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Sinopse

Chris Wilton é um ex-tenista profissional que conhece sua futura esposa como instrutor. Depois de casado, ele engata um tórrido romance com Nola, a noiva norte-americana de seu cunhado. Segredos ameaçam vir à tona.

Crítica

É muito fácil apreciar a dita genialidade de Woody Allen – o diretor, afinal, é um dos mais autorais de Hollywood, o que possibilitou, em mais de 40 anos de carreira, a construção de uma verdadeira legião de fãs, que adoram cada maneirismo e especificidade do cineasta. Por isso mesmo é natural perceber recepção positiva que público e crítica ofereceram à Match Point: Ponto Final, um dos seus trabalhos mais aplaudidos da última década. O curioso é descobrir, no entanto, que este longa representou uma reinvenção pessoal de Allen e seu cinema, principalmente em relação ao que ele vinha fazendo nos anos anteriores. Afinal, trata-se de uma obra mais cerebral, séria e sem muito espaço para o humor, apesar de alguns evidentes deslizes. Ciente disso tudo, é possível considerá-lo um dos pontos altos de sua carreira. Talvez não tão impressionante quando Desconstruindo Harry (1997), que é mais ou menos da mesma época e um verdadeiro exemplo do que de melhor ele é capaz de fazer.

Talvez o principal elo de ligação de Match Point: Ponto Final com os demais filmes de Allen sejam os diálogos, todos geralmente muito bem inscritos e inspirados. O roteiro, por sua vez, apesar de começar muito bem e de ser dotado de uma sacada genial em sua conclusão, tem seus exageros, acentuado por um desvio desnecessário a partir da metade do enredo, que por pouco não chega a comprometer o resultado final. Ou seja, não é ruim, mas tinha tudo também ser melhor do que é. Inspirado no clássico russo Crime e Castigo, de Dostoyevsky, a obra imprime desde o início um clima envolvente de um suspense austero e muito bem calculado, como se a frieza dos atos do protagonista se espalhasse por todo o longa. Não é qualquer diretor que consegue efeito tão imediato, e isso Woody alcança como poucos. Porém esta experiência se revela insuficiente diante as demais exigências necessárias.

Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers) está em busca de uma chance para subir na vida. Enquanto isso, trabalha como instrutor de tênis num clube privado. Ou seja, é um legítimo um alpinista social. A oportunidade lhe surge quando conhece a personagem de Emily Mortimer, uma garota sem muitas cores, porém milionária. O envolvimento dos dois logo se transforma em casamento, e a vida de ambos seria feliz e tranquila, não fosse a atração que surge entre ele e a namorada do cunhado (Scarlett Johansson, merecidamente indicada ao Globo de Ouro como Coadjuvante por essa atuação). Ceder ao desejo ou à razão? Este será o maior dilema dele, e cada atitude o guiará a inúmeras e imprevistas consequências, que para serem remediadas exigirão ferozes sacrifícios – ou não?

A primeira metade de Match Point: Ponto Final é muito bem desenhada, conduzindo o espectador com boas sacadas e muita inteligência. A conclusão, o laço final que encerra a trama, é simplesmente genial, digna de um mestre. Porém entre os dois extremos há um ínterim um tanto formulaico, com soluções equivocadas, explicações em branco e muito mais dúvidas do que respostas. Woody parece ter ficado tão entusiasmado com o universo inglês enfocado nesta sua primeira produção filmada em Londres que exagerou nas medidas – com duração superior a duas horas, é o mais longo filme já assinado por ele. Estes excessos se refletem também na inconsistência de alguns personagens, que sofrem transformações pouco convincentes e antipáticas ao público – e, neste caso, me refiro às duas protagonistas femininas. Sem muito controle, o filme se perde justamente no que deveria ter de melhor, ou seja, na concisão do roteiro, surpreendentemente indicado ao Oscar. Um deslize, obviamente, mas que no entanto não tira o brilho de uma obra nitidamente acima da própria média do realizador – o que, seja fã ou não, é preciso concordar que se trata algo digno de nota.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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