Formado em Rádio e TV pela Escola de Comunicação e Artes (ECA-SP), Marcus Baldini iniciou sua carreira na MTV, dirigindo chamadas comerciais nos intervalos da programação. Após atuar por alguns anos na publicidade, quando se tornou um dos realizadores mais premiados do país, com prêmios nos Brasil e no exterior, Baldini estreou como cineasta com o polêmico Bruna Surfistinha (2011), um dos filmes mais vistos em todo o país no ano do seu lançamento. Agora, após assinar a série Psi (2014) para o canal HBO, ele está de volta aos cinemas com a comédia Os Homens são de Marte… E É Pra Lá que Eu Vou (2014), outro grande sucesso de público. E foi durante o lançamento deste último projeto que o diretor conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
De Bruna Surfistinha para Os Homens são de Marte…E É Pra lá que Eu Vou, como foi esse trajeto?
Na verdade não foi algo tão pensado assim. Quando fiz o Bruna Surfistinha, a pegada era completamente diferente desse filme de agora. Era um drama, mas tem humor muito próprio, mais ácido do que esse que experimentamos em Os Homens são de Marte… Fiquei interessado em fazer uma comédia porque seria um desafio, algo novo para mim. Quando (os produtores) Bianca Villar e Bruno Wainer me chamaram, logo fiquei interessado. Aquela pulga atrás da orelha, sabe? Fiquei pensando “puxa, porque eles pensaram em mim?”. Daí fui assistir a peça, vi que tinham várias situações que poderiam ser engraçadas. Havia um universo visual a ser construído, e isso me estimulou. No palco os homens não existiam, por exemplo. A Monica Martelli, a protagonista e autora da peça, é excelente neste personagem, ela domina muito bem aquilo a que se propõe, mas havia mais a ser explorado. Foi isso que me chamou atenção, além da vontade natural de fazer uma comédia boa e de qualidade.
Porque voltar ao universo feminino?
O universo feminino tem uma coisa das mulheres serem mais à flor da pele do que os homens, são um pouco mais pra fora, extrovertidas. Os homens controlam mais as emoções, são mais contidos. As histórias femininas valorizam mais isso essa explosão. Não diria que o universo feminino em si, mas os personagens. Na série Psi, que fiz para HBO, a trama era super masculina, o que resultou numa coisa mais contida, circunspecta… Queria voltar a explorar mais as emoções, mas nada tão específico. Era uma vontade que eu tinha, mas não estava procurando. O filme que veio até mim na hora certa.
Livro ou teatro, qual é mais fácil adaptar para o cinema?
Eu tenho um projeto, chamado Carlos, O Homem Perfeito, escrito pela Tati Bernardes e pela Patrícia Corso. A Ingrid Guimarães será a protagonista, e partiu de uma ideia original minha. To ansioso, vamos ver no que vai dar. É mais confortável é fazer roteiros em que eu seja o autor, acredito. Os Homens são de Marte… é um filme de grupo, de produtor, fui somente um diretor convidado. As situações são bem diferentes. Minha contribuição é outra, meu foco estava na interpretação do elenco, mais na cinematografia, em tornar o texto menos teatral. Era fazer deste um lugar do cinema para todos os lados. O Bruna Surfistinha era um projeto meu, da forma como eu queria, foi outra coisa. Quando se é baseado numa peça, não há tanta questão do recorte, a peça já é escrita em atos, é uma linguagem mais próxima do cinema. No livro, por outro lado, é muito mais importante aa adaptação ter esse cuidado e oferecer o olhar do diretor, que vai contribuir decisivamente no produto final. Tem que decidir qual parte quer colocar uma lupa sobre ela e desenvolver a partir daí. Quando se baseia em uma peça o resultado tende a ser mais fiel, mas se parte de um livro temos um recorte mais específico.
É um filme feminino, porém cheio de homens. Como você imagina que o espectador masculino está vendo o filme?
Acho os papeis dos homens uma das coisas mais interessantes deste filme, inclusive em relação à peça. Afinal, cada homem que surge em cena tem seu próprio universo profissional, e isso muda tudo para o filme. É uma construção a partir da peça, uma evolução do texto original, com uma complexidade maior. É um colorido especial. Os personagens masculinos são muito importantes, com contextos próprios. E é curioso perceber a preparação da protagonista para cada um deles, ela não quer apenas um milionário rico, tem um desapego que a torna única. Acho que esses homens são importantes para o diferencial do filme. Acho que existe uma dualidade no filme, e isso está na nossa tendência em polarizar entre masculino e feminino. As emoções estão Fernanda, e a gente dá risada no exercício de sadismo de ver ela se dar mal nas furadas que vai se metendo até ficar em paz consigo mesma. E pra isso independe se é homem ou mulher que está na plateia, o resultado e a identificação é a mesma.
Comédia é um gênero em alta no Brasil. O que Os Homens são de Marte… acrescenta a este filão?
Acho que o filme tem, justamente, uma intenção de ser uma história narrada em que o conjunto seja tão interessante quanto as situações. Impacto visual construído com muito cuidado e uma cinematografia que trouxesse algo de novo para a versão cinematográfica de uma história que tantas pessoas em todo o Brasil já conhecem. Espero que as pessoas gostem disso que realizamos, com emoção e risada juntos
(Entrevista feita por telefone direto de São Paulo no dia 17 de junho de 2014)
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