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Sinopse

Ao saber que a supostamente sadia esposa do vizinho morreu de um ataque cardíaco, Larry e Carol ficam chocados. Ao verem o viúvo sorridente, eles começam a desconfiar que ele pode ter assassinado a esposa.

Crítica

Não é raro ver Woody Allen beber na fonte de outras obras ou autores para construir seus roteiros. Crime e Castigo, de Dostoiévski, por exemplo, rendeu dois filmes bastante diferentes: Crimes e Pecados (1989) e Match Point: Ponto Final (2005); Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, foi citado em O Dorminhoco (1973) e serviu de base para Blue Jasmine (2013); A obra de Ingmar Bergman é referência óbvia em Interiores (1978) e ganha traços cômicos em A Última Noite de Bóris Grushenko (1975); Enquanto isso, o diretor italiano Luchino Visconti empresta Rocco e seus Irmãos (1960) de forma bem livre para Hannah e suas Irmãs (1986). Ver, então, Woody Allen brincando de Alfred Hitchcock em Um Misterioso Assassinato em Manhattan (1993) não chega a ser surpresa.

Numa época em que a vida pessoal de Woody Allen estava uma verdadeira bagunça, com a separação de sua namorada Mia Farrow sendo alvo de escrutínio da imprensa por causa do escandaloso caso com sua enteada, foi saudável para o cineasta voltar a trabalhar com alguém amigável. Diane Keaton, sua ex-namorada e parceria habitual nos anos de 1970, preencheu o papel que seria de Farrow e trouxe mais comédia à personagem. Sim, comédia. Por que apesar de Um Misterioso Assassinato em Manhattan ter seus pés no suspense, são os risos que embalam toda a trama. Última parceria entre o cineasta e Marshall Brickman no roteiro, o longa-metragem acompanha o casal Carol (Keaton) e Larry Lipton (Allen) enquanto eles tentam desvendar um crime em potencial. Carol desconfia que seu vizinho Paul (Jerry Adler) assassinou sua esposa Lillian (Lynn Cohen), fazendo com que o caso parecesse um simples infarto. Larry não acredita muito nesta hipótese, mas fica com ciúmes quando o amigo do casal, Ted (Alan Alda), passa a ajudar sua esposa nas investigações. Quando um fato inesperado surge diante dos olhos da desconfiada Carol, tudo muda, inclusive a atitude de Larry perante aquele possível crime.

Por mais que as produções estreladas por Mia Farrow sejam ótimas e a atriz tenha evoluído muito durante os 13 filmes comandados por seu então namorado, observar novamente Woody Allen contracenando com Diane Keaton é um prazer para qualquer admirador do cineasta nova-iorquino. Os dois se completam em tela como poucos. É bom lembrar que foi Keaton quem inspirou Allen a escrever personagens femininas interessantes. Foi ela quem conseguiu dividir primeiramente a cena com ele sem ficar apagada. Ao contrário. Roubava a cena. Portanto, ver os dois novamente juntos é delicioso. Ainda mais com um roteiro que os coloca em intenso debate, sempre argumentando um contra o outro, mas nunca sem perder a ternura. A trama de suspense é divertida e a saída dos protagonistas para descobrir os mistérios dela é inventiva, para dizer o mínimo. A cena do telefonema ao final é hilária. Neste terceiro ato, temos a presença marcante de Anjelica Huston, que prende os olhares do público com uma atuação muito confiante. Alan Alda também se sobressai interpretando o animado amigo Ted, uma figura que tem paixão por Carol, tenta conquistá-la durante seus encontros, mas acaba caindo pelos encantos de Marcia Fox, personagem de Huston.

Um Misterioso Assassinato em Manhattan pode não ser um dos mais conhecidos trabalhos de Woody Allen, mas é um dos preferidos do cineasta – lembrando que ele é o maior crítico de si mesmo. Talvez por ter sido um bálsamo em um tempo ruim, o filme tenha ficado em alta para seu autor. Tem algumas cenas ótimas, como o embate na sala com espelhos ao seu final, e uma dobradinha perfeita entre Diane Keaton e Woody Allen. Pode perder um pouco o ritmo no meio, mas logo reencontra seu balanço quando o mistério do título vai ficando mais claro para o espectador. Uma brincadeira inspirada de Woody Allen, que poderia passear mais pelo suspense.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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