Crítica


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Sinopse

Três anos após sobreviver a um desastre nuclear na Espanha, o inspetor de polícia Héctor retorna ao trabalho a fim de investigar uma série de assassinatos cometidos no norte do país.

A Zona


A Zona :: T01

EpisódioData de exibição
A Zona :: T01 :: E01 27/10/2017

Crítica

Julgando pela premissa e pelo roteiro do episódio inicial, A Zona se constrói como um suspense atmosférico, do tipo que não pretende fornecer as informações ao espectador de uma única vez. Assistimos a uma jovem correndo de pessoas mascaradas antes de compreendermos quem é a vítima e quem são seus perseguidores. Testemunhamos uma cidade vazia, com atmosfera pós-apocalíptica, antes de descobrirmos o que levou à evacuação daquele local. Passeamos por diversos rostos e personagens antes de se desenhar um candidato a protagonista – e ainda assim, de construção ambígua. O roteiro pretende divulgar dados a conta-gotas, confiando no interesse do espectador em participar do jogo de adivinhações. Por um lado, esta crença na capacidade do interlocutor em deduzir informações por conta própria, ao invés de tratá-lo como um aluno incapaz, constitui um mérito do projeto espanhol.

Por outro lado, para uma estrutura tão dependente da ambientação, o resultado é bastante carente de atmosfera. O diretor Jorge Sánchez-Cabezudo apresenta uma construção de planos um tanto simples, centralizando seus personagens no enquadramento, explorando pouco o espaço para além de planos aéreos (embora o uso de localidades e de sons ambientes fosse fundamental ao subgênero do filme-catástrofe), limitando-se a posicionar protagonistas dentro de casas, escritórios e hospitais surpreendentemente escuros. As produções originais HBO têm se demarcado por um refinamento excepcional de fotografia, além de uma narração ousada e adulta (vide Euphoria, Years and Years, Chernobyl, The Outsider); no entanto a série espanhola, adquirida pela empresa mas não produzida por ela, demonstra uma construção estética básica. Além disso, ao invés de uma montagem nervosa ou elíptica, o piloto de A Zona se concentra numa linearidade pouco empolgante, explicando o passado de Héctor (Eduard Fernández) através de meros flashbacks intercalados.

Talvez o início desta história careça de um protagonista claro, ou ao menos de um ponto de vista determinado. É possível que este alinhamento ocorra na sequência, no entanto, julgando pelo piloto, é difícil saber exatamente qual olhar vai conduzir a trama. Quando enfim descobrimos que a zona evacuada sofreu um incidente radioativo, não entendemos se a série seguirá pelo ponto de vista das vítimas, das autoridades, dos policiais, dos médicos. A intenção de dividir os olhares é nobre, no entanto, ela não permite que se compreenda ao certo de qual lado cada personagem está, nem o que deseja. A descoberta de fotos da garota fugitiva sugere alguma revelação que somos incapazes de avaliar, por não a conhecermos bem, enquanto a revelação da corrupção de um policial também soa morna, por desconhecermos ao certo as pessoas com quem ele negocia. Ao contrário de tantas séries que apostam num início bombástico, A Zona acredita que leves insinuações bastarão para fisgar o espectador. O roteiro inicial sequer explica como se deu a catástrofe radioativa.

As imagens possuem evidentes qualidades de produção, e o elenco composto por nomes como Eduard Fernández e Alexandra Jiménez não carece de talento para as trocas de diálogos – ainda que Fermí Reixach destoe negativamente pela artificialidade de sua composição. A trama tarda a revelar os preceitos básicos de um início de temporada: quem são exatamente os personagens, quais são seus conflitos, e o que desejam. O tema da sobrevivência, por si só, garante uma parcela de tensão, porém o aceno ao cinema de gênero e a proximidade com o terror surgem de maneira tão sutil, nos últimos minutos, que a série ainda parece reservada ao drama, mais do que ao suspense. Alguns momentos didáticos, como as vítimas explicando ao detetive tudo o que ele viveu no passado (como se o próprio personagem não o soubesse), ou a família que exclama “Estamos sem energia elétrica!” logo após ficarem sem energia elétrica demonstram o pouco refinamento na narrativa. Mesmo assim, há potencial para embates mais substanciais pela frente.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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