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Sinopse

Oliver ficha chocado quando seu pai, um doente terminal de câncer, finalmente assume a sua homossexualidade. Depois da morte do sujeito, que teve momentos derradeiros muito intensos, Oliver cresce deprimido, lutando contra fantasmas e frequentemente voltando às lembranças para encontrar algum caminho.

Crítica

Como se ensina o amor? Ou melhor, como se aprende a amar? Acho que essa é a grande questão por trás de Toda Forma de Amor, o emocionante filme do diretor e roteirista Mike Mills, que anteriormente havia feito, entre documentários, curtas e videoclipes, o igualmente sensível Impulsividade (2005). Neste novo longa ele mostra um grupo de pessoas que enfrentam suas próprias dificuldades e dilemas no que diz respeito aos relacionamentos amorosos e o envolvimento com o próximo. Para se amar existe uma idade mais apropriada? Quais sacrifícios são justificados em nome do amor? E o amor pode se manifestar apenas de uma única forma, ou deve-se compreender que o sentimento pode ser expresso nos mais diversos sentidos e maneiras? Nunca é tarde, afinal, quando é o coração que está falando mais alto.

Hal (Christopher Plummer, excelente em uma dignidade contida, porém prestes a explodir de felicidade e excitação) viveu 44 anos ao lado de uma mulher pela qual não se sentia atraído sexualmente. Uma convivência como essa só foi possível porque ele a amava, no sentido mais profundo da palavra. Mas a partir do momento em que se viu viúvo, decidiu assumir a própria homossexualidade e encarar a vida com um espírito alegre e positivo, a despeito dos 75 anos já vividos. Oliver (Ewan McGregor, apropriado e subestimado), por outro lado, tem 37 anos e a experiência de já ter passado por quatro relacionamento significativos, porém todos fracassados. Ele acredita que ficará sozinho o resto dos seus dias. Mas não será muito cedo para uma crença como essa? Anna (a bela Mélanie Laurent, de Bastardos Inglórios) é atriz, vive ao redor do mundo e não cria raízes. Seria essa aparente liberdade e independência só uma característica profissional ou uma decisão fria e calculada, que visa disfarçar carências e temores mais profundos? E há também Andy (Goran Visnjic, visto também em outro drama de conotações gays, Até o Fim, de 2001), o homem que ama todos os homens e procura num senhor mais velho conforto e segurança – desde que ele não censure esse ímpeto democrático de amar. É possível dizer que um deles ama mais do que o outro? Ou que este está deixando de amar, à exemplo daquele? É mais fácil aprender com as lições que vivemos ou através do espelho dos outros?

São várias as indagações propostas em Toda Forma de Amor, e felizmente há poucas respostas prontas. Nada aqui é definitivo, e a construção destas soluções é feita em conjunto entre obra e espectador, apenas indicando caminhos e sugestões, sem fechar o assunto. Oliver é filho de Hal, e este está apaixonado por Andy. Mas a solidão de Oliver tem data para acabar, e ela encontra seu fim na pessoa de Anna. Estas histórias não se desenvolvem simultaneamente, e se por um lado isso é ruim, por outro servem para ilustrar como os erros de uma podem significar os acertos da posterior. Uma edição muito bem elaborada, que combina passado e presente com impressionante habilidade, uma trilha sonora delicada que se apresenta sem exageros e uma direção segura de atores são os elementos finais de um conjunto que surpreende do início ao fim.

Talvez o fato mais injusto no que diz respeito a Toda Forma de Amor foi a decisão da distribuidora brasileira de lançar o filme diretamente em DVD no país, impedindo o público de conferir esse belo trabalho na tela grande. Desde já despontando como um dos favoritos ao Oscar 2012, se apresenta como imbatível na disputa da categoria de Ator Coadjuvante, reservando à Plummer um reconhecimento tardio, mas digno de todos os méritos do homem que já foi o Capitão Von Trapp em A Noviça Rebelde (1965), nesta que será recém sua segunda indicação em uma carreira de quase 60 anos! Forte candidato ainda nas categorias de Roteiro Original e até de Melhor Filme (prêmio já conquistado no Gotham Awards), temos aqui nesse retrato sensível e envolvente um dos melhores filmes de 2011.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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