Crítica


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Sinopse

Em As Quatro Estações do Ano, três casais de amigos passam férias juntos a cada temporada. Mas neste ano, surge uma tensão: um deles se separa e o marido leva uma mulher mais jovem para as viagens seguintes. Essa amizade de décadas será testada com essa e outras confusões, que os farão reavaliar os motivos que os mantém tão unidos. Comédia/Romance.

Crítica

Nick ama Anne. Kate ama Jack. Danny ama Claude. Mas, mais do que tudo, eles amam uns aos outros. E demonstram esse afeto passando todo tempo que possuem disponível, juntos. Qualquer feriadão sazonal, um fim de semana estendido, ou mesmo umas férias mais longas: lá estão eles, os três casais, numa tradição que vem se estendendo por toda uma vida. Em As Quatro Estações do Ano, o debate nem é tanto sobre os motivos que os unem, mas a respeito da força desse hábito e da inabilidade deles em ter que lidar com uma mudança forçada pela decisão de um. Nick não ama mais Anne. E por isso quer se separar. Semanas depois, é com Ginny que ele aparece. E os demais, como reagir com tamanha transformação? Seguirá Kate como uma constante ao lado de Jack? E até quando Danny irá suportar Claude – e vice-versa?

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A série As Quatro Estações do Ano é uma refilmagem do longa homônimo de 1981 escrito, dirigido e estrelado por Alan Alda. A ligação entre um e outro é tão forte que o veterano é homenageado com uma participação especial no segundo episódio, como o pai de Anne. No original, no entanto, ele aparecia no elenco como Jack, papel que agora ficou com Will Forte (Nebraska, 2013). A abordagem de um é bastante distinta da de outro. Se Alda era o elo do grupo, o que se esforçava para uni-los a ponto até de se tornar por vezes inconveniente, Forte entrega um personagem de pouca permeabilidade, que depende de tudo da esposa, demonstrando mais carência do que solidez. É Kate, vivida por Tina Fey, a alfa do casal. Tanto é que a relação dela com o marido se mostra, na maior parte das vezes, menos interessante do que a amizade que nutre há décadas por Danny. Essa ligação particular entre dois amigos inexistia no filme, e se mostra um dos acertos da adaptação recente.

Danny, aliás, é responsável por duas das mudanças mais visíveis em relação ao material prévio. Antes interpretado pelo branco, bonachão e ranzinza Jack Weston – que chegou a ser indicado ao Globo de Ouro por A Sauna das Loucas, 1976, em mais uma daquelas comédias que se esforçavam em fazer graça colocando personagens heterossexuais se passando por gays – agora ele ganha o rosto e o carisma de Colman Domingo, que não só é um dos maiores talentos negros da Hollywood atual, como também é assumidamente homossexual. Claudia, vivida com fervorosa latinidade por Rita Moreno, foi transformada em Claude e ganhou o rosto do cineasta italiano – e ator ocasional – Marco Calvani, mais conhecido no Brasil como marido do galã Marco Pigossi (tendo lhe dirigido no recente Maré Alta, 2024). Danny e Claude são a alma emotiva do grupo, e também os que mais se beneficiam desse maior aprofundamento em cena para exporem suas contradições e os laços que os unem.

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O personagem mais ingrato segue sendo Nick, aqui levado adiante sem muita inspiração por Steve Carell. É ele que decide se separar de Anne (Kerri Kenney, de Other People, 2016), alegando para isso não identificar mais nela disposição e vivacidade – tudo o que ela passa a demonstrar a partir do momento em que se vê sozinha. A relação dele com a nova namorada, Ginny (Erika Henningsen, de Girls5eva, 2021-2024), nunca vai muito além do superficial, e as melhores trocas ele tem com a filha, no episódio da visita à faculdade, e com amigos como Danny ou Kate – mais para reclamar da falta de empatia desses do que para de fato ouvi-los.

Esse, portanto, é o principal diferencial da série se colocada em perspectiva com o filme. Se antes o debate se dava em grupo, agora o que parece importar mesmo é o indivíduo. É a necessidade de Nick em se manter jovem, a ânsia de Ginny em ser aceita, a solidão que se abate sobre Anne, a constante dependência de Jack, a retidão de Kate, o sentido protetor de Claude, a busca por independência de Danny. Juntos ou separados, eles seguem atrás de atenção, mesmo que não sejam mais o símbolo de uma época, se mostrando dessa vez como a consequência de todas essas transformações. O destino trágico de um deles pode soar como uma alteração por demais radical, assim como o gancho que encontram para uma segunda temporada se mostra por demais frágil – e fácil de ser previsto. Independente de uma continuidade ou não, está no encontro destes talentos e na disposição em discutir e refletir sobre relacionamentos humanos – mais do que meramente amorosos – a razão de ser desse conjunto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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