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Sinopse

Ao lado de sua família formada por parentes e amigos, Dom Toretto venceu diversos desafios que pareciam invencíveis. Agora ele enfrentará o mais letal de todos os inimigos, um emergente das sombras do passado.

Crítica

O primeiro filme da Saga Velozes e Furiosos era, basicamente, uma mistura de carros tunados e ação policial genérica. Os segundo e terceiro exemplares da franquia quase a sepultaram de tão fracos. Quando pouca gente acreditava que desse mato ainda sairia algum coelho lucrativo, veio o ótimo Velozes e Furiosos 4 (2009) reforçando a importância da família como subtexto. De lá para cá, a saga se estabeleceu e as estripulias foram ficando cada vez mais espetaculares. E uma das marcas positiva dos antecessores de Velozes e Furiosos 10 era o gosto pela ação prática, por uma noção de perícia genuína que caracterizava as cenas – especialmente as de perseguição automobilística. Nelas, os motoristas executaram coreografias milimetricamente pensadas para valorizar a intensidade da ação frenética entre curvas sinuosas e capotamentos de encher os olhos. À medida que as tramas começaram a comportar proezas que desafiavam as leis da física (entre outras regentes da natureza), fez-se necessário a utilização de efeitos visuais para atingir determinado resultado próximo do irreal. E é perfeitamente cabível que ninguém precise, de fato, jogar um carro em alta velocidade de uma ponte em direção a aeronaves ou mesmo pilotar submarinos enormes que se transformam em bólidos rápidos na região antártica. O exagero foi assimilado com sucesso e passou a ser objetivo: o que será mais incrível depois disso ou daquilo?

No que diz respeito à ação, Velozes e Furiosos 10 tenta o que dele se espera, ou seja, superar a barreira do extraordinário imposta pelos antecessores. A trama tem como ponto inicial algo que tínhamos visto antes: Toretto (Vin Diesel) está transitando em águas calmas até que alguém surge diretamente do passado tentando fazê-lo pagar por algo. Neste caso, o vilão é Dante (Jason Momoa), filho do mafioso internacional derrotado em Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (2011), alguém que não para de dizer que pretende fazer Toretto sofrer exatamente por aquilo que o chefe do clã de velozes e furiosos fez à sua...família. Se nos filmes anteriores essa noção de união parental se tornou valiosa como subtexto, aqui ela é explicitada a cada momento pelo roteiro que não parece acreditar na capacidade do espectador de juntar os pontos. São vários os personagens em cena que valem apenas por conta de seus elos de consanguinidade, do vilão caricatural à corredora brasileira que se revela ligada a alguém da estima do protagonista. Até as participações especiais de Rita Moreno, Helen Mirren e Brie Larson servem somente porque uma é avó, a outra mãe de alguém e a terceira por ser filha de um homem proeminente. Então, a família deixa de ser subentendida como força e passa a ser escancarada abertamente como valor a ser defendido e/ou vingado em meio ao caos. Dentro desse contexto, que maneira mais apropriada de colocar o herói contra a parede do que iniciar uma perseguição ao seu único filho?

Porém, tudo em Velozes e Furiosos 10 parece uma desculpa para reciclar procedimentos antes apresentados, em meio a cenas de ação que deixam a desejar. Como a família de personagens está inchada, a saída encontrada é situar os integrantes num contexto e criar pequenos enredos paralelos mais ou menos importantes para todos terem algum tempo de tela. Em outros exemplares da franquia isso funciona relativamente bem, mas aqui é a estratégia responsável por uma sensação de que nada de tão relevante acontece (embora os personagens teimem em afirmar o contrário). O núcleo com Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel e Sung Kang é tão desimportante que sua remoção não representaria prejuízos ao filme. Essa subtrama existe com o único intuito de trazer de volta um velho conhecido da Saga Velozes e Furiosos. Aliás, repetindo o expediente apontado como calcanhar de Aquiles do Universo Marvel, o cineasta Louis Leterrier parece mais preocupado em “ressuscitar” figuras importantes da franquia (a maioria delas em participações especiais) do que desenvolver apropriadamente o enredo para comportar tanta demanda. É muita gente para ser vista e realocada, o que faz da produção um enorme cabide de empregos com pouquíssima justificativa prática. Além disso, o retorno de alguns pretensos mortos deixa uma questão: ninguém morre de verdade em Velozes e Furiosos?

A saída de Justin Lin da direção por conta das famigeradas “diferenças criativas” e a admissão do francês Louis Leterrier acendeu um sinal amarelo aos fãs da Saga Velozes e Furiosos, afinal de contas era a troca de um dos responsáveis diretos pela revitalização da franquia por alguém cujas credenciais são questionáveis – entre outros, ele dirigiu Carga Explosiva (2022) e O Incrível Hulk (2008). E essa preocupação não era infundada. Um dos principais problemas de Velozes e Furiosos 10 é justamente a direção preguiçosa de Leterrier, a sua incapacidade de criar um pouco de autenticidade em meio à ação desenfreada e genérica que poderia (como antes) assumir consciência do absurdo e até brincar com isso. Uma das marcas registradas positivas da franquia é a eletricidade das cenas de ação, a habilidade dos condutores dos automóveis que faziam peripécias impressionantes. Dentro do que parece ser uma tática para reduzir custos (loucura, num filme que custou US$ 340 milhões), o cineasta dispensa a ação ao vivo em vários momentos e recorre a efeitos digitais. Como dito no primeiro parágrafo, é compreensível utilizar a computação gráfica quando os heróis fazem coisas capazes de quebrar regras da realidade, mas será necessário rodar uma perseguição em que automóveis de verdade são substituídos por equivalentes digitais – como na anticlimática e longa sequência na cidade de Roma, na Itália?

Cenas de Vin Diesel com evidente fundo verde são frequentes em Velozes e Furiosos 10, o que retira da saga a sua textura orgânica, principalmente no que diz respeito à ação. Se Velozes e Furiosos 5: Operação Rio foi parcialmente rodado no Rio de Janeiro para garantir a fidedignidade do cenário, dessa vez a aparente política de adequação de custos (especulação do crítico, não informação) cria favelas cariocas em estúdio, falseia tomadas externas ambientadas na Cidade Maravilhosa e recorre aos planos de cartões postais para a ação acontecer de novo no Brasil. Nem mesmo o protagonista Dom Toretto parece confortável nesse emaranhado de desculpas esfarrapadas para ir enxertando gente na telona e com isso diluir os dramas pessoais/coletivos em meio às pouco criativas perseguições automobilísticas (que nem são tantas assim). Michelle Rodriguez, Charlize Theron, Scott Eastwood e Jason Statham são coadjuvantes aproveitados para preencher espaços até a próxima demonstração espalhafatosa de um vilão que nunca amedronta e outro close-up em Vin Diesel ostentando semblantes nada convincentes de sofrimento. Já John Cena encena sua versão de Um Tira no Jardim da Infância (1990). O saldo é um filme chocho, no qual o drama é raso, a comédia é envergonhada e a ação é CTRL C + CTRL V sem muita personalidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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