Nascida no dia 20 de setembro de 1976 na Polônia, Agata Buzek é, de fato, uma estrela internacional. Filha de Jerzy Buzek, ex-Primeiro Ministro (entre 1997-2001) de seu país e ex-Presidente do Parlamento Europeu (2009-2012), Agata se formou em Teatro em Varsóvia, estudou durante dois anos em Colonia, na Alemanha, trabalhou como modelo em Paris e fala fluentemente alemão, inglês e francês, além de se arriscar também em russo e em italiano. Premiada no Festival de Berlim (Shooting Star em 2010) e na Grande Premiação do Cinema Polonês (Melhor Atriz pela comédia dramática Rewers, 2009), teve seu papel de maior alcance internacional no hollywoodiano Redenção (2013), em que apareceu ao lado do astro Jason Statham. E agora ela está de volta às telas no drama francês Agnus Dei (2016), selecionado para o Festival de Sundance deste ano. E sobre este mais recente trabalho, já em cartaz no Brasil, que a estrela conversou neste bate-papo publicado com exclusividade no Papo de Cinema. Confira!
Nos fale do seu primeiro encontro com Anne Fontaine.
Sinto muito, mas provavelmente vou desapontar você… Eu não me lembro bem! Estava nervosa demais!
Qual foi sua reação ao descobrir a história e a personagem de Marie?
Uma grande alegria e muito entusiasmo! Fiquei realmente feliz de receber uma história tão forte e comovente, e de poder me confrontar com uma personagem de tamanha complexidade, de tamanho mistério.
Você sabia das atrocidades cometidas por soldados soviéticos durante esse período?
Sim. Cresci atrás da Cortina de Ferro. Claro, a realidade da minha infância nunca foi manchada por esses horrores, mas ouvimos falar de casos assim. Esses acontecimentos fazem parte de uma história coletiva que afetou praticamente todas as famílias da Polônia.
Você já interpretou uma religiosa em Redenção (2013), de Stephen Knight — uma mulher que também chegou à fé por caminhos pouco convencionais. Isso lhe ajudou a construir essa personagem? Como você a abordou?
Como Agnus Dei mostra bem, as pessoas podem ser bastante diferentes vestindo o mesmo hábito — ou, nesse caso, o mesmo véu. Interpretei religiosas em três projetos. Para mim era mais difícil evitar os estereótipos, encontrar a personagem sob o véu, não apenas uma “boa irmã”.
Você pode dar detalhes da preparação que fez para o filme? Por exemplo, Anne Fontaine conta que, para aperfeiçoar o seu francês, você recitava Victor Hugo todas as noites. Precisou também aprender a cantar, por exemplo?
Diria que a minha própria vida cotidiana é um trabalho de preparação. Mesmo assim, tenho que praticar alguns exercícios “não-cotidianos” de tempos em tempos, como foi o caso: lições de canto, ensaios com uma religiosa, aperfeiçoamento do meu francês. Quanto aos áudio-livros mencionados por Anne, não era Victor Hugo, e sim Júlio Verne — e o narrador era tão pouco entusiasmado que meu esforço era mais no sentido de lutar contra o sono do que aperfeiçoar minha pronúncia (risos).
Nos fale dos ensaios com a equipe nas locações do filme.
Como falar de 28 mulheres, todas atrizes (!), enclausuradas durante dois meses num convento úmido e gelado no meio do nada, forçadas a trabalhar 12 horas por dia no mesmo espaço? Diríamos que foi um pesadelo, não? No entanto, a experiência foi, de fato, maravilhosa, particularmente as noites após as filmagens, quando vivíamos uma vida tão distante quanto possível daquela de uma comunidade religiosa.
Nos fale do seu encontro com Lou de Laâge e da forma como vocês colaboraram uma com a outra.
Digamos que se eu fosse um homem ou homossexual, teria me apaixonado por Lou!
E como foi com Agata Kulesza, dada a natureza complexa da relação entre suas duas personagens?
Quanto mais complexa a relação entre personagens, mais a relação entre seus intérpretes tem a chance de ser rica e significativa. Quanto a Agata… de todas as pessoas que conheci, ela é aquela que mais sabe manter um relacionamento. Agata faz os melhores kimchis ao vapor do mundo. Além disso, ela é um gênio (como qualquer um pode constatar ao vê-la atuar…)!
Ao transgredir as regras da sua ordem e estabelecer laços de amizade com Mathilde, Maria contribui para que as irmãs saiam do impasse em que se encontram. Você diria que ela é uma espécie de revolucionária? Você acha que a experiência dela faz sentido em relação ao que acontece hoje em dia no mundo?
Sim para as duas perguntas, sem dúvida. A Irmã Maria é uma rebelde. Forte, corajosa e sábia também. Ela pode se mostrar aberta, contestadora, cheia de dúvidas, pronta a provocar mudanças, combativa, mas ao mesmo tempo não destrói o mundo ao seu redor sem refletir, não quer devastar nada. Vê e escuta todas as pessoas em torno. Encarna, sem dúvida, o tipo de rebelde que precisamos hoje em dia. Mas temo que as revoltas em que podemos nos engajar têm poucas chances de encontrar um resultado tão positivo e pacífico como a da revolta feita pela Irmã Maria.
Que tipo de instruções Anne Fontaine deu a você durante as filmagens, e que tipo de diretora ela é?
Anne se dedica completamente ao seu trabalho. Mergulha totalmente na realização do seu filme, é algo impressionante. Sua maneira de dirigir leva os atores a sempre procurar ir mais fundo, e sempre se assegura de que estamos cercados de sinceridade, perspicácia e concentração.
Você tem familiaridade com co-produções internacionais. Quais são as dificuldades de se filmar num espaço onde se falam diversas línguas?
O inconveniente é que nem sempre sabemos o que está acontecendo ao nosso redor. A vantagem é que nem sempre sabemos o que está acontecendo ao nosso redor.
Você poderia fazer uma análise das suas escolhas profissionais?
Na verdade, não… o tema, o roteiro, o diretor, os demais atores, o calendário, o dinheiro, o papel que me propõem, todo tipo de desafios, a escolha entre um filme numa locação distante e uma peça de teatro, minha própria energia, minhas habilidades… é preciso pensar em todos esses elementos e ainda outros. Mas, de fato, confio sobretudo na minha intuição.
(Entrevista cedida com exclusividade no Brasil ao Papo de Cinema pela Mares Filmes)
Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- Um Homem Diferente - 12 de dezembro de 2024
- Marcello Mio - 12 de dezembro de 2024
- Dying: A Última Sinfonia - 5 de dezembro de 2024
Deixe um comentário