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Sinopse

Idealista assessor de imprensa de um candidato à presidência dos Estados Unidos, Stephen vê seus sonhos românticos irem pelo ralo ao entrar em contato com as engrenagens de uma campanha política.

Crítica

No campo da política, em que muito se conhece acerca de seus vícios e virtudes, mudar os personagens não significa contar uma nova história. O desafio, pelo contrário, está justamente em, diante do mesmo tema, conseguir renovar a tensão que permeia as suas relações. Esta é a tarefa de Tudo pelo Poder. Estamos em meio às eleições que definirão o futuro presidente dos Estados Unidos. No processo eleitoral americano, diferentemente dos países cuja soma total dos votos é decisiva, a primeira disputa, dentro do próprio partido, torna-se crucial. A conquista dos colégios eleitorais está, pois, no caminho de quem almeja chegar à Casa Branca.

Acompanhamos a disputa interna do partido Democrata pela figura do assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan Gosling). Em um enfrentamento de superficialidades –  visão preferida do cinema americano ao abordar o jogo político – o talentoso Meyers é um trunfo indispensável para Mike Morris (George Clooney), governador da Pensilvânia, vencer o senador Pullman (Michael Mantell). Contratado pelo amigo e coordenador da campanha, Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), o trabalho de Stephen ultrapassa o dever de erigir a imagem de um candidato coerente, competente e confiável, e torna-se imprescindível ao passo que seu realismo equilibra o otimismo desenfreado dos bastidores.

Nas primeiras parciais, o governador de retórica suspeita e posições titubeantes aparece em vantagem. A oposição logo percebe que se o empenho do assessor pode influenciar diretamente as primárias, então o adversário a ser batido talvez não seja Morris e, sim, Meyers. Em política, a precaução é agir. Por isso, Tom Duffy (Paul Giamatti), responsável pela campanha de Pullman, entra em contato com Stephen. Experiente no ramo, Duffy mostra a verdade sobre o desenrolar das eleições: por mais que trabalhe, de nada servirá seu esforço se Morris não aceitar ceder um cargo importante para o senador Thompson (Jeffrey Wright). Ambos sabem que essa concessão está fora dos planos do governador, pois colocaria em jogo a governança e os destinos do seu mandato. Sendo assim, se ainda quiser estar do lado vencedor, Meyers deve juntar-se a Duffy.

Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, o roteiro escrito por George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon prima por um enredo muito bem estruturado, no qual os traços de personalidade bem definidos facilitam, apesar da quantidade de informação tradicional dos thrillers políticos, o reconhecimento dos personagens. A articulação da narrativa se desenvolve a partir da constante agregação de novos elementos, como a atração que a estagiária Molly (Evan Rachel Woods) desenvolve pelo assessor. A cada novo ponto de problematização, a iminência das tomadas de decisão intensifica a complexidade psicológica do protagonista.

Ciente da experiência que nos proporciona – tematicamente semelhante a de Confissões de uma Mente Perigosa (2002) e Boa noite e Boa Sorte (2005) -, Clooney repete a direção sóbria e elegante de projetos anteriores. A trajetória do diretor em frente às câmeras se reflete no ótimo resultado da composição da mise-en-scène. Outro ponto positivo, o cuidado na alternância e duração dos planos confere à câmera uma organicidade narrativa rara. Discreto, o registro fotográfico somente se faz perceber quando necessário para complementar a tensão dos momentos centrais da dramaturgia, como na decisão sobre a permanência de Zara na coordenação da campanha e no enfrentamento de Morris e Meyers. Tudo pelo Poder não apresenta nenhuma novidade. Não adentramos no novo mundo da política, repleto de condutas íntegras e sentimentos nobres. Estaremos envolvidos no que conhecemos de O Candidato (1972), Segredos do Poder (1998) e Nixon (1995).  Estes diálogos, por sua vez, engrandecem a obra de Clooney. Por sorte, um bom filme prescinde de qualquer inovação.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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