Crítica
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Sinopse
Parte fundamental da história da música popular brasileira, Luhli e Lucina foram pioneiras por lançar discos de forma independente no Brasil, como instrumentistas e na maneira como conduziram suas vidas pessoais.
Crítica
Há uma profunda ligação entre a natureza e a arte multifacetada da dupla Luhli e Lucina. Não à toa, as primeiras imagens de Yorimatã evocam essa cumplicidade. O cineasta Rafael Saar busca dimensionar as artistas como fenômenos espaciais, por assim dizer, ressaltando sempre que pode o valor delas para o meio, e vice-versa. Mesmo que haja suporte imprescindível dos depoimentos do agora, que dão conta de reavaliar o passado a partir de um distanciamento possível, os dispositivos que realmente importam para a beleza do filme são os fragmentos do ontem, de um tempo que deixou saudade. Demora-se intencionalmente no vislumbre dos shows iniciais e dos registros do cotidiano. A força da arte de Luhli e Lucina é desenhada na tela com uma reverência quase ritualística, necessária para que, ao menos minimamente, consigamos perceber com mais amplitude a expressividade de seus talentos.
Ao longo de Yorimatã, somos apresentados a essa trajetória marcada pela liberdade e por uma intenção irrefreável de cantar as coisas do coração com a mesma verdade com que se procura usufruir o amor. Assim como refutaram as gravadoras que tentaram de qualquer maneira colocar-lhes um cabresto, elas não ligaram para as convenções da sociedade quando se deram conta que a amizade havia virado amor. Luhli era casada com Luiz Fernando. Lucina, mais jovem, não hesitou em vivenciar com eles o relacionamento a três, numa comunidade fluminense afastada dos centros urbanos. As imagens de arquivo mostram ambas sendo mães dos filhos que ali cresciam, subsistindo do que a terra e o mar davam, aproveitando a aurora, muitas vezes, para dar vazão à criatividade, em composições que jorravam abundantes.
Yorimatã é formalmente moldado pela essência das retratadas. Vemos isso nas constantes associações poéticas entre imagens e palavras, e na maneira como o roteiro nega uma progressão estritamente cronológica e convencional. Ney Matogrosso, Tetê Espíndola, entre outros nomes mais ou menos conhecidos do grande público, aparecem para dar depoimentos. Estas participações externas são, geralmente, interações com Luhli e Lucina, pedaços de bate-papos do presente em que todos relembram o passado com um saudosismo não melancólico. Musicalmente falando, o filme é muito competente ao ressaltar a versatilidade da dupla. Elas trafegaram por diversas vertentes, negando rótulos e delimitações que pudessem restringir sua potência criativa. Singular, o trabalho com os atabaques só não chama mais atenção que a profundidade das letras e a beleza das melodias.
Em Yorimatã, fala-se muito de amor e pouco de sexo. Fica implícito, quando não ligeiramente explícito pelas carícias e os beijos na boca, que elas compartilharam um sentimento intenso, cujos lastros perduram até hoje. Luhli e Lucina viveram em função da arte e da vida, não fazendo muita distinção entre as duas. O documentário de Rafael Saar dá relevo considerável ao espirito de uma época pautada por formas menos automatizadas de estabelecer relações e fruí-las, uma era mais romântica e idealista. Outro mérito evidente é a valorização da importância musical de Luhli e Lucina. Cada fase sonora é registrada atenciosamente, com minutos preciosos rendidos à contemplação de gravações antigas que mostram a significância desse legado. Luhli e Lucina ganham uma homenagem à altura de sua envergadura artística.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 9 |
Edu Fernandes | 7 |
MÉDIA | 8 |
Em tempos de guerra, ou melhor, todos os tempos são de guerra e de paz, nada melhor do que ter contato com a beleza e a força do amor. Luhli e Lucina, a quem devo muito da "música em mim", pregaram isso com suas próprias vidas e arte. Concordo com seu olhar sobre o filme, Marcelo. Em Yorimatã, Rafael Saar conseguiu traduzir a essência e a sofisticação dessas duas mulheres e de sua música. Que bom ter a arte a serviço da ARTE!
Olá, Luhli Que legal ler seu comentário, muito obrigado pelo carinho. Que o filme viage bastante, que muita gente possa, assim como eu, tomar contato com a riqueza da trajetória artística e pessoal de vocês. Grande abraço
é um prazer se sentir compreendido, e esse prazer aumenta quado se trata de arte vida amor e verdade. Quando a gente estava vivendo essa historia não podia imaginar que hoje isso iria se transformar num filme assim tão belo, que eterniza nossa arte e nossa vida. Melhor ainda é ler uma critica como a sua, escrita por quem viu fundo e pelo avesso e entendeu as entrelinhas. Agradeço e assino embaixo. Abraço de LUHLI
Olá, Lucina Muito obrigado pelo comentário. Suas trajetórias mereciam mesmo um registro desse nível, empenhado não apenas nos relatos, mas em evidenciar a poesia que emana da arte de vocês. Beijo
Marcelo, minha gratidão por sua crítica. O seu olhar e percepção são especiais. grande beijo.lucina