Crítica


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Sinopse

O Uruguai se posicionou na vanguarda da luta por justiça social no século XXI por conta dos movimentos sociais que colocaram na agenda do presidente José Mujica reivindicações como a legalização da maconha, o matrimônio igualitário, o aborto e a lei de cotas para os negros.

Crítica

Nas últimas décadas, o Uruguai tem se destacado entre as nações sul-americanas no que diz respeito aos avanços na esfera social, tendo a luta contra o racismo, pelos direitos das mulheres, a legalização do consumo da maconha, a regulamentação do aborto, o casamento igualitário, entre outros tópicos, passado a ocupar um lugar cada vez mais significativo na agenda política do país, em especial durante o governo do presidente José “Pepe” Mujica (2010 – 2015). É o retrato dessa trajetória de contendas e conquistas populares que Uruguai na Vanguarda, documentário dirigido pelo brasileiro Marco Antonio Pereira, pretende apresentar, trazendo um panorama que remonta ao início do século 20 e passando de maneira mais enfática pelo período pós-ditadura militar, a partir de meados da década de 1980, quando a reabertura à democracia proporcionou o espaço necessário ao debate e à participação efetiva da sociedade nos processos políticos.

Para embasar seu relato histórico, Pereira dispõe de uma vasta gama de entrevistados – historiadores, sociólogos, políticos, professores, estudantes e ativistas – que, além do papel informativo, se propõem a acrescentar questionamentos e provocações acerca dos assuntos abordados. Extrapolando a pura exaltação das transformações alcançadas, responsáveis por colocar o país na posição vanguardista referida no título, dando origem, inclusive, à alcunha de “Suíça das Américas” – mencionada em mais de uma ocasião durante a projeção –, os depoimentos resvalam numa investigação, ainda que discreta, da identidade do povo uruguaio, que carrega um orgulho de tal faceta avançada perante o resto do mundo, até mesmo por parte daqueles que não necessariamente se mostram favoráveis às causas e leis criadas para ampará-las. Estas leis, por sinal, acabam sendo o ponto central da discussão, que traz não apenas o detalhamento de suas origens e funcionamento, como também a exposição de suas falhas, brechas e possibilidades de aprimoramento. É o caso de todo o caminho burocrático que envolve a lei referente à regulamentação do aborto, e que parece seguir na direção contrária a seu propósito.

Contudo, se por um lado o longa desfruta de um conteúdo relevante, por outro sofre com uma apresentação bastante frágil do mesmo. Optando pela estrutura mais didática possível, a construção narrativa de Pereira se mostra limitada em quase todos os aspectos, desde os técnicos, como a captação irregular de imagem e som das entrevistas – iluminação e enquadramentos descuidados, qualidade de áudio oscilante – até a utilização simplória de recursos ilustrativos, como as imagens de arquivo, os textos complementares que surgem na tela como verbetes enciclopédicos ou mesmo o elemento musical. Em nenhum momento o diretor esboça uma elaboração imagética que fuja à mera tradução literal daquilo que está sendo dito pelos entrevistados. E mesmo quando parece almejar uma representação menos concreta, com algum vestígio simbólico, o resultado se mostra trivial, como as sequências que passeiam pelas ruas e pontos turísticos de Montevidéu.

O mesmo ocorre com a tentativa de mergulho no candombe – ritmo de origem africana baseado no toque dos atabaques – e na mítica do cortiço Mediomundo, verdadeiro templo da cultura afro-uruguaia, que, por mais valoroso que seja, acaba ganhando um tempo de tela descompassado em relação aos demais temas. Basicamente nulo em termos criativos, Uruguai na Vanguarda resulta bastante frágil como obra artística/cinematográfica, restando como ponto favorável a abertura salutar para tratar de assuntos em evidência – especialmente diante do direcionamento atual do cenário político mundial – e com um conteúdo embasado. Assim, o resultado pode ser comparado a um palestrante que visivelmente possui conhecimento sobre o tema, mas que não detém o domínio da oratória ou de ferramentas complementares que possam não só garantir o interesse do público, mas também proporcionar a imersão, fazendo com que suas palavras reverberem e provoquem a reflexão mais profunda.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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