Colin James Farrell chamou atenção pela primeira vez do grande público há exatos dez anos, quando fez frente ao astro Tom Cruise numa superprodução de Steven Spielberg, Minority Report – A Nova Lei (2002). Pois uma década se passou e agora o astro nascido em Dublin, capital da Irlanda, no dia 31 de maio de 1976, está de volta ao gênero que o consagrou no remake de O Vingador do Futuro (1990), longa dirigido por Paul Verhoeven e que contava com Arnold Schwarzenegger como protagonista. Como se pode perceber, Farrell nunca teve medo de um bom desafio, e depois de atuar sob o comando de diretores como Oliver Stone, Woody Allen, Terrence Malick, Peter Weir, Neil Jordan, Terry Gilliam e Michael Mann, ele parece pronto para se tornar o astro que Hollywood precisa: de olho no amanhã, mas com os pés bem firmes no hoje. Esse bate papo exclusivo para o Papo de Cinema acontece por telefone, enquanto Colin visitava o Rio de Janeiro para promover seu novo trabalho, e aqui ele conta o que achou desse primeira visita ao Brasil, sobre como escolhe cada novo papel e o que esperar do novo O Vingador do Futuro. Confira!

 

Olá, Colin! Como você tem passado? Está gostando do Brasil? É sua primeira vez aqui?

Olá, tudo bem! Sim, é minha primeira vez aqui, e estou curtindo muito. O Rio de Janeiro é uma cidade linda, preciso voltar mais vezes. Ontem, quando cheguei, depois de largarmos as coisas no hotel, demos um passeio pela cidade, por Copacabana, por Ipanema. É impressionante, fiquei encantado. O dia estava lindo, e ver as pessoas na praia, foi fantástico, tudo muito bonito. É um dos lugares mais lindos em que já estive.

Que bacana! Mas vamos falar de O Vingador do Futuro. Como você se sentiu por estar no mesmo papel que um dia já foi de Arnold Schwarzenegger?

(Risos) Pois nós não somos parecidos? Foi natural (mais risos)! Bom, deixando as piadas de lado – e acredite, foram muitas – não encarei esse personagem sob essa perspectiva, não fiquei me policiando em tentar repetir ou em ser diferente de Arnold. Os filmes são distintos, são outras visões. Pretendemos apresentar algo novo, que vai além do que foi visto antes. A atuação de Schwarzenegger neste filme é impressionante, penso que é um dos melhores trabalhos dele. Gosto muito do primeiro O Vingador do Futuro, tanto que fiquei muito entusiasmado quando soube que haveria uma refilmagem, e fui um dos primeiros a se candidatar ao papel. Mas não procurei imitá-lo, muito menos em querer repeti-lo. A minha base foi o roteiro, foi o que me convenceu a embarcar no projeto e é por causa dele que hoje estou aqui conversando com você.

 

O que há de diferente na nova versão de O Vingador do Futuro?

Olha, muita coisa. O original marcou uma época, e esperamos que este faça o mesmo nos dias de hoje. As diferenças estão por todo o filme, pra começar e fato mais evidente é que, no anterior, grande parte da história se passava em Marte, o que não acontece agora. Estamos na Terra, e por aqui ficamos. No original tudo era mais absurdo, a violência era mais gráfica. Desta vez nossa intenção era ser mais sério, mais intenso, com mais profundidade e sem tantas alegorias. Acredito que a maior mudança, mesmo, seja no tom em que é narrada essa história de passados alterados e mentiras e verdades escondidas.

Você passa o filme inteiro dividido entre duas belas e talentosas mulheres, Kate Beckinsale e Jessica Biel. O que é melhor e o que é pior em um trabalho como esse?

Bom, neste caso, o pior foi ter que beijar a esposa do diretor (risos)! Você sabe, Kate e Len (Wiseman, diretor de O Vingador do Futuro) são casados há anos, e eu tinha que ficar lá, na frente das câmeras, com ele me mandando: “vá lá, agora beije-a”, e isso tinha que ser totalmente artístico, porque qualquer deslize meu ele estaria ali, cuidando de tudo. Nem uma mão boba me permiti (risos)! Fora isso, as duas são fantásticas atrizes e foi um enorme prazer dividir esse projeto com elas. Ambas são incrivelmente belas e talentosas, então isso tornou tudo muito mais fácil. São belezas diferentes, então foi muito bacana que no começo do filme estou com uma, e depois é que fico com a outra. Foi fácil me dividir entre elas. Afinal, há Colin Farrell para todas (risos)!

 

Um dos seus primeiros filmes foi Minority Report – A Nova Lei (2002), que também era uma ficção científica. Como foi voltar a esse gênero?

Realmente, fiz muito poucos filmes neste estilo. Estava mais do que na hora de voltar a ele. Minority Report é um dos meus trabalhos que mais gosto, foi uma ótima experiência. Adoro esse filme, tenho muito orgulho dele, até por ter trabalhado com Steven Spielberg, com Tom Cruise. Foram grandes lições. Mas lá eu era um coadjuvante, estava começando na carreira. Percorri um longo caminho nestes últimos dez anos, então voltar agora à ficção científica como protagonista de um filme de grande orçamento é uma enorme responsabilidade, mas também um prazer imenso. Estou muito feliz com o resultado. Filmes assim nos permitem explorar melhor o ambiente, pois tudo é novo, então qualquer coisa é possível, basta termos uma explicação convincente. E esse ambiente de paranoia, de perseguição, com um personagem tão intenso e completo, é o que faz do novo O Vingador do Futuro um filme tão especial.

