Crítica


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Sinopse

Em Paris, uma senhora, descendente de uma linhagem nobre, está às voltas (e às turras) com sua nova cuidadora, de ascendência médio-oriental, enquanto seu sobrinho lida com as ambições da amada proprietária de um hotel popular.

Crítica

A dinastia dos Romanov governou a Moscóvia e o Império Russo por oito gerações, de 1613 a 1762. The Romanoffs, a nova série de Matthew Weine, responsável pela icônica Mad Men (2007-2015), fala sobre pessoas diferentes, em lugares distintos, que acreditam ser descendentes dessa família executada em 1918 durante a revolução bolchevique. O episódio inaugural, intitulado The Violet Hour, é centrado numa relação acidentada entre Anushka (Marthe Keller), afortunada de saúde frágil que gosta de vangloriar-se dos feitos de sua raça, e Hajar (Inès Melab), francesa de ascendência árabe, contratada para servi-la cotidianamente. No princípio, a convivência é marcada por uma saraivada de preconceitos, com a idosa destilando destemperos e grosserias intermitentemente. A novata aguenta tudo com relativa calma, aos poucos quebrando o gelo da contratante, aproximando-se, exatamente, por compreender as suas necessidades. Em meio a isso, há o sobrinho Greg (Aaron Eckhart), na espera para ser herdeiro.

Demora consideravelmente para a trama explicitar suas demandas principais. A preparação do terreno é longa, com desvãos inconsistentes, como a fixação de Sophie (Louise Bourgoin), namorada de Greg, pelo apartamento que Anushka deixará ao parente tão logo morra. Há o ensaio de uma intriga doméstica sórdida, com menções frequentes aos intentos de assassinato para garantir a posse do imóvel. Todavia, essa possibilidade um par de vezes aventada não ganha espaço, sendo relegada a uma posição infelizmente periférica. Nem a dinâmica entre a aristocrata e a empregada possui contornos instigantes, uma vez que se desenvolve a partir de um vínculo trivial, tanto quanto o percurso que dá conta do arrefecimento das desconfianças e ressalvas. A suntuosidade fica por conta do cenário e dos objetos cênicos requintados, únicas âncoras diretamente alusivas ao passado dos Romanov. O enredo transcorre lentamente, sem deixar rastros consideráveis ou mesmo abrir caminhos tão férteis rumo a um desfecho banal.

O principal destaque de The Violet Hour são as interpretações, especialmente as do quarteto Marthe Keller, Aaron Eckhart, Inès Melab e Louise Bourgoin. Os dois primeiros vivem os representantes dos Romanov supostamente ainda vivos, com a tia prevalecendo por reproduzir diegeticamente várias preconcepções elitistas e burguesas próprias às dinastias que permaneceram no poder por diversos séculos em função de estratagemas de dominação. As duas últimas encarnam as forasteiras, com Hajar fazendo às vezes de alguém literalmente deslocado, do ponto de vista cultural e religioso. A imigração, um dos temas incontornáveis da atualidade, é encarada apenas superficialmente, com os desaforos iniciais, as menções a passagens históricas para defender um supremacismo nutrido em séculos passados como algo absolutamente atrelado ao pensamento dos palacetes. Mas, não há aprofundamento nas discussões, tampouco se estabelece ponte sólida e expressiva entre passado e presente.

The Romanoffs começa, portanto, morno, oferecendo uma história ordinária, bastante aquém do que o pano de fundo solene e portentoso pode comportar. Matthew Weine, encarregado pessoalmente de dirigir The Violet Hour, encontra dificuldades para engendrar os labirintos e a dubiedades dos jogos íntimos. Sendo assim, as decorrências de encaixes e adequações, como, por exemplo, a crescente boa vontade – um tanto forçada e artificial, diga-se de passagem – de Anushka com Hajar, antes totalmente improvável, abre portas para o regresso da discussão mesquinha em torno do legado patrimonial. A tortuosidade do encaixe de um envolvimento amoroso inesperado é outro sintoma da fragilidade conceitual desse episódio inaugural, salvo, é bem verdade, pelo desempenho esmerado do elenco que trabalha virtuosamente para dirimir as fragilidades do conjunto, vistas no roteiro e na condução da série que, assim, carece basicamente de tônus dramático e de densidade dramatúrgica, guiando-se pelo frívolo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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