outra. Não gosto do filme, mas foi válido. O próximo será melhor.
Entrevista feita por telefone no dia 21 de maio de 2012.
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