Ursinho Pooh: Sangue e Mel
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Rhys Frake-Waterfield
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Winnie-the-Pooh: Blood and Honey
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2023
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Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
Depois de serem abandonados por Cristóvão, Pooh e Leitão começam a se comportar de modo agressivo e a matar todas as pessoas que veem pela frente. Um grupo de mulheres se torna vítima dessas criaturas furiosas.
Crítica
A premissa desta novidade curiosa do cinema de horror é interessantíssima. Pegue personagens consolidados no imaginário popular como símbolos de fofura, subverta a bondade/candura e a transforme em agressividade. A turma do Ursinho Pooh acompanhou a infância de gerações, assim se tornando parte do crescimento de muita gente. Depois que o romance original assinado por Alan Alexander Milne, publicado em 1921, caiu em domínio público, qualquer um pode brincar ao seu bel prazer com esse universo colorido, fazendo dele o que bem entender. E isso possibilitou produções como Ursinho Pooh: Sangue e Mel, transfiguração dos animaizinhos queridos que habitam o Bosque dos 100 Acres em criaturas brutais sedentas de sangue. Essa notável quebra de expectativa poderia render um filme com camadas extras de horror, afinal de contas a ideia de “nem mesmo os nossos amigos mais queridos estariam livres de virar homicidas assustadores” poderia ser poderosa por justamente acessar nossas memórias e as revirar. Mas, para isso o filme precisaria ser um pouco mais do que um monte de convenções reunidas em torno do princípio mal desenvolvido com cara de desculpa esfarrapada para perpetuar chavões e camuflar a falta de qualidade. O prólogo desenhado é a melhor coisa dessa iniciativa que tem dois personagens da turma de Pooh: o próprio ursinho barrigudo e uma versão terrível de Leitão.
O primeiro grande problema de Ursinho Pooh: Sangue e Mel é o abandono rápido dos elementos que poderiam conectar a versão terrífica ao imaginário fofo inerente aos livros e às versões animadas lançadas com o selo da Disney. Aqui o Bosque dos 100 Acres não é mais do que uma floresta típica dos filmes de terror, caracterizada por instalações abandonadas e muito equipamento enferrujado. Pooh e Leitão se tornaram criaturas vingativas que exterminam as pessoas de passagem por lá. E o culpado disso é o agora crescido Cristóvão (Nikolai Leon) – Christopher Robin, no original. O menino deixou os amigos para trás quando foi preciso amadurecer, submetendo-os à toda sorte de sofrimento, situação que culminou no canibalismo simbólico. A raiva alimentada pela tristeza e negligência é utilizada como explicação para o surgimento dos vilões sem limites no quesito matança. Mas, Cristóvão sai logo de cena, voltando próximo ao final como alguém torturado que ainda tem chances de sobrevivência. Logo surge um grupo de mulheres que desejava apenas relaxar num cenário bucólico, longe dos telefones celulares e das preocupações, mas que rapidamente se torna o alvo preferido de Pooh e Leitão. Sim, o que veremos é uma matança anacrônica de diversos corpos femininos ingênuos e constantemente enfatizados pela voluptuosidade. Se ao menos isso tudo fosse autorreferente...
A direção de Rhys Frake-Waterfield não consegue imprimir tensão nos quase 90 minutos dessa caçada em que Pooh e Leitão (cujas máscaras são semelhantes) evisceram as visitantes. Fica claro qual delas será a famigerada final girl – tropo dos filmes de terror que se refere à última mulher sobrevivente para enfrentar o assassino. Uma vez que está se valendo de tantos clichês das produções slasher (armas cortantes, assassinos simbólicos, grupos dizimados, férias na floresta interrompidas por crimes, etc.), o realizador poderia fazer de Ursinho Pooh: Sangue e Mel uma deliciosa jornada autorreferente, alimentada pela consciente reciclagem de elementos desgastados com a intenção de homenagear uma tradição. No entanto, como isso não acontece, o longa-metragem se torna um amontoado de lugares-comuns repetidos sem personalidade e nem ao menos um senso de adequação à atualidade. Uma das primeiras mortes femininas é indicativa disso, pois Pooh faz questão de expor os seios de sua vítima como último gesto antes de esmagar a cabeça dela contra uma estrutura de metal. A gratuidade desse gesto poderia ser utilizada como comentário satírico de algo frequente nos filmes slasher – exatamente a exposição fetichista da nudez antecedendo a brutalização do corpo feminino. Mas, do jeito como a situação é mostrada, temos somente a reiteração (e o reforço) desse clichê antiquado.
Contudo, a decepção não passa apenas pelo anacronismo. Ursinho Pooh: Sangue e Mel rapidamente esgota a sensação de perigo que deveria ser expressada a partir da experiência dos personagens como vítimas dos homicidas sobre-humanos. Parece que o único efeito conhecido por Rhys Frake-Waterfield para sugerir atmosferas terríficas é o feixe de luz demarcado emergindo da floresta, geralmente às costas dos agressores. As tomadas são excessivamente parecidas em tom e abordagem. Há uma preparação simples que contempla mulheres sozinhas/indefesas, a aproximação sorrateira dos assassinos, a breve correria temperada por gritos estridentes e uma trilha sonora genérica, e, por fim, a manifestação da agressividade de Pooh e Leitão por meio da aniquilação das vítimas. Um aspecto positivo é a maquiagem, sobretudo a encarregada de mostrar o resultado repulsivo das ações do ursinho e do leitão que agem motivados pela vingança contra Cristóvão. Esquematicamente, o roteiro assinado pelo próprio diretor cria um caminho para que homem e mulher solitários constituam uma dupla irmanada pela dor – ela tapando o buraco deixado pela morte da noiva dele; ele sendo o irmão de sofrimento que pode fazê-la superar o trauma causado por homens. Felizmente, no último terço há um desvio considerável dessa dinâmica, mas nem tal subversão consegue tirar da boca o gosto de frustração. Pena que uma premissa tão interessante tenha sido tão mal desenvolvida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 1 |
MÉDIA | 0.5 |
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