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Sinopse

Karina faz das tripas coração para viver o primeiro relacionamento decente de sua vida. Todavia, o homem por quem ela está apaixonada parece mais interessado em si mesmo.

Crítica

Não é preciso mais do que as duas primeiras cenas de Uma Noiva em Apuros para se detectar o tipo de humor predominante nesta produção polonesa – no caso, o pastelão pueril e caricato – bem como para constatar que o diretor Bartosz Prokopowicz firma seu segundo longa-metragem, de modo escancarado, sobre os pilares das comédias românticas hollywoodianas, especialmente aquelas lançadas na década de 1990. Trate-se, portanto, de um produto que já nasce datado, repleto de clichês desgastados e de uma visão de mundo antiquada, apresentando conceitos que geram um ruído diante das transformações da sociedade nos últimos anos: a ideia das mulheres acima dos 30 anos desesperadas por um relacionamento a qualquer custo, a mãe que agradece aos céus pelo fato de a filha “não ficar para tia”, do status social como o fator central na busca pelo par ideal, do homem que trabalha como figurinista sendo automaticamente tratado como gay etc.

Ao longo da projeção, a ambição de Prokopowicz se confirma como a da mera réplica, sem nenhum esboço de uma tentativa de subverter os conceitos expostos, de fazer críticas ou de buscar qualquer traço de originalidade que fuja à cartilha seguida. Dessa forma, acompanha-se sem surpresas a história de Karina (Julia Kaminska), mulher com seus 30 anos de idade que trabalha como produtora de elenco de um reality show musical infantil e que acaba de terminar o seu relacionamento com o diretor do programa, Darek (Piotr Adamczyk), homem narcisista, mulherengo e que nunca havia assumido o compromisso perante a família da parceira. Sem coragem para dar a notícia do término à mãe, ocupada com os preparativos do casamento de Basia (Sonia Bohosiewicz), a filha mais velha, Karina decide procurar alguém para se passar por Darek e acompanhá-la na cerimônia.

O escolhido para a missão é Szymon (Piotr Stramowski), um taxista que viu sua carreira como jogador de futebol ser encerrada após a morte de sua esposa e que agora transfere esse sonho esportivo para seu filho, o jovem Tolek (Jan Szydlowski). O garoto, ainda que com desenvoltura para o esporte, o faz apenas para agradar o pai, já que seu grande talento, e verdadeira aspiração, é a música. Paixão que o leva, com o apoio do avô e sem o conhecimento de Szymon, a conquistar uma vaga justamente no programa de Karina, que por sua vez não sabe do parentesco entre Tolek e seu “falso Darek”. A partir desta teia de mentiras, equívocos e desencontros cria-se uma trama completamente previsível, com reviravoltas e resoluções facilmente antecipáveis: dos planos de Darek para separar Karina e Szymon ao desfecho da relação.

Todo esse percurso é marcado por conflitos frágeis e situações inverossímeis, artificiais, além de subtramas desinteressantes e de efeitos cômicos limitados, como a desconfiança de Basia a respeito de um possível caso de seu noivo com um amigo do passado. Além do teor derivativo do roteiro – surpreendentemente, em um sentido nada positivo, escrito por duas mulheres – e que se alonga para além do que o simplismo de sua premissa demanda, Prokopowicz não demonstra maior habilidade como realizador para fugir da obviedade, esgotando rapidamente seu arsenal de muletas narrativas, como as montagens musicais – embaladas em sua quase totalidade por músicas pop em inglês – já no primeiro ato. O elemento musical, por sinal, que poderia garantir alguma personalidade ao trabalho, é muito mal explorado, com a trajetória de Tolek no reality show oferecendo um peso dramático quase nulo. Somente no clímax, que tem como trilha o clássico “My Way”, de Frank Sinatra, existe alguma faísca emotiva. Esta, porém, se deve muito mais ao peso da própria canção do que a algum mérito de construção narrativa de Prokopowicz.

Por mais que os intérpretes do casal central sejam carismáticos, assim como a dupla formada por Tolek e seu avô, a banalidade do desenvolvimento dos personagens, somada ao tom caricatural exagerado de outros coadjuvantes, como Darek, domina o resultado de Uma Noiva em Apuros. Um filme que surge como objeto anacrônico, carregado justamente de elementos questionados por um olhar em retrospecto, e que têm sido revisitados e ressignificados pelos atuais exemplares do gênero das comédias românticas. Em sua embalagem aparentemente despretensiosa e inofensiva, o trabalho de Prokopowicz apenas reafirma esses estereótipos contestados, não oferecendo maiores oportunidades de mudança e aprendizado aos seus protagonistas. Pelo contrário, o longa acaba até mesmo premiando o comportamento condenável de Darek, por exemplo, sendo conivente com mais um conceito questionável, o da mulher submissa e manipulável – na figura da assistente do diretor. Fatores que tornam ainda mais problemático um trabalho já com poucos atrativos.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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