No ano passado tu esteve em A Hora do Espanto, outro remake de um filme de muito sucesso. O que você pensa sobre essa tendência de Hollywood em refazer filmes antigos?

Eu acho que filmes, antigos ou não, se são bons, se tornam imortais. E muitas vezes as novas gerações não possuem acesso a eles, mas estas são histórias tão boas que merecem ter novas versões, atingir novos públicos. Quando escolho o que quero assistir não levo em conta se é uma refilmagem ou não, o que me preocupa é se tem um bom enredo, se a trama me atrai. Essa é a ideia que deve estar por trás de qualquer novo filme. E com todo o avanço da tecnologia, o visual de hoje se torna completamente diferente daquele de cinco, dez, vinte anos atrás. Bons filmes são bons filmes, e maus filmes são maus filmes. É simples assim. A Hora do Espanto já era ótimo, e penso que fizemos um trabalho tão bom quanto. É um novo filme, é diferente do anterior, e hoje os fãs podem curtir as duas versões. São olhares diferentes sobre um mesmo argumento. E o mesmo acontece com O Vingador do Futuro. Diretores como John Carpenter, David Cronenberg, Martin Scorsese… eles são imortais, são os que construíram a base do cinema moderno, e se eu puder estar em uma história deles, não me importa se é uma refilmagem ou não. O que importa é a experiência.

 

Um dos meus autores favoritos é Michael Cunningham, e você estrelou a adaptação de um dos meus livros favoritos, Uma Casa no Fim do Mundo (2004). Fale um pouco sobre esse filme e o que lhe atraiu nele.

Puxa, que bacana você trazer esse filme. Tão pouca gente o viu… E eu gosto muito dele, foi uma experiência muito proveitosa. Sabe, o que me atraiu nele foi justamente o texto de Michael Cunningham, pois ele também é autor do roteiro que foi filmado. É um filme muito pequeno, muito humilde, mas que traz uma história muito humana, comovente. O livro, como você mesmo mencionou, já era incrível, e penso que a adaptação faz jus ao romance. Isso sem falar do elenco, foi ótimo poder atuar ao lado da Robin Wright, da Sissy Spacek… Tenho muito orgulho desse filme.

 

Acho incrível que você consegue equilibrar com eficiência grandes projetos, como O Vingador do Futuro, com outros bem menores, como Na Mira do Chefe (2008), por exemplo, pelo qual você ganhou o Globo de Ouro. O que mais lhe chama atenção ao decidir qual papel interpretar?

Tem um filme meu, bastante recente, e muito pequeno, que quase ninguém viu, que se chama Ondine (2009). É uma história fantástica, meio mística, sobre uma mulher que pode ou não ser uma sereia. Eu faço o pescador que a encontra. Foi uma oportunidade de trabalhar com o (diretor) Neil Jordan, que admiro muito. Neste caso, por exemplo, havia tantos aspectos interessantes – a trama, o realizador, o ambiente, os cenários – que não havia como dizer não. Ao decidir, não fiquei pensando se faria sucesso ou não – até porque não fez – mas sim no que ele iria me acrescentar. Isso é o que me preocupa quando leio um roteiro, é pelo que procuro, algo de novo que me torne um ator melhor. Quando estou lendo as falas do meu personagem, preciso sentir elas saindo pelos meus lábios, precisam ser naturais em mim. Não importa se tem um orçamento milionário ou se será feito no quintal de casa, o que levo em consideração é como eu me sinto em relação a ele e como ressoa dentro de mim. O que importa é a essência, são as intenções que envolvem cada projeto como um todo e como me permitem explorá-las.

Len Wiseman, até pelos seus filmes anteriores, me parece ser um especialista em efeitos especiais. Como foi trabalhar com tantos elementos que só seriam adicionados na pós-produção?

Foi muito bacana. O Vingador do Futuro é um grande filme de ação, e passei tanto tempo correndo e pulando durante estes seis meses de filmagens que só por isso já valeu à pena. Foi também um incrível exercício de imaginação, pois muito tive que compor primeiro na minha mente, para atuar nesse vazio que seria preenchido somente depois. Então o ator, nesse momento, também está construindo, pois será de acordo com os meus movimentos, com as minhas reações, que os efeitos especiais iriam se portar. É muito impressionante. Foi uma grande extravaganza, como se diz em Hollywood! E Len tem domínio total do set de filmagem, sabe muito bem o que quer e como conseguir o resultado almejado. Então ele oferece muita tranquilidade aos atores. Ele realmente entende do conceito visual, pois possui uma visão muito precisa do filme que está fazendo. Sua principal intenção é satisfazer a audiência, e tenho certeza de que isso nós conseguimos.

 

Como você imagina que o público irá reagir ao novo O Vingador do Futuro?

Quer que eu seja bem sincero? Não tenho a menor ideia (risos)! Olha, é claro que demos o melhor de nós e acreditamos ter feito o melhor filme que estava ao nosso alcance, mas o julgamento final é o do espectador, e só quando o filme entrar em cartaz é que iremos saber ao certo. O que esperamos é que quem for assistir a O Vingador do Futuro se divirta tanto quanto nós nos divertimos fazendo-o. É um grande entretenimento, uma história que possibilita várias leituras, com níveis diferentes de compreensão, mas ao mesmo tempo é muito dinâmico, não se para em nenhum instante. Estou muito feliz com este filme, e espero que cada um na plateia sinta o mesmo.

 

(Entrevista feita por telefone no dia 12 de julho de 2012)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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