Crítica
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Sinopse
Monique perde uma promoção no trabalho e ainda tem de lidar com um chefe abusivo. Cansada de tanta injustiça, ela decide fazer as coisas ao seu modo. De TPM, ela é determinada, sedutora, impiedosa e também possessiva.
Crítica
Dedicada enfermeira da ala pediátrica de um hospital, Monique (Paloma Bernardi) está às voltas com oscilações de humor por conta da ebulição hormonal típica da tensão pré-menstrual. Os efeitos da TPM são apresentados de modo leve nesta produção escrita, dirigida e estrelada por mulheres. Fome fora do comum, libido lá em cima, emotividade anormal, entre outras coisas são listadas como sintomas identificáveis nessa protagonista que ainda enfrenta as engrenagens machistas de um mundo inclinado a não acolher as suas necessidades. Porém, TPM! Meu Amor prefere não manter a questão hormonal como algo importante durante a trama, recorrendo a ela esporadicamente, como muleta, na tentativa de gerar pontuais momentos engraçados. O que mais se destaca nesse sentido é a brincadeira com as duas Moniques: uma delas, a gentil, mas que represa muitas coisas que acabam a afetando negativamente; a outra, a poderosa, que não perderia qualquer oportunidade para se impor e dizer umas verdades a quem dificulta a sua vida. A diretora Eliana Fonseca não desenvolve essa dualidade como traço fundamental, se contentando com algumas tiradas específicas sobre as enormes diferenças entre a Monique em estado natural e essa Monique influenciada pela TPM. Mas isso não impede o filme de ter qualidades, apesar da repetição de chavões sem personalidade e das situações mal resolvidas.
O que TPM! Meu Amor tem de melhor é a visualização de um círculo feminino relativamente amplo e, como contraponto, os homens absolutamente comprometidos com os mecanismos do machismo estrutural. O único rapaz que não representa aspectos negativos do patriarcado é o doutor bonitão transformado em alvo da protagonista – além de belo, ele é sensível, entende de fisiologia feminina (é ginecologista) e aparece somente nas ocasiões com reforços positivos. Em contrapartida, há o chefe assediador que namora a prima de Monique; o enfermeiro promovido, que passa à frente de mulheres bem mais qualificadas; o paciente que se aproveita da boa vontade de Monique para ser tocado com segundas intenções (da parte dele, claro); e até mesmo o pai sem noção que faz questão de exibir o pênis ereto por conta da prótese que evita o principal sintoma de sua impotência. Assim como aconteceu em Barbie (2023), aqui esse universo masculino é enxergado como essencialmente nocivo e seus habitantes encarados a partir de arquétipos infelizmente condizentes com a realidade. Então, de um lado temos mulheres apoiando a enfermeira desesperada para menstruar e acabar com seu martírio. Do outro, a constituição de um cenário masculino repleto de impulsos desfavoráveis ao feminino. Se falta sutileza (o que não é o problema), sobra clareza nessa oposição que marca uma posição.
No entanto, TPM! Meu Amor não alça voos maiores por conta da natureza dispersiva do roteiro assinado por Jaqueline Vargas e da direção somente funcional de Eliana Fonseca. Como mencionado anteriormente, a questão hormonal se transforma numa nota de rodapé nessa comédia bem mais eficaz quando situa Monique dentro de um espaço a ela desfavorável em praticamente tudo. Além do igualmente já citado desperdício da dualidade, há pouca elaboração dos sintomas gerais da tensão pré-menstrual – a bem da verdade, isso é restrito à cena breve da consulta com o ginecologista, ocasião ilustrada com os vislumbres de Monique comendo desenfreadamente, imaginando-se sexualmente provocativa, projetando-se obesa de tanto ceder às pressões da gula, etc. Depois disso, esses indícios de TPM são timidamente citados ao longo do filme, mas quase sem qualquer função dramática, ou seja, eles deixam de ser fundamentais dentro da curva dramática da protagonista e passam a ser detalhes. A subtrama envolvendo a menina doente que deseja se apresentar num programa de calouros ocupa um espaço desproporcional à sua importância para o discurso do filme, servindo tão e somente para acentuar as notas de superação do último terço da trama. E a relação de Monique a prima (vivida por Maria Bopp) é problemática, pois a rigidez da parente sobre imagem nunca é bem resolvida.
De toda forma, entre as qualidades e falhas, TPM! Meu Amor pelo menos tenta expandir o panorama das comédias brasileiras para além das histórias de amor, embora continue preso à classe média economicamente confortável – o que restringe o recorte do panorama feminino. O que se destaca positivamente é essa vontade de radiografar circunstâncias comuns, mas que se tornam invisíveis dentro da estrutura machista, tal como a masturbação da idosa com mais de 80 anos, tabu afrontado com graça pela diretora Eliana Fonseca. Falando na condução do longa-metragem, Eliana não vai muito além de ilustrar um roteiro com imagens e zelar para que todos do elenco estejam na mesma sintonia – a produção tem um tom levemente exagerado que condiz com a proposta cômica que é desenhada. A fotografia assinada por Uli Burtin não faz mais do que o básico, ou seja, prefere a segurança a qualquer traço de inventividade. Por sua vez, a direção de arte a cargo de Antônio de Freitas e Taís Cohn deixa bastante a desejar por criar ambientes artificiais demais, o que faz o filme perder uma textura de autenticidade em momentos-chave. A produção nem sempre acerta na tentativa de fazer piadas com situações cotidianas, às vezes ficando no meio do caminho entre a provocação de sorrisos amarelos e a proposição de ponderações por meio da comédia. O saldo é intermediário; ora bom, ora fraco.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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