Crítica

Folhetinesco, exagerado, mas extremamente divertido. É possível resumir a comédia espanhola À Moda da Casa desta forma. Dirigida pelo estreante em longas-metragens Nacho G. Velilla e com um ótimo elenco encabeçado por Javier Cámara (de Fale com Ela) e Lola Dueñas (de As Mulheres do 6º Andar), o filme trabalha de forma leve assuntos polêmicos como a ausência paterna, o preconceito e a revelação da homossexualidade.


O roteiro é assinado pelo próprio diretor, ao lado de Oriol Capel, Antonio Sánchez e David Sánchez, e é centrado no chef de cozinha Maxi (Cámara). Com dois filhos que não vê há anos, divorciado da mulher e homossexual assumido, Maxi vive apenas para seu restaurante e sonha receber a estrela Michelin da crítica culinária. Quando sua ex-mulher morre, Maxi se vê obrigado a cuidar dos filhos, que não o têm em alta devido a sua ausência. Se não bastasse isso, a gerente de seu restaurante, a balzaquiana Alex (Dueñas), está desesperadamente à procura de um namorado, e coloca na cabeça que o vizinho de Maxi, o ex-jogador de futebol Horacio (Benjamin Vicuña), é a pessoa ideal. No entanto, mal ela sabe que Horacio joga no outro time – digamos assim – e está de olho em Maxi. Com essa confusão armada, o chef terá de deixar seu amado trabalho um pouco de lado para arrumar a bagunça da sua vida privada.

Apesar de trabalhar com diversos clichês, o roteiro de À Moda da Casa ganha pontos por conseguir transformar estes lugares comuns em momentos realmente engraçados. Muitos deles são protagonizados pelo ajudante de cozinha do restaurante de Maxi, Ramiro, interpretado por Fernando Tejero. O ator não acerta sempre, mas consegue divertir em grande parte das cenas.


Mas o filme é realmente de Javier Cámara, que pouco lembra o enfermeiro obcecado que viveu em Fale com Ela, de Pedro Almodóvar. Interpretando um personagem egocêntrico, perfeccionista e sem papas na língua, Cámara carrega o filme com uma atuação digna de nota. Sua parceira de tela, Lola Dueñas (também saída de trabalhos com Almodóvar), merece igualmente elogios por encarnar de forma divertida a atirada Alex. Fechando bem o trio principal, Benjamin Vicuña transmite simpatia com sua performance como o jogador de futebol que tem dificuldades em sair do armário.

As performances são o ponto alto do filme, mesmo sendo exageradas em certos momentos, beirando o teatral. Isso transforma À Moda da Casa em uma comédia frenética. A direção de arte lembra um folhetim mexicano, e este universo acaba se encaixando perfeitamente com as performances.

Se alguns clichês são retrabalhados pelos roteiristas de forma divertida, outros continuam sendo tão incômodos quanto em qualquer filme. Exemplo básico disso é o principal objetivo de Maxi, a estrela Michelin. Quantas histórias ambientadas em restaurantes ainda usarão a crítica culinária como parte de sua narrativa? Outro fator que incomoda é a virada de comportamento de alguns personagens, que soa extremamente falsa. Esses lapsos do roteiro acabam por atrapalhar um melhor resultado final de À Moda da Casa.


No entanto, são tantas as risadas nos pouco mais de 100 minutos de projeção que estes pequenos deslizes acabam atrapalhando menos do que poderiam. O clima de divertimento é tamanho que é difícil sair de À Moda da Casa sem se embriagar com a agitada rotina daqueles personagens. Mereceriam a tão almejada estrela Michelin só pela atmosfera cômica criada pelo elenco.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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