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Sinopse

Antes de irem todos morar na pensão da Dona Jô, Jéssica, Ferdinando e Máicol sequer se conheciam. Mas quando Terezinha decide organizar uma grande feijoada no Morro do Cerol, essa turma irá se encontrar pela primeira vez!

Crítica

Sucesso do canal Multishow, o seriado Vai Que Cola (2013-) está atualmente na sua sexta temporada – e a sétima já foi confirmada. E se no começo a boa repercussão se apoiava quase que exclusivamente nas costas de Paulo Gustavo – todo o resto do elenco era formado por coadjuvantes que serviam de ‘escada’ para o comediante – aos poucos outros nomes começaram a ganhar destaque. Primeiro foi Samantha Schmütz, depois Marcus Majella, logo em seguida Cacau Protásio. Quando perceberam, novatos como Emiliano D’Avila e Fiorella Mattheis estavam recebendo tanta atenção quanto veteranos como Catarina Abdalla e Silvio Guindane, entre outros. Esse conjunto coeso foi testado na tela grande pela primeira vez em Vai Que Cola: O Filme (2015), que acabou levando mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas. Uma continuação, portanto, seria mais do que esperada. Só um detalhe: em 2017, no meio da quinta temporada, a maior estrela do show – Paulo Gustavo – abandonou o programa. E se a série precisou descobrir como se manter no ar mesmo sem o seu maior chamariz, o mesmo se repete agora em Vai Que Cola 2: O Começo, que reúne a turma já conhecida da televisão, porém com uma notável ausência.

Por mais que haja um número “2” no título, esta não é uma sequência, e, sim, o que os norte-americanos costumam chamar de ‘prequel’, ou seja, uma história que se passa antes dos eventos exibidos anteriormente. Dessa forma, os dois longas dirigidos por César Rodrigues se ocupam, basicamente, da mesma coisa: mostrar como esse grupo tão diverso de pessoas acabou reunido sob um mesmo teto – no caso, a pensão da Dona Jô (Abdala). Em Vai Que Cola, a série, estão todos lá, inclusive o malandro Valdo (Paulo Gustavo), fugido da Zona Sul – portanto, Vai Que Cola: O Filme também era uma prequel, só que do seriado, e tinha como missão mostrar o que teria acontecido ao folgado para que ele precisasse fugir da vida de abundância e conforto para ter que se refugiar no Méier. Vai Que Cola 2: O Começo, na verdade, é a prequel da prequel, ou o começo antes do começo, por assim dizer. Dona Jô ainda não tem pensão alguma, Jéssica (Schmütz) e Máicol (D’Ávila) estão recém se conhecendo, Ferdinando (Majella) estava saindo do interior, Terezinha (Protásio) seguia dona do morro e Velna (Mattheis) não havia revelado sua real natureza.

O curioso é que o roteiro escrito por Renato Fagundes (Sob Pressão, 2016), João Paulo Horta (Os Penetras 2: Quem Dá Mais?, 2017) e Leandro Soares (Crô em Família, 2018) – todos, aliás, há muito envolvidos também com o show televisivo – por mais que não consiga evitar o aspecto de colcha de retalhos, de uma forma ou de outra consegue dar um jeito, ainda que aos trancos e barrancos, de ligar todas as pontas – por mais que uma ou outra sigam soltas ao término da sessão. Ferdinando deixa sua cidade natal e, no caminho para a capital, acaba ficando amigo de Máicol – uma ligação prévia que nunca teve função alguma para a dinâmica dos personagens. Os dois, ao chegarem no Rio de Janeiro, bem ou mal acabam envolvidos com a festa de comemoração da volta de Tiziu (Fábio Lago), o bandido que manda na comunidade e é amante de Terezinha. Ele está saindo da prisão, e ela coordena a feijoada que irá oferecer na festa de recepção. Há a inserção de um inimigo tão ou mais perigoso, mas isso nunca chega a ser uma preocupação verdadeira – soa mais como uma distração, um elemento que talvez funcionasse num contexto mais realista, mas da forma como é trabalhado não chega a imprimir maior relevância.

Resta, assim, o proveito de tipos periféricos, como o Lacraia de Guindane, que ameaça um protagonismo, mas logo é deixado de lado assim que o par Jessica-Máicol se confirma. A Shirley de Alice Morena (Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez Renegarás Tua Mãe, 2017) é outra figura que merecia mais espaço, ao invés de apenas oferecer as condições necessárias para que aqueles ao seu lado criem suas próprias gags. Por outro lado, também não chega a ser desperdiçada como o Sanderson de Marcelo Médici (em suas duas inserções, oferece a mesma piada do ‘caiu de paraquedas’) ou, em situação pior, o constrangimento que é ver Sergio Mallandro ser reduzido a uma participação especial sem falas, entrando em saindo de cena tão rapidamente que, aquele que piscar, irá perdê-lo. Não que fosse fazer grande diferença, também, mas não é bem esse o caso. O que importa é como foi possível reunir talentos como esses e, mesmo assim, não oferecer momentos de brilho a todos. Há um notório desequilíbrio em cena, e a culpa não está nos atores – esses, ao menos, se esforçam para justificar o óbvio: a existência de um Vai Que Cola sem seu protagonista, afinal.

É por isso, portanto, que o espectador se vê diante de momentos genuinamente hilários, como o videoclipe de Lua de Cristal, da Xuxa, dessa vez protagonizado por Ferdinando – uma personagem tão ligada à personalidade de Marcus Majella que é praticamente impossível saber, a esse ponto, quem é o criador e quem é a criatura. Por outro lado, é de que se questionar a quem se dirige passagens como essa – afinal, os adolescentes de hoje nem eram nascidos quando o maior sucesso da Rainha dos Baixinhos chegou às telas. Mesmo o sonho inspirado na Carminha de Avenida Brasil já tem uns bons sete anos de estrada – a novela foi ao ar em 2012! Com um humor envelhecido e tendo que lidar com um fiapo de roteiro que mal consegue cumprir o mínimo que dele se espera,Vai Que Cola 2: O Começo é uma comédia de alcance limitado, que deve provocar algum efeito entre os fãs que seguem sintonizados no programa, mas pouco deve instigar entre os que há muito já abandonaram esse barco – tal qual bem fez Paulo Gustavo há um par de anos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Francisco Carbone
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MÉDIA
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