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Sinopse

Vicky e Cristina são turistas norte-americanas que chegam à Espanha. Elas conhecem um pintor que as convida para passar o fim de semana em seu atelier. Porém, as coisas complicam quando a ex-namorada do artista aparece.

Crítica

Woody Allen é realmente impressionante: numa época em que muitos acreditavam que ele estava acabado, o diretor e roteirista se reinventou de um modo fantástico. E dos seus últimos trabalhos, indiscutivelmente o melhor é este Vicky Cristina Barcelona, em que une a suas neuroses habituais um delicioso tempero latino. E como essa mudança de ares lhe fez bem. Depois de passar alguns anos na gélida Inglaterra – de onde vieram o supervalorizado Match Point (2005), o irrelevante, porém divertido Scoop: O Grande Furo (2006), e o menosprezado O Sonho de Cassandra (2007) – Allen continuou suas andanças pela Europa e foi parar na Espanha, cenário mais do que apropriado para a história de duas turistas americanas em busca de algum sentido para suas apagadas vidas. Cor, sentimento e emoção? Estamos no lugar certo.

Vicky (Rebecca Hall) é uma garota certinha, noiva de um rapaz com um futuro brilhante. Ela está prestes a completar seu doutorado e parece ter todo a sua vida já desenhada. Cristina (Scarlett Johansson), por outro lado, está desorientada, não sabe bem o que quer e está disposta a qualquer surpresa que possa surgir. E esta se faz presente na pele do pintor Juan Antonio (Javier Bardem, aparentemente perdido entre tantas mulheres), que as convida para um final de semana de sexo e descobertas no interior. A princípio reticentes, acabam aceitando. Mas é claro que nem tudo sai como o imaginado.

Se o interesse inicial dele era por Cristina, o mesmo logo se transfere para Vicky, para em seguida acabar retornando à primeira. Mas a futura noiva não esquece o que aconteceu numa única noite, e todas as suas crenças ficam abaladas. Enquanto isso, Cristina parece ter encontrado naquele homem singular as motivações que sempre procurara, até o momento em que um novo ingrediente é adicionado: a ex-mulher dele, Maria Elena (uma insuperável e deslumbrante Penélope Cruz), uma artista neurótica pretensamente suicida que, diante tamanha instabilidade emocional, é levada a morar com eles. E o que era estranho vira confuso, para se tornar real, dinâmico, delicioso e, finalmente, tedioso. E então o ciclo se completa, pronto para um novo início.

Vicky Cristina Barcelona é Woody Allen em estado bruto, por maior que seja número de mudanças que ele parece ter concedido ao seu estilo tão reconhecível. Os diálogos são primorosos (speak english, Maria Elena virou o bordão da temporada!), os personagens são repletos de camadas e diferentes interesses, acrescentando a cada momento um novo sabor à mistura que provocam, e os desenlaces da trama provam que, diante do material certo e das motivações certas, realmente não há como uma receita conduzida por ele dar errado. Premiado no Oscar (Melhor Atriz Coadjuvante para Cruz, fenomenal) e no Globo de Ouro (Melhor Filme em Comédia ou Musical), este é um daqueles longas para se degustar com cuidado, saboreando cada momento durante a projeção e para depois levar consigo, como a sensação de um prazer secreto e, quase, inconfessável.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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