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Sinopse

Em O Peso do Silêncio, um homem comunista na Indonésia é morto em 1965. Nos dias atuais, o seu irmão, disfarçado como um oculista, visita os possíveis assassinos, usando da informalidade das consultas para extrair as informações necessárias sobre quem e como cometeu o assassinato. Indicado ao Oscar 2016

Crítica

O diretor Joshua Oppenheimer chocou o mundo com seu premiado documentário O Ato de Matar (2012), indicado ao Oscar na categoria Melhor Documentário, no qual mostrava líderes de esquadrão da morte na Indonésia falando abertamente e reencenando alguns de seus assassinatos mais abomináveis. O que embrulhava o estômago do espectador não era, necessariamente, o que os depoentes estavam dizendo, mas COMO estavam dizendo. Com sorrisos, piadas, verdadeiramente orgulhosos do que haviam feito no passado. Apesar de brilhante, assistir ao documentário era uma tarefa doída, muito pela falta de respeito com a condição humana. Quatro anos depois, Oppenheimer retorna com mais um filme que tende a gerar discussão – e engulhos.

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Em O Peso do Silêncio, o documentarista utiliza material que havia filmado em O Ato de Matar, mas conta outra história. Um indonésio de 44 anos de idade, irmão de uma das vítimas da caça aos comunistas da década de 1960, entrevista os responsáveis pelas matanças do passado, sob o pretexto de uma consulta ocular. Alguns deles são conhecidos de Oppenheimer, pois participaram das gravações no passado e abrem o jogo a respeito dos feitos durante a ditadura naquele país. Essas entrevistas são costuradas com este homem acompanhando os depoimentos capturados pelo diretor há dez anos e o cotidiano dele com seus pais e sua filha. A identidade dele é preservada por motivos óbvios de segurança, visto que muitos dos assassinos daquela época ainda estão no poder.

Assim como no documentário anterior, o que espanta em O Peso do Silêncio é a forma corriqueira como psicopatas falam a respeito das suas atrocidades. Eles brincam, eles encenam, eles explicam com sorriso nos lábios como mataram dezenas e dezenas de pessoas. A expressão de terror do protagonista ao olhar os depoimentos na televisão não é muito diferente do nosso olhar a respeito de tudo. A diferença é que ele sofreu na pele e sua família perdeu um membro querido por um injusta caça aos “comunistas”.

Sem mostrar remorso algum por seus atos, os velhos carrascos acabam sendo entrevistados por este homem. Alguns partem para a defensiva quando descobrem se tratar de um parente de uma vítima. Outros mudam o discurso. No decorrer da trama, é descoberto que até um tio da família ajudou no aprisionamento dos “rebeldes”.

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Felizmente, Oppenheimer costura as entrevistas com estes assassinos com cenas da família do protagonista. Seus pais são os personagens mais interessantes. Não sabem direito as suas idades – mas já se avizinham dos cem anos. A mãe tem uma moral fortíssima e até hoje chora a partida do filho. É por ela, também, que aquele homem busca justiça. A inclusão destas pessoas tão sofridas e tão humanas deixa a sessão de O Peso do Silêncio menos excruciante. É pouco provável que este filme traga o sentimento de justiça que os familiares das vítimas do passado tanto buscam. Mas, ao menos, coloca no centro das discussões aqueles atos horríveis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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CríticoNota
Rodrigo de Oliveira
8
Chico Fireman
7
MÉDIA
3.5

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