21 mai

Mesmo com cinemas abertos, 70% pretendem ver filmes em casa, aponta pesquisa

Pelo visto, quando as salas de cinema reabrirem após a pandemia de coronavírus, o único problema não será recuperar as graves perdas financeiras do setor, mas também reconquistar a confiança do público. De acordo com uma pesquisa da revista especializada Performance Research, efetuada com cerca de mil pessoas e reportada pela Variety, 70% dos espectadores pretendem continuar vendo filmes em casa, apesar da reabertura dos cinemas.

O receio é compreensível: ainda se conhece pouco sobre a Covid-19, não existe uma vacina contra o vírus e se cogita a possibilidade de uma segunda onda de contaminação no segundo semestre de 2020. Alguns remédios testados, como a hidroxicloroquina, não apresentaram eficácia contra a doença segundo o consenso médico, e novos estudos sugerem que pessoas previamente contaminadas não estão imunes a uma nova contaminação. Além disso, o aumento do desemprego e a crise econômica em geral fazem com que as salas de cinema se tornem menos acessíveis ao público médio.

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Ilustração: Variety

 

A pesquisa reflete esta insegurança: enquanto 70% dos espectadores preferem ver filmes em casa, apenas 13% privilegiam a sala de cinema para assistir a um filme, e 17% não têm certeza – sinal de que o comparecimento às salas não constitui uma prioridade. Em paralelo, 52% das pessoas pretendem evitar aglomerações por mais alguns meses, e 60% se declararam “amedrontadas” pela possibilidade de espaços coletivos e fechados. Estes índices cresceram em relação ao levantamento efetuado pela Performance Research nos meses anteriores.

No que diz respeito ao gênero cinematográfico que os levaria aos cinemas, os espectadores colocaram as comédias populares (43%) à frente dos dramas (35%) e das produções de super-heróis (33%), o que possivelmente indique uma busca por distrações após a angústia provocada pelos relatórios diários sobre a doença. Os filmes de terror atingiram apenas 19%, e filmes de ação sem super-heróis têm resultado ainda mais fraco, com 17%.

A intenção de comparecer às salas de cinema aumenta à medida que dispositivos de segurança e higiene forem implementados: 61% das pessoas se dizem mais propensas a frequentarem cinemas onde o uso da máscara for obrigatório, e 60% privilegiará os cinemas com número reduzido de espectadores – ou seja, com poltronas vazias entre os espectadores. Ainda por motivos de segurança, apenas 47% dos espectadores pretende consumir produtos como pipoca e doces – setor que proporciona uma renda significativa para as salas de cinema.

Bruno Carmelo

Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.

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