Todos os Paulos do Mundo
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Rodrigo de Oliveira, Gustavo Ribeiro
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Todos os Paulos do Mundo
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2017
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Quantos personagens cabem num só ator? Com essa questão em mente, os diretores Rodrigo de Oliveira e Gustavo Ribeiro se debruçaram sobre a vida e a obra de um dos maiores artistas do cinema, teatro e televisão nacional. O resultado é Todos os Paulos do Mundo, um filme que é mais do que uma homenagem à Paulo José – é, sim, devido a sua importância e envolvimento com os mais diversos momentos da nossa cinematografia, uma verdadeira aula de cinema e um tributo ao que de melhor foi feito na produção nacional nos últimos sessenta anos. Construído de forma inteligente, tem-se aqui um documentário que não apenas respeita a sua fonte de estudo, mas também a usa a seu favor, fazendo dela – ou dele – tanto meio quanto fim do olhar ao qual se propõem. E o que se tem no todo é ainda maior do que cada uma das suas partes em separado.
Oliveira, responsável por títulos pouco vistos, mas merecedores de atenção, como As Horas Vulgares (2011) – feito em parceria com Vitor Graize – e Teobaldo Morto, Romeu Exilado (2015), se une dessa vez ao novato Gustavo Ribeiro. Mas fundamental também, além daquilo que ambos estavam em busca, foi contarem com a colaboração de Amanda Baião, que desenvolveu uma pesquisa impressionante a partir de toda a carreira de Paulo José. Mas não se contentou apenas com as visões dele em cena, e foi além: o encontramos também nos palcos, na telinha, nos bastidores e até mesmo em casa, em família, rodeado pelos filhos e amigos. Assim, o filme deixa de lado qualquer viés mais didático para se revelar uma jornada íntima e pessoal pelo artista e pelo homem, renovando a todo instante a curiosidade e o interesse do espectador por esta figura singular no cenário artístico do país.
Cerca de trinta longas-metragens são explorados pelos realizadores, com trechos e sequências que dão cabo de ilustrar passagens importantes do biografado. Das parcerias com Domingos de Oliveira (como Todas as Mulheres do Mundo, 1966, até Juventude, 2008) e Joaquim Pedro de Andrade (do pioneiro O Padre e a Moça, 1966, ao clássico Macunaíma, 1969), chegando até sucessos mais recentes, como Benjamim (2003) e O Palhaço (2011), Paulo José se apresenta ao público das mais diversas formas. Do clérigo de primeira viagem ao conquistador inveterado, do veterano do picadeiro ao senhor que se recusa a envelhecer, nada parece ser tabu. Cada um dos tipos que defendeu carregou consigo um pouco de si mesmo. E ele pode ter sido diretor, dramaturgo, criador e criatura, mas nunca hesitou em afirmar que foi somente no cinema que encontrou dentro de si o verdadeiro ator que almejava ser. Um casamento que, de sonho, se tornou sua mais preciosa realidade.
Ainda que os créditos afirmem que o texto do filme seja de Paulo José, o que fica claro ao espectador é que esse é um roteiro no estilo colcha de retalhos. Sim, foi Paulo que declarou cada uma das palavras que aqui ouvimos, mas assim o fez no decorrer de uma vida. Os realizadores é que assumiram a incumbência de organizar esse quebra-cabeça. Assim, vamos do nascimento em Lavras do Sul à infância em Bagé, no interior do Rio Grande do Sul, até o enfrentamento familiar e o abandono da faculdade de Arquitetura para seguir a profissão de Ator. Após passar por Porto Alegre, foi para São Paulo e Rio de Janeiro, onde encontrou outros como ele e seus caminhos começaram a se abrir. A paixão por Dina Sfat, a companheira de uma vida e mãe de suas três filhas, até o encontro com Kika Lopes, a atual companheira, passando pela criação do Teatro de Equipe e a virada no início dos anos 1980 com o surgimento de uma dramaturgia de peso na televisão, ele não deixa nada de lado. Nem mesmo o mal de Parkinson, doença que sofre há mais de vinte anos, é ignorado – pelo contrário, é visto com leveza e bom humor. Ou seja, este filme é mais do que um olhar sobre sua vida – é, sim, um retrato do seu jeito de ser.
Todos os Paulos do Mundo não conta com depoimentos sérios em frente às câmeras. Não há emoções baratas, nem polêmicas ou controvérsias. Tudo está às claras, bem como Paulo José sempre foi, um homem de posições firmes e que não permitem dúvidas. Agora, o viés lírico de todas estas personas que defendeu com sua arte ganha novos olhares, principalmente pela oportunidade de ouvirmos estes relatos através das vozes de alguns dos seus maiores companheiros, como Fernanda Montenegro, Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Flavio Migliaccio, Milton Gonçalves, Helena Ignez, Joana Fomm e Mariana Ximenes, além de familiares como Kika Lopes, Ana, Bel e Clara Kutner e Paulo Henrique Caruso. São muitos, e quase impossíveis. Mas foram reais, e seguem vivos na memória e nas telas dos apaixonados pelo fazer cinematográfico brasileiro. Paulo José é parte dessa engrenagem, não menos nem maior que ela, mas indispensável à toda a sua magnitude. E aqui encontra um reconhecimento digno. Nem mais, nem menos, mas bonito como ele sempre foi.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Filipe Pereira | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Edu Fernandes | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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