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Sinopse

John Nash é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas, aos poucos, ele vai se transformando em um sofrido e atormentado homem, que chega a ser diagnosticado como esquizofrênico. Porém, após anos de luta para se recuperar, consegue retornar à sociedade e é premiado com o Nobel.

Crítica

Fazer uma cinebiografia é uma tarefa dos deuses. Afinal, não há perfeição, pois sempre existe alguém que vai reclamar da falta de algum fato importante, ou de que nem tudo foi fiel ao que realmente aconteceu, etc. No caso de Uma Mente Brilhante, vencedor do Oscar de Melhor Filme, o que se vê é uma produção bem realizada, mas que sofre por não abordar uma parte importante da vida do homenageado, demonstrando falta de coragem (ou vontade) de seus produtores em tocar temas mais penosos. No caso, o “lado homossexual” de John Nash que o levou para à prisão.

O protagonista, interpretado por Russell Crowe, é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que, apesar de provar sua inteligência extrema, começou a deixa-lo esquizofrênico.  Ao mesmo tempo, ele precisa lidar com o casamento com Alicia (Jennifer Connelly)l e é assediado pelo serviço secreto norte-americano, representado pela figura do agente William Parcher (Ed Harris), para decifrar enigmas dos soviéticos. Anos depois e já recuperado, o talentoso cientista ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1994.

O longa de Ron Howard se prende mais a estes três períodos da história de Nash exatamente como propõe o cinema clássico: a jornada do herói dividida entre o início do apogeu, a dificuldade enfrentada e a resolução feliz. Não que a vida do matemático não tenha sido deste jeito, mas como consta na biografia escrita pela jornalista Sylvia Nasar e na qual o filme é baseado, Nash foi à prisão em 1954 por comportamento indecente. Tudo por conta dos seus “desvios” de homossexualidade. No longa isto é quase 99% excluído, ainda que uma cena em um jantar dê a entender uma troca de olhares quase de fundo sexual entre ele e outro homem.

Não que isto afete a obra como um todo. Talvez o principal problema do filme seja a visão extremamente romântica da história, como se Alicia fosse a esposa perfeita que ama tanto o marido a ponto de sofrer quase em silêncio pelos seus transtornos. Jennifer Connelly acaba se destacando justamente por ter tão pouco em mãos e transformar esta mulher em um poço de emoções profundas e, por vezes ambíguas. Sua atuação lhe valeu o Oscar de Atriz Coadjuvante.

Por falar na Academia, chega a ser engraçado como os votantes costumam errar em suas escolhas. Em 2000, a briga era acirrada na categoria de Melhor Ator e muitos acharam que Russell Crowe merecia o prêmio por O Informante (1999). No ano seguinte, ganhou por Gladiador (2000) como compensação. Já em 2001, o ator realmente merecia a estatueta por este trabalho devido à intensidade e humanidade que ele imprime à loucura de Nash. Porém, o agraciado foi Denzel Washington por Dia de Treinamento (2001), que também foi um “injustiçado” da noite de 2000 por Hurricane: O Furacão (1999).

Premiações à parte, o cineasta Ron Howard, sempre no correto e sem inovações, dosa bem o drama, o romance e o suspense que tomam conta da história de Nash. Quem assistir A Teoria de Tudo (2014) e O Jogo da Imitação (2014), cinebiografias indicadas ao Oscar neste ano, vai notar a semelhança que há por trás destas narrativas no quesito construção linear e romantizada. Como visão hollywoodiana da história, é um bom filme. Mas, com o perdão do trocadilho, não tão brilhante assim.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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