Para os cinéfilos, os festivais de cinema constituem uma boa oportunidade de descobrir novos filmes e vê-los em primeira mão, antes de ganharem os holofotes no mundo inteiro. Mas estes eventos também são fundamentais para o mercado do audiovisual: os maiores festivais do mundo proporcionam encontros para determinar a distribuição internacional dos filmes e firmar acordos de coprodução, sem falar nas premiações em dinheiro, importantíssimas para os novos projetos de diretores e produtores.

Por isso, o impacto do coronavírus nos festivais agendados para o primeiro semestre é imenso – o que inclui o impacto da suspensão de eventos nos comércios locais, na vida dos funcionários contratados, no turismo etc. Mesmo assim, por motivos de segurança, todos os governos responsáveis do mundo inteiro estão encorajando a população a evitar aglomerações o máximo possível. Deste modo, os principais festivais precisaram encontrar alternativas para continuarem a existir, ainda que de maneira segura e reduzida.

 

 

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A principal alternativa adotada diz respeito à exibição em plataformas virtuais. O É Tudo Verdade, maior festival brasileiro de documentários, anunciou uma dupla edição: inicialmente, em versão digital nas datas previstas (26 de março a 5 de abril), e depois, presencialmente, durante o mês de setembro. Resta saber quais dos títulos anunciados para a edição 2020 estarão disponíveis online, e em quais condições. Os realizadores prometeram fornecer mais informações dentro dos próximos dias, na página oficial do evento.

Algo semelhante ocorre com dois grandes festivais internacionais: SXSW e CPH:DOX. O primeiro, organizado na cidade de Austin, Texas, também é conhecido pelos concertos musicais e dezenas de eventos ao ar livre, todos cancelados na edição 2020. Mesmo assim, a diretora Janet Pierson decidiu manter as premiações de cinema: “Este deveria ser um evento transformador, mas com seu cancelamento, os cineastas ficaram abandonados”.

“Nós tínhamos diversos prêmios especiais do júri organizados via links, e como não poderemos mais apresentar o evento, decidimos continuar e expandir a todos os júris de mostras competitivas, caso a maioria dos diretores concorde [com este formato], e os júris estejam disponíveis. Sabemos que não é um substituto para os eventos ao vivo do SXSW, com sua fantástica plateia, mas pelo menos é uma maneira de chamar atenção a esses filmes maravilhosos”, conclui.

 

 

O CPH:DOX, um dos maiores festivais de documentários no mundo, tinha mais de 700 títulos selecionados para este, entre longas e curtas-metragens, em 220 exibições. Para não cancelarem por completo o evento, a solução foi uma parceria com a plataforma Festival Scope, que vai exibir alguns dos títulos online para o público dinamarquês. O festival busca manter a exibição de todos os filmes para os jurados por meio de links seguros, caso os produtores dos filmes aceitem manter seus títulos em competição nestas condições.

Outros grandes festivais, como Cannes, ainda precisam dar uma definição ao público entre o cancelamento completo ou versões alternativas. Por mais que a exibição online esteja longe de corresponder às expectativas destes eventos enquanto reunião social, possibilidade de troca de ideias e de experimentar os filmes na tela grande, ela ao menos garante uma forma de resistência e manutenção dos festivais no calendário cinematográfico, enquanto a pandemia não é controlada por completo.

 

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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