Crítica
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Sinopse
Guarda penitenciário, Jean-Christophe se encanta por sua colega de aulas de dança. Os dois se reencontram quando ela vai visitar o marido encarcerado. Começa um complicado triângulo amoroso.
Crítica
O tango é, por regra, uma dança sensual composta por dois parceiros. Há variações em que uma terceira pessoa se junta a dupla principal, formando, metaforicamente, um triângulo amoroso. Porém, em Tango Livre, vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza do ano passado, o protagonista Jean-Christophe (François Damiens) mal sabe, mas quer se tornar o quarto membro de uma relação que já está mais do que completa.
J.C., como conhecido por seus colegas, é um agente penitenciário que, nas horas vagas, frequenta aulas de tango. É de lá que ele conhece Alice (Anne Paulicevich), sua parceira de dança que, coincidentemente, é casada com um preso, Fernand (Sergi López). Aliás, casada com este e amante de outro, Dominic (Jan Hammenecker) – que, por sinal, é amigo do marido. Estranho? Não para os personagens, que convivem em harmonia nesta relação e ainda tem um fruto: o revoltado adolescente Antonio (Zacharie Chasseriaud), filho de Alice.
Através do conto deste insólito quarteto amