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Sinopse

Os mutantes são considerados heróis nacionais em 1992. Cheio de orgulho, o Professor Xavier envia sua equipe para perigosas missões, mas a primeira tarefa dos X-Men no espaço gera uma explosão solar, que acende uma força malévola e faminta por poder dentro de Jean Grey.

Crítica

Após quase vinte anos de reinado absoluto, os super-heróis estão em crise nos cinemas. Ou seria exagero? Bom, o certo é que dos momentos de maior desconforto surgem também as melhores opções. E após mais de uma década do Universo Cinematográfico Marvel – que, após Vingadores: Ultimato (2019), se vê obrigado a recomeçar sob novo formato, abandonando alguns dos seus personagens mais carismáticos – e de presenciarmos o Universo Estendido DC se debatendo para seguir vivo sem fortificar suas raízes, sobra a um dos pioneiros ir atrás de uma sólida conclusão. A referência, portanto, são os X-Men, que tiveram seu primeiro suspiro logo na virada do século – X-Men: O Filme (2000) veio antes de todos os outros aqui citados – e agora, após mais de dez episódios, tenta oferecer um desfecho digno resgatando uma das suas sagas mais emblemáticas. Talvez por isso que X-Men: Fênix Negra se mostre muitas vezes preso a esse longo histórico, quando teria muito mais a ganhar se tivesse ousado trilhar um novo caminho.

Em certo momento da trama, é dito: “tudo o que ele pode lhe mostrar é o passado, venha comigo que lhe apresentarei o futuro”. Pois bem, parece que faltou coragem no diretor de primeira viagem Simon Kinberg para seguir o próprio conselho. Com a saída de Bryan Singer da franquia – ele foi diretor de quatro dos longas anteriores, mas desde as acusações de assédio que tem enfrentado (e sua conturbada saída de Bohemian Rhapsody, 2018) seu nome parece ter sido apagado das agendas mais poderosas de Hollywood – coube a Kinberg – produtor indicado ao Oscar por Perdido em Marte (2015) e roteirista de três outros capítulos da saga X-Men – assumir o comando deste projeto. E ele assim o faz sem arriscar muito: escolheu a trama da Fênix Negra, que já havia sido visitada em X-Men: O Confronto Final (2006) – justamente, o segmento que marcou sua estreia nesse universo, tendo sido responsável pelo roteiro filmado por Brett Ratner.

Sem contar com a ajuda do Wolverine (Hugh Jackman cumpre a promessa de ter se aposentado do personagem), sobra para outros conhecidos mutantes levar a narrativa adiante. Jean Grey (Sophie Turner, que não faz feio diante da energia que Famke Janssen havia apresentado ao defender o mesmo papel) sempre foi uma das mais poderosas alunas do Professor Charles Xavier (James McAvoy, irregular entre o obstinado e o arrependido). Após uma aventura no espaço que não saiu exatamente como o esperado – conseguiram salvar astronautas em perigo, mas ela acabou afetada por uma explosão solar – seus poderes saem do controle, o que a obriga a se afastar de todos, visando, com isso, protegê-los de si mesma. Sentindo-se traída por Xavier, que lhe teria escondido parte da sua origem, ela vai atrás do Magneto (Michael Fassbender, intenso na medida certa). “Você feria pessoas, mas conseguiu parar. Pode me ensinar a fazer o mesmo?”, ela pede. Mas o fardo que representa é forte demais até para o mestre dos metais. Assim, temos uma divisão: de um lado, os que acreditam que podem salvá-la (Xavier, Ciclope, Tempestade, Noturno), enquanto que do outro estão o que querem colocar um fim na ameaça que a garota representa (Magneto, Fera, Ariki, Selene).

Pois bem, isso seria mais do que suficiente para rechear de aventura e fortes doses de emoção um filme com início, meio e fim. Kinberg, no entanto, não se dá por satisfeito. E o que faz? Insere alienígenas no cenário. Esses, aparentemente indestrutíveis, são liderados por Vuk (Jessica Chastain, apática e sem orientação), que ao identificar no universo uma fonte quase inesgotável de poder, parte atrás com o objetivo de pegar para si tamanha força. Ou seja, é quase como se fosse Thanos, porém de saias e sem pedras preciosas. Mais do que uma distração, as interferências provocadas pelos invasores extraterrestres mostram-se verdadeiros distúrbios diante de um conjunto que tinha tudo para funcionar por si só, mas que acaba tropeçando nos próprios pés diante de tanta informação – ou ruído, para sermos mais exatos. Caso o foco tivesse ficado apenas nos mutantes e seus problemas internos, a história da Fênix Negra já bastaria para a discussão proposta. Com o acréscimo de visitantes que pouco se interessam pelo que passa entre os protagonistas, a apatia termina por contaminar também quem está no lado de cá da tela.

Em todos estes anos, os X-Men já foram excelentes (X-Men 2, 2003), ofereceram boas surpresas (X-Men: Primeira Classe, 2011), tiveram cruzamentos interessantes (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, 2014), apostaram no drama (Logan, 2017) e no deboche (Deadpool, 2016), mostraram-se desnecessários (Deadpool 2, 2018), exagerados (X-Men: Apocalipse, 2016) e constrangedores (X-Men Origens: Wolverine, 2009). Nunca, no entanto, haviam soado irrelevantes. X-Men: Fênix Negra chega perto disso, em diversas passagens escorregando nessa definição. O que o salva não é o que tenta oferecer de novo – inclusive o destino de Jean Grey, que havia sido melhor explorado na trilogia original – mas, sim, o carisma de personagens – e de seus excelentes intérpretes – que fizeram história. Por eles, seja em separado ou em grupo, revelando uma sinergia poucas vezes percebida antes, é que o resultado consegue ficar acima da média. Talvez não a melhor das despedidas, mas o bastante para não provocar nenhum (grande) arrependimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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