Somente duas coisas são óbvias nesta categoria: a primeira é que ninguém tira ao menos essa estatueta da Lady Gaga. E a segunda é uma pergunta: onde estão as canções maravilhosas de O Retorno de Mary Poppins? De resto, a situação está bem equilibrada. Afinal, todos os títulos são estrelados o suficiente para o gosto bastante pop dos votantes do Globo de Ouro. Basta ver quem são os cantores: os rappers Kendrick Lamar e SZA, a veteraníssima Dolly Parton, a oscarizada Annie Lennox e o fenômeno gay teen Troye Sivan, além, é claro, da já citada Lady Gaga! Talvez All the Stars, a canção de Pantera Negra, seja a que melhor representa o filme – além de ser uma das mais belas dentre as concorrentes. Girl in the Movies também é linda, mas Dumplin’ é uma produção original da Netflix, inédita nos cinemas, e somente o fato de ter sido lembrada já pode ser considerado uma vitória. E o que dizer da melodramática Revelation, que até trabalha bem com os vocais de Troye Sivan, mas é por demais discreta para cruzar a linha final – é de se espantar até que tenham se lembrado dela! Ou seja, o conjunto das cinco concorrentes joga em campo seguro, e muito dificilmente teremos uma surpresa aqui.

Indicadas

 

FAVORITA
Shallow, de Nasce uma Estrela
Uma coisa é certa: Lady Gaga não sairá de mãos abanando da festa do dia 06 de janeiro. E se a disputa para Melhor Atriz em Drama (Nasce uma Estrela não é um musical?) está um tanto complicada, ao menos aqui tem para ninguém: o prêmio já é dela. Dividindo os vocais com o ator e diretor Bradley Cooper, ela marca presença na canção que nem é a mais bonita do filme – outras composições, como Look What I Found e, principalmente, I’ll Never Love Again, são muito mais emocionantes – mas essa é um verdadeiro hit, daqueles que tocam nas rádios e agradam tanto aos cinéfilos como aos fãs da cantora. Sem falar que Gaga não é uma novata: ela tem no currículo uma indicação ao Oscar, pela canção Til It Happens to You, do documentário The Hunting Ground (2015). E por Shallow, ela e seus colegas estão concorrendo também ao Grammy (só essa composição recebem quatro indicações) e ao Critics Choice, além de terem sido premiados pelos críticos de Las Vegas. Esses, sim, já podem cantar vitória antecipadamente.

 

AZARÃO
All the Stars, de Pantera Negra
Assim como na categoria-irmã de Trilha Sonora, Pantera Negra pode não ser a escolha mais óbvia, mas chega na disputa com muitas chances. E All the Stars tem tudo para fazer bonito na hora da votação. Resultado de uma união de talentos únicos, conta com Kendrick Lamar e SZA nos vocais, ambos em performances arrebatadoras, que tanto contribuem à construção do clima do filme, como sobrevivem bem além da tela, funcionando como um sucesso acima de qualquer suspeita. Indicada ao Grammy (essa composição também concorre em quatro categorias na maior premiação da música em Hollywood) e igualmente laureada no Hollywood Music in Media Awards (como Melhor Canção em Filme de Fantasia/Horror/Ficção-Científica), levou pra casa ainda o prêmio da International Online Cinema e da Associação de Críticos de Cinema Áfrico-Americanos , além de estar concorrendo ao Black Reel, ao Critics Choice, ao Satellite e nas premiações dos críticos de Houston e Los Angeles (online). As chances são boas. Mas se concretizarão em uma vitória? É possível, mas não garantido.

 

SEM CHANCES
Requiem for A Private War, de A Private War
O que Requiem for A Private War faz nessa seleção? Um amor tão grande quanto inesperado dos votantes do Globo de Ouro pelo drama de guerra estrelado por Rosamund Pike – que, aliás, concorre na categoria de Melhor Atriz em Drama, resultando nas duas indicações que o filme recebeu. Premiada no Hollywood Music in Media Awards (como Melhor Canção Original em um Filme Independente), foi indicada ainda ao Satellite – e em mais nenhum lugar. Isso se deve, é claro, ao fato de que muito pouca gente deve ter, sequer, visto o filme – que teve lançamento limitado e arrecadou pouco mais de US$ 1,6 milhão nos cinemas norte-americanos (bem distante dos US$ 700 milhões somados por Pantera Negra no mesmo território) – e não pelo talento de Lennox, que já possui um Globo (e um Oscar, e um Grammy) pela composição Into the West, de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). Ou seja, está bem premiada. E só o fato de ter sido lembrada já foi um gesto bastante feliz. Mas não mais do que isso.

 

ESQUECIDA
The Place Where Lost Things Go, de O Retorno de Mary Poppins
Ou talvez Trip a Little Light Fantastic, do mesmo filme? Qual das duas? Difícil dizer. A primeira tem recebido mais respaldo da crítica – afinal, é cantada em cena pela própria protagonista, vivida por Emily Blunt – mas a segunda é igualmente irresistível, além de receber na trama uma performance adorável do multitalentoso Lin-Manuel Miranda. Como acabaram de fora do Globo de Ouro? A única explicação é que tenham competido entre si e dividido os votos. Nada mais faz sentido. Afinal, as duas concorrem ao Critics Choice, enquanto a primeira foi premiada no Hollywood Music in Media Awards. Mas talvez seja esse mesmo o problema: são tantas canções envolventes que é difícil se decidir por apenas uma – para se ter uma ideia, outro título da trilha sonora, Can You Imagine That?, está indicado ao Satellite! No final, qualquer uma delas faria bonito ao lado das demais finalistas, podendo muito bem ser, também, a grande vencedora. Agora, uma coisa é certa: no Oscar a situação será bem diferente. Podem apostar!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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