Danton Figueiredo Mello se tornou conhecido primeiro como o irmão caçula de Selton Mello, mas há muito tempo deixou de lado a questão familiar para se firmar como um dos jovens talentos nacionais. Nascido no interior de Minas Gerais, na cidade de Passos, em 29 de maio de 1975, começou a aparecer ainda criança, na televisão, em novelas (a primeira foi A Gata Comeu, 1985) e seriados. O cinema veio um bom tempo depois, quando participou de Benjamim (2003), ao lado de Cleo Pires e Paulo José. Neste meio tempo, se tornou uma das vozes mais conhecidas do Brasil ao dublar personagens de Leonardo DiCaprio (Titanic, 1997), River Phoenix (Indiana Jones e a Última Cruzada, 1989) e Corey Feldman (Os Goonies, 1985), entre outros. Depois de participar de vários projetos na tela grande – alguns como coadjuvante (como o premiado O Palhaço, 2010) e outros que nem chegaram a ser lançados (O Preço da Paz, 2003, e Ouro Negro, 2009), ele agora marca presença como protagonista como um dos principais candidatos a campeão de bilheteria do ano, a comédia Vai Que Dá Certo, de Maurício Farias. E foi sobre este projeto, sobre a carreira e sobre uma possível parceria com o irmão que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Como veio o convite para participar de Vai Que Dá Certo?
Pois acho que fui o último a entrar no projeto. O Mauricio tinha a ideia de fazer esse filme há uns 2 ou 3 anos, senão me engano. Mas nunca saía por causa de grana. Foi há pouco que conseguiu ser viabilizado. Com essa espera, houve muito tempo para que o projeto fosse sendo estruturado. O roteiro foi muito bem trabalhado, ao lado do Fabio Porchat, que além de atuar também colaborou na história. Era preciso ser cômico, mas através das situações que os personagens vivem, e não uma graça gratuita. Nosso objetivo sempre foi valorizar a trama que estava por trás. O filme começou muito pequeno, de baixo orçamento, feito em apenas 5 semanas, no interior de São Paulo. Pra mim foi um desafio até pela própria questão de comédia, que era uma novidade para mim. Comecei a fazer graça no teatro, no cinema esta é minha estreia no gênero. Mas ninguém tava esperando muita coisa, foi só depois do filme pronto é que ele adquiriu as proporções de agora.
O que mais lhe atraiu neste projeto?
Na verdade, foram vários motivos. Quando tomei contato pela primeira vez com o Vai Que Dá Certo a ideia estava concebida, mas não haviam sido elaborados os diálogos, até algumas situações precisavam ser desenvolvidas. Era algo muito geral, um conceito apenas. Entendia estes jovens, que estavam sem espaço na vida, no mercado de trabalho, e percebi um potencial grande nessa comédia de erros. Trabalhar com o Mauricio era algo que queria muito, assim como com o Lucinho, o Bruno e a Natalia. Estes são atores que conheço desde criança, foi muito bom estar ao lado dessa turma.
Mas do convite à realização as coisas foram mudando com a sua participação, não?
Pois é, essa foi uma coisa engraçada. Fui convidado, na verdade, para o papel do Bruno Mazzeo, o do deputado. E isso ainda foi depois, pois na ideia original esse personagem nem existia, foi introduzido depois. Com o atraso das filmagens, no entanto, o Bruno teve problema de datas, já estava comprometido com outros projetos. E a solução que surgiu foi invertemos os papéis. Foi ali, durante a leitura, na mesa, no ensaio geral, é que virei o protagonista.
Mas este não é o foi o seu primeiro protagonista. Como é lidar com esse tipo de responsabilidade?
Posso afirmar que, ao menos no cinema, este foi o meu primeiro protagonista. E veja só, logo de cara numa comédia. Quando veio a oportunidade da troca, comecei a transformar esse novo personagem para deixá-lo do meu jeito. Eu me coloquei no lugar dele, e como estava rodeado de pessoas que admirava, tratei logo de aprender com eles. Queria jogar junto com a turma, aprender com eles. O Rodrigo é o líder, aquele cara que conduz os outros, é nele que os espectadores precisam acreditar. E o Maurício apostou nisso comigo, nessa aposta de fazer pequeno, com ele crescendo aos poucos, ao mesmo tempo em que abre espaço para os que estão ao redor dele. Foi assim que consegui fazer do Rodrigo o cara que guia a história e, assim, me divertir junto.
Ao seu lado estão grandes nomes da comédia nacional atual. Foi difícil manter um equilíbrio para o filme não se transformar em um besteirol?
