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Sinopse

Um sujeito precisa lidar com a ex-namorada furiosa, um convidado indesejado, uma pessoa acidentalmente sedada e uma antiga paixão, isso em versões alternativas do casamento de sua irmã. Sempre com um desfecho diferente.

Crítica

São tantos os problemas em Um Amor, Mil Casamentos que talvez a maior dificuldade encontrada ao assistir a esse filme seja enumerá-los sem deixar um ou outro para trás. Ao se propor a um exercício de história-coral, com a união de diversas linhas narrativas diante de um mesmo evento, combinadas com o espírito de comédia romântica, o diretor estreante Dean Craig resvala nos mais óbvios e redundantes clichês do gênero, não se esquivando, ao mesmo tempo, de exagerar nas piadas misóginas, nos conflitos sexistas e no desconforto frente àquilo que não se encaixa no esperado, resultando em um humor ultrapassado e inadequado. Nem mesmo as ideias que tenta explorar em busca de uma concepção minimamente original acabam funcionando, sendo desenvolvidas de forma abrupta e desarticulada. Em resumo, o desastre é completo, do início ao fim.

Logo na primeira sequência, somos apresentados a Jack (Sam Claflin, que já teve dias melhores, deixando claro sua falta de jeito para personagens cômicos), que está inseguro em se declarar para a recém-conhecida Dina (Olivia Munn, deixando evidente ser dona de uma densidade distante do que essa personagem talvez precisasse). O que é possível entender é que os dois estão em Roma para visitar a irmã dele – e melhor amiga dela. O acaso os uniu e agora, prestes a se separarem – precisam voltar para suas vidas – caberia a ele tomar a iniciativa de um pedido de namoro. A ela, resta apenas permanecer calada e observar passivamente a situação. Se tal contexto já é complicado, fica ainda pior quando, nos últimos instantes juntos, um inoportuno amigo dele surge literalmente do nada, oferecendo-se para levá-lo ao aeroporto, ao mesmo tempo em que insiste em chamá-lo de Sr. Punheta, suposto apelido dele dos tempos da faculdade, quando haviam se visto pela última vez.

Se o começo já é desajeitado, é bom estar preparado, pois ainda há muito a piorar. Pois três anos se passam, e a partir de agora o centro da ação será o dia do casamento da tal irmã, Hayley (Eleanor Tomlinson, de Jack: O Caçador de Gigantes, 2013). É o primeira reencontro dos dois, e não será surpresa alguma a crença dele de que poderão retomar a mesma conversa de tanto tempo atrás exatamente no ponto em que foram interrompidos. Porém, entre eles, há uma infindável galeria de tipos esquisitos cujo único propósito será buscar algum tipo de risada desprevenida através de confusões e trapalhadas. Nada disso seria tão problemático, no entanto, se houvesse algum ritmo nessa dinâmica. Mas não, é justamente o contrário que se percebe. São figuras introduzidas de modo forçado, que nunca se encaixariam em uma situação como a descrita. Assim, abandona-se qualquer tentativa de verossimilhança em nome de exageros atirados de modo aleatório.

O trabalho mais conhecido de Dean Craig até então havia sido o roteiro de Morte no Funeral (2007), longa inglês de relativo sucesso que três anos depois ganhou uma releitura homônima com elenco majoritariamente negro nos Estados Unidos (e com resultados bastante decepcionantes). Em Um Amor, Mil Casamentos, ele tenta alcançar o mesmo efeito – se antes a série de desencontros se dava durante um velório, dessa vez o mesmo se sucede tendo um casório como pano de fundo – mas frustra em cada uma das suas iniciativas. O pior é uma ideia já contida no título original, Love. Wedding. Repeat – ou seja, Amor. Casamento. Repetição. Pois o que acontece é que, exatamente na metade da trama, quando tudo havia dado tão errado que não teria mais como piorar, o cineasta decide recomeçar do zero, mostrando como os fatos poderiam ter sido diferentes caso cada pequena decisão tivesse outro desfecho. O que já estava cansativo, assim se torna ainda mais enfadonho, pois as mudanças, além de irrelevantes, se mostram óbvias e pouco inspiradas.

Entre um convidado que decide ir vestido com um kilt (aquela saia escocesa) e, por causa disso, passa o resto do tempo tentando ajustar seus testículos, um casal em que ela mal consegue suportá-lo e ele insiste em discutir se o tamanho do próprio pênis é suficiente ou não, uma solteirona disposta a se sujeitar a qualquer tipo de conquista e um furão inesperado prestes a revelar seu amor pela noiva – e, com isso, ameaçar a própria continuidade da festa – há ainda um frasco de sedativo que acaba indo parar nos mais variados copos das possíveis versões, apenas para que os envolvidos possam desfilar fingindo um iminente adormecimento. Não há mistério a respeito de como tudo irá terminar, e será justamente essa previsibilidade, permeada por uma trajetória repleta de caminhos tortuosos e atalhos que levam a lugar nenhum, que insiste em manter Um Amor, Mil Casamentos em uma posição de constante tédio e simples falta de graça. Esquecível, na melhor das hipóteses.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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