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Sinopse
Depois de assistir com seu filho a nova montagem da peça Um Bonde Chamado Desejo, estrelada por Huma Rojo, Manuela vê o jovem ser atropelado e morrer. Ela resolve encontrar o pai do menino para dar a fatídica notícia.
Crítica
Ao término deste filme, Pedro Almodóvar agradece às atrizes Bette Davis, Gena Rowlands, Romy Schneider e a todas que já interpretaram mães na tela grande, terminando por dedicar sua obra à sua própria genitora. Porém, no momento em que ele decidiu batizar esse trabalho de Tudo Sobre Minha Mãe, tais alusões já estavam mais evidentes. Afinal, realizador dos mais pessoais e um dos grandes autores do cinema moderno, seria inevitável que ele falasse aqui com propriedade sobre sua história e sobre a trajetória de tantos outros que, assim como ele, passaram grandes partes de suas vidas tendo como exemplos astros e estrelas da ficção na tela grande.
Esta é a história dos três Estebans, como a jovem interpretada por Penélope Cruz (muito antes de se tornar o furacão que dominaria o mundo na década seguinte) chega a afirmar em determinado momento. O primeiro é o homem que desistiu de tudo e de todos – inclusive de si mesmo – na tentativa de se reinventar. O segundo foi aquele que, na busca por um olhar daquela que tanto admirava, acabou pagando um preço alto demais. E o último é o que chega por fim, para ocupar o espaço deixado pelos outros dois. Ligada a todos eles está Manuela (Cecilia Roth, em atuação arrebatadora), a enfermeira que foi amante de um, mãe do outro e terminou por adotar o terceiro.
Todas as personagens de Tudo Sobre Minha Mãe são mulheres. Os homens, quando surgem, são logo eliminados – seja por um acidente, pela senilidade, por sua condição intrinsicamente frágil ou por não conseguirem se ater as suas escolhas originais. O único que persiste – e conquista qualquer um que cruze seu caminho – é justamente Agrado (Antonia San Juan), a travesti que abandonou sua masculinidade em busca da perfeição. Afinal, não é nem um pouco barato estar com tudo em cima.
Manuela perde o filho e, sem horizonte, deixa Madri e parte para Barcelona, em busca do pai que o garoto nunca teve. Ao chegar lá, encontra não apenas Agrado, mas também a Irmã Rosa (Cruz), uma jovem religiosa que descobriu ser HIV+ ao mesmo tempo em percebeu estar grávida, e a estrela Huma Rojo (Marisa Paredes), a atriz que passa suas noites defendendo nos palcos o drama de Blanche DuBois, enquanto que nos bastidores vive uma situação digna de Margo Channing. As citações de Uma Rua Chamada Pecado (1951) e de A Malvada (1950), aliás, não são por acaso. O primeiro é a peça encenada que levou a tragédia e a salvação para a vida de Manuela. O segundo, além de ser literalmente visto em cena, logo no começo, quando os protagonistas assistem ao filme na televisão, reflete também o envolvimento que essas personagens acabarão desenvolvendo durante o desenrolar da trama.
Pedro Almodóvar consegue em Tudo Sobre Minha Mãe fazer o seu filme mais feminino, reunindo algumas de suas atrizes favoritas – Roth, Cruz, Paredes – em uma história sobre perdas e arrependimentos, vitórias e esperanças, tristezas e conquistas. É preciso deixar partir para reconhecer o real valor daquele que se foi, e somente assim fazer o esforço necessário para reviver aquele mesmo sentimento. Amenizando o escracho que lhe é habitual – porém sem deixá-lo de lado por completo – o cineasta conseguiu aqui falar com seu público fiel, ao mesmo tempo em que atingiu plateias maiores, muitas das quais que tiveram aqui o início de uma admiração crescente. O Oscar, o Globo de Ouro, o Bafta, o César, o Goya e os mais de cinquenta troféus conquistados em todo o mundo são mera prova disso.
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