Antonio Moniz Vianna (1924 – 2009) fez parte da época menos promíscua da imprensa brasileira. Nascido em Salvador, cresceu no Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina. Escreveu sobre cinema por mais de vinte anos, de 1946 a 1973, para o prestigiado jornal carioca Correio da Manhã, casa de nomes como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade e Otto Maria Carpeaux. No último ano, ao saber do falecimento do seu diretor favorito, John Ford, abandonou o espaço praguejando em defesa própria: “o cinema acabou!”.
Moniz retornou às páginas dos jornais há quatro anos, de forma distinta – pelo resultado incoercível da idade. Por ocasião do seu falecimento, foi merecidamente lembrado em diversos meios de comunicação. Na oportunidade, proliferaram inúmeros elogios, como se buscassem a justificativa clarividente para uma homenagem tardia. Em um país com o retrospecto relapso quanto à memória cultural, a gratidão depende da ocasião, e não unicamente pelo simples reconhecimento do mérito.
Dono de um comportamento que poderia soar áspero ou arrogante, Moniz costumava salientava que a formação de um crítico bem poderia ser em diversas áreas, como Engenharia ou Direito. Oriundo de uma época em que a formação humanística se dava de maneira sólida independentemente da área, descartava a necessidade de estudar Jornalismo ou Cinema para exercer a profissão. Nos últimos anos de vida, evitou as salas de cinema. Deleitava-se com os filmes que a televisão era capaz de reproduzir e não se frustrava com a grade de programação. Apesar do gênio difícil, empolgava-se com a linguagem simples e singular do cinema mudo e com a proposta estética dos expressionistas alemães, especialmente a do diretor F. W. Murnau (Nosferatu, 1922, e Aurora, 1927). O tempo, no entanto, trouxe a verbalização tão rápido quanto levou a forma da vanguarda e John Ford do público.
Como toda peculiaridade traz consigo ruídos, não nos assustamos quando o crítico se declarou indisposto com o vazio do cinema novo e com a política autoral da nouvelle vague. Era homem convicto: filme bom é aquele que conta bem uma história, simples assim. Para os que conviveram no mesmo período, e relapsamente não o leram, ou para os mais jovens, desafortunados da experiência da crítica diária, pode-se encontrar parte dos seus escritos na reunião de textos organizados por Ruy Castro para o livro Um filme por dia, da Companhia das Letras.
Em 26 de outubro de 2006, o site Críticos publicou uma entrevista realizada com Vianna em sua casa, ao lado da filha Isadora e do neto Eduardo. Sempre interessante e instigante é a visão dos homens que delineiam suas vidas paralelas à arte sem cobrar a mais por isso. Aliás, exatamente sobre arte, e indiretamente servindo como incentivo à leitura da entrevista, Moniz categoricamente destaca: “Não se deve exigir tanta arte do cinema”.
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