Foi a mão do Mauricio Farias que segurou todo mundo. E acho que tenho uma participação também, pela maneira que conduzi o Rodrigo. Se me comportasse como apenas mais um, só preocupado em fazer piadas, talvez o filme tivesse virado mesmo um besteirol total. Mas o Rodrigo é pé no chão, essa foi minha preocupação constante. Com isso, acabei dando o tom do filme, o que foi muito bacana. Todos me apoiaram, era “o Danton é o líder”(risos). Nos divertimos com a situação. Não tinham caretas, exageros, as próprias situações já eram engraçadas, e é isso que faz com o público acredite.
Outro fator curioso é a personagem feminina, que aparece como “mais um dos rapazes”. Apesar de haver um interesse romântico no filme, ele nunca é o foco da trama. Essa é uma proposta bem diferenciada, não?
Foi uma ideia do Mauricio e dos outros roteiristas. A Natalia Lage era quase um dos meninos, que se envolve por acaso no golpe que eles estão armando. Ela vai ver o Rodrigo tocar, e quando percebe esta no meio deles, entra na onda e joga junto. No trabalho de mesa, de leitura do roteiro, já percebemos que ela e eles estavam em conjunto. A história se passa na periferia de São Paulo, mas poderia ser em qualquer lugar do Brasil. Foram duas semanas de preparação, com o Mauricio e com a Maria Silvia, que é uma ótima profissional e que foi a responsável por nos transformar de cariocas em paulistas! Todos arriscaram, saíram de suas zonas de conforto, e o diretor ia podando, nos guiando pelos melhores caminhos. Ele que ia nos lapidando. Nossa preocupação era de que não ficasse caricato, sem exageros.
Como foi o trabalho com os demais integrantes do elenco?
Todos já haviam trabalhado juntos – Lúcio, Bruno, Fábio e Gregório, principalmente. Sou muito amigo do Lucinho, há um bom tempo, e foi importante tê-lo como meu parceiro, na trama, me conduzindo junto. Essa oportunidade de trabalhar com ele, de compor junto, de um trocar com o outro, fez toda a diferença. Era ter do meu lado alguém que respeito, que já era mais próximo de mim. Ficamos todos muito unidos, um grupo bacana, filmando fora do Rio de Janeiro, com entrosamento e confiança mútua.
E com o diretor Maurício Farias?
Eu tinha feito com o Mauricio a novela A Viagem (1994) e a minissérie Hilda Furacão (1998), ambas na Rede Globo. Acho ele incrível, foram duas experiências ótimas que ficaram marcadas na minha memória. Ele é um cara muito doce, companheiro. O set dele é leve, tranquilo, e isso é importante para os atores estarem à vontade, sem stress, porque sabem o que ele quer. Isso é algo que tá no sangue dele, vem da família, da história dele, é um cara de cinema. Foi muito gostoso fazer esse trabalho, quero estar sempre do lado dele.
Como tem sido a recepção do público de Vai Que Dá Certo?
As recepções tem sido ótimas. Mesmo assim, até a estreia, a expectativa era enorme. Fizemos cinco pré-estreias, duas em São Paulo, e no Rio de Janeiro, Florianópolis e em Paulínia, e fomos sempre muito bem recebidos. A reação do publico tem sido ótima, as pessoas se divertem, estamos com uma esperança de que o filme seja mesmo um sucesso e que vá bem. Em todos os lugares, de norte a sul do país. Se em dez dias em cartaz já somamos mais de um milhão de espectadores, acho que alguma coisa certa a gente fez (risos)!
E o que o seu irmão achou do filme? Vocês pensam e voltar a trabalhar juntos?
O Selton viu no Rio, numa das primeiras sessões. Ele gostou, achou bacana, elogiou bastante. É isso que importa para a gente, que as pessoas saiam felizes da sessão e comentem umas com as outras. Se o boca a boca for positivo, tem tudo para melhorar. Eu e o Selton temos muita vontade de trabalhar juntos, ainda mais depois do O Palhaço (2010). As pessoas tem nos perguntado muito isso, quem nos conhece desde pequeno, querem ver os dois irmãos juntos. Vontade a gente tem, basta sentar e pensar em alguma coisa. Com o Selton dirigindo talvez fique mais fácil, ele até já começou o projeto novo dele. Mas a gente tá perto, mesmo que não seja um projeto nosso, mas pode ser um convite também. A certeza é de que tem que ser um projeto muito foda, muito bacana, que marque. Algo muito legal.
(Entrevista feita por telefone desde o Rio de Janeiro no dia 21 de março de 2013)
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