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Sinopse

Um professor de inglês viaja com dois jovens mochileiros para conhecer John Lennon na Espanha dos anos 1960.

Crítica

John Lennon é fonte de inspiração inesgotável. Seja na música, na literatura ou no cinema, a obra do falecido Beatle vira e mexe se transforma em referência para algo novo. Só nestes últimos tempos foram lançados dois filmes que trazem a figura do músico em destaque. Se em Não Olhe para Trás (2015), Al Pacino vivia um músico que mudava sua atitude após saber que Lennon havia escrito uma carta para ele no passado, em Viver é Fácil com os Olhos Fechados, são três os personagens que tem sua trajetória modificada com o contato – mesmo tangencial – com o autor de “Help!” e “Strawberry Fields Forever”, composições que aparecem de forma importante neste belo trabalho do diretor e roteirista espanhol David Trueba.

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Na trama, ambientada em 1966, conhecemos o professor de inglês Antonio (Javier Cámara), um homem obcecado pela obra dos Beatles e, principalmente, por John Lennon. Ao saber que o músico está na Espanha fazendo as vezes de ator no filme Como eu Ganhei a Guerra (1967), ele decide empreender uma viagem até o local das gravações para conhecer seu grande ídolo. Na viagem, conhece a bela cabelereira Belén (Natalia de Molina) e o jovem Juanjo (Francesc Colomer). Este fugiu de casa após desentendimentos contínuos com o pai policial (Jorge Sanz). Ela, grávida de poucos meses, abandonou o local em que foi deixada pela mãe, uma espécie de retiro que acolhe os bebês de mulheres que não desejam seus filhos após o parto. Trio formado e viagem à pleno, conhecemos estas três ricas figuras e observamos cada um crescer às vésperas do possível (mas improvável) encontro com o astro John Lennon.

Grande vencedor do Goya, o Oscar do cinema espanhol, com seis prêmios – dentre eles Melhor Filme, Diretor, Roteiro, Ator e Atriz Revelação, Viver é Fácil com os Olhos Fechados tem em sua mensagem positiva um de seus grandes trunfos. Vemos a jornada destes três personagens tão distintos, mas com objetivos parecidos. Cada um deles deseja se encontrar. Pode ser o professor que busca conhecer seu ídolo para preencher um vazio interno. Ou uma menina que engravidou acidentalmente e procura seu lugar no mundo. Ou o rapaz que não suporta os mandos e desmandos dos pais e quer dar um basta nesta situação. Este anseio se mostra forte o suficiente para que eles saiam de suas zonas de conforto e busquem seus objetivos, nem que para isso tenham que quebrar barreiras – ou quebrar a cara.

Javier Cámara é um dos atores espanhóis mais interessantes de sua geração. Consegue fazer com a mesma segurança e naturalidade papéis díspares como Fale com Ela (2002), À Moda da Casa (2008) e este Viver é Fácil com os Olhos Fechados. Como o sonhador Antonio, o ator consegue criar um personagem boquirroto e com um sorriso perene nos lábios, mas que esconde uma melancolia que é perceptível em seus olhos. Fazendo ótima dobradinha com ele, Natalia de Molina é uma verdadeira revelação. De beleza ímpar, a atriz enche a tela e convence como a perdida menina/mulher que busca por seu lugar no mundo.

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Utilizando um episódio real da vida de Lennon – as gravações do filme de Dick Lester Como eu Ganhei a Guerra na Espanha – para criar uma história fictícia e cheia de coração, o cineasta David Trueba faz um filme que acertará em cheio os fãs dos Beatles (a “presença” de John é curiosa) e também os não iniciados. Claro que, como uma produção com orçamento limitado, as canções do grupo britânico quase não dão as caras. Uma versão de “Strawberry Fields Forever” é assegurada, até por dar nome ao filme. E só. Talvez o único senão de uma produção simpática e cativante.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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