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Sinopse

Atravessando um ótimo momento pessoal e profissional, o cantor Hugo Kari vai tentar reconciliar-se com o pai, para isso o encontrando no local onde a família passava férias no passado.

Crítica

É bem provável que Murilo Rosa seja um dos atores mais esforçados e, ao mesmo tempo, mais azarados do cinema nacional. Profissional de longa data na televisão, iniciou sua carreira cinematográfica há pouco mais de uma década, com o média-metragem Ismael e Adalgisa (2001). Porém a primeira experiência com o grande estilo aconteceu três anos depois, com o sucesso Olga (2004), que somou mais de 3 milhões de espectadores. Desde então o intérprete tomou gosto, e tem se aventurado em projetos duvidosos, que prometem muito e entregam pouco. Ao mesmo tempo em que longas como Orquestra dos Meninos (2008), Aparecida: O Milagre (2010) e No Olho da Rua (2012) reforçam sua posição como galã e protagonista, revelam também um péssimo gosto para escolhas profissionais. O que se repete em Vazio Coração, longa bem intencionado, porém que naufraga vertiginosamente dentro de suas próprias ambições.

Criado aos moldes das tais film comissions, propostas que visam viabilizar projetos cinematográficos em locais afastados dos grandes centros, apostando num possível retorno turístico, Vazio Coração teve seu orçamento de R$ 700 mil patrocinado pela Prefeitura Municipal de Araxá, cidade do interior de Minas Gerais. Acreditava-se, portanto, que com o sucesso do filme a região toda seria beneficiada – mais ou menos como Woody Allen fez com a capital francesa em Meia-Noite em Paris (2011) ou com a característica metrópole espanhola em Vicky Cristina Barcelona (2008). O problema é que o diretor e roteirista de primeira viagem Alberto Araújo, vindo da televisão, está longe de ser um realizador à altura do neurótico nova-iorquino vencedor de quatro Oscars. Como resultado, temos um projeto que não consegue esconder suas intenções mais óbvias – ser uma peça publicitária – e que frustra qualquer espectador em busca de algum conteúdo artístico relevante, à despeito da entrega dos envolvidos.

Murilo Rosa, também estreando como produtor, é o cantor sertanejo Hugo Kari, filho único do embaixador Mário Menezes (Othon Bastos). Apesar do impressionante sucesso popular que desfruta, o artista possui uma grande mágoa – o distanciamento do pai, que o culpa pela morte da mãe, anos atrás. Ela viajava à bordo do jatinho particular do filho quando um acidente a matou. Se ambos sofrem, cada um escolheu um modo diferente para lidar com sua dor: enquanto um aproveitou o sentimento ruim como combustível para suas composições musicais, o outro se ressente desse uso, culpando-o ainda mais. Vazio Coração é, portanto, uma história de reencontro familiar. Porém este acontece estrategicamente no Grande Hotel Termas e em demais pontos turísticos de Araxá, onde se passa maior parte da trama, de modo a agradar quem está pagando as contas.

Pouca coisa faz sentido em Vazio Coração. O filme começa com o protagonista indo a Brasília encontrar o pai, que se recusa a recebê-lo. Por quê, portanto, aceitaria o convite de ir vê-lo na pequena e afastada cidade mineira? Outra incongruência é o fato de Bastos, de 80 anos, aparece como cunhado de Lima Duarte (em participação especial), de 83. E Murilo, sempre muito dedicado, faz o que pode, inclusive interpretando todas as canções do filme com sua própria voz – e nisso se sai razoavelmente bem, a despeito das letras exageradamente bregas. A trama se passa em pouco mais de 90 minutos, sendo praticamente dois terços desse tempo na cidade patrocinadora – onde nada acontece além de conversas amargas entre pai e filho, que pouco acrescentam ao que já se sabe. Há erros grosseiros de edição e continuidade – a primeira conversa dos dois, nas ruínas, é de doer os olhos de tão mal montada – e a fotografia é estudada para agradar esteticamente, porém sem relevância para o andar do enredo.

Vazio Coração é, em última instância, um projeto de muitas aspirações, porém de poucas realizações. Trata-se de um filme que dificilmente irá recuperar seu investimento, e aos dedicados que forem conferi-lo cabe a dúvida se conseguirão encontrar estímulo para conhecer tal região propagandeada, pois o enfado no qual ela é apresentada é tamanho que não serão poucos os que deixarão a sessão bocejando. Trata-se, portanto, de um legítimo tiro no pé, de efeito contrário ao esperado. Raso e superficial, foge de todos os caminhos possíveis que poderia resgatá-lo da mesmice, resignando-se ao óbvio. É uma pena reconhecer esse desperdício, ainda mais quando estão envolvidos atores determinados a participar de algo relevante, que no entanto carece de estrutura para oferecer um retorno à altura.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
4
Alysson Oliveira
3
MÉDIA
3.5

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