Crítica


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Sinopse

Eleanor, Chidi, Tahani e Jason estão finalmente juntos, mas Trevor, o demônio, se intrometeu no caminho deles, e fará de tudo para separá-los. A não ser que Michael e Janet consigam impedi-lo.

Crítica

O terceiro episódio da terceira temporada de The Good Place levou os espectadores e, principalmente, seus personagens, a uma verdadeira encruzilhada. Afinal, tudo que havia sido o grande charme do programa até então se desfez, e aparentemente não há como ir adiante sem literalmente reinventar a trama. Eleanor (Kristen Bell), Chidi (William Jackson Harper), Tahani (Jameela Jamil) e Jason (Manny Jacinto) não estão mais entre o céu e o inferno, e nem mais sabem do risco de correm de serem mandados para um lado ou outro: estão novamente na Terra, envoltos por uma tentativa um tanto fraca de se tornarem ‘pessoas melhores’, sem que nada neste sentido seja verdadeiramente explorado. O peso de seguir mantendo o bom humor em alta está, mais no que nunca, nas costas de Michael (Ted Danson), o demônio arrependido, e de Janet (D’Arcy Carden), sua assistente de poderes infinitos. Porém, até os dois estão distantes dos cenários que lhes eram habituais, dificultando ainda mais a tarefa que agora lhes compete.

Uma vez que os realizadores decidiram não se aprofundar no que acontece durante os encontros dos humanos – uma lástima, pois definitivamente esse seria o diferencial a ser explorado nesta temporada, com eles tentando, e inevitavelmente falhando, em seus esforços de se aperfeiçoarem enquanto seres em suas jornadas terrenas – o que sobra é a identificação de que (1) sim, o grupo de estudos é importante, e (2) tudo é válido para evitar que o mesmo se desfaça. Aceitar que uma celebridade indiana que percorre as mais importantes rodas das altas sociedades ao redor do mundo e dois pés-rapados dos Estados Unidos teriam recursos e interesses suficientes para se unirem a um professor universitário australiano em Sydney já é uma tarefa das mais complicadas, mas essa suspensão da realidade é até aceita em nome da graça habitual. Quando essa ameaça também partir, todo o resto termina por, inevitavelmente, se complicar.

Em The Snowplow (T03E03), a diretora Beth McCarthy-Miller (veterana de séries como 30 Rock, 2007-2013, e Modern Family, 2011-2018) centra suas forças justamente em tentar desfazer as duas certezas acima estipuladas. Primeiro, o que aconteceria com o fim do grupo? E para obter tal resposta, que tal arrumar as mais esfarrapadas desculpas para colocá-los em teste? É assim que acompanhamos o desânimo de Eleanor com o casal formado por Chidi e Simone (Kirby Howell-Baptiste), um futuro casamento e provável partida de Tahani com o quarto irmão Hemsworth (Ben Lawson), ou o próprio Chidi anunciando estar disposto a experimentar outras variáveis, deixando claro seu desinteresse pelo rumo apresentado por aquele conjunto. Michael e Janet, por outro lado, parecem acreditar – ele mais do que ela, que se diga a verdade – que tudo é válido em suas manipulações para que os quatro sigam unidos. Um desespero que terá seu preço: e, pelo que a última cena do capítulo aponta, finalmente um recomeço está na ordem do dia.

The Good Place rapidamente foi ascendida por fãs e admiradores a um posto rarefeito, frequentado por títulos com Friends (1994-2004), Will & Grace (1998-2018) ou The Big Bang Theory (2007-2018), por exemplo, donos de defensores ferrenhos e dispostos a maratonas intermináveis com seus melhores episódios. Isso se deve tanto pelo carisma excepcional de seus protagonistas como também pelos ambientes inusitados que se viam inseridos. Nesta terceira temporada, tanto um quanto o outro parece ter sido deixado de lado, ao menos nestes capítulos iniciais. Sem participações especiais de Adam Scott (o demoníaco Trevor) ou da impagável Maya Rudolph (a Juíza tem só uma rápida cena no começo), The Snowplow se revelou o mais fraco momento desse novo ano. Nada que justifique um abandono ou mesmo protestos, mas o suficiente para arrefecer os ânimos. Quem sabe na próxima semana as coisas se invertem? É ver – e torcer – para crer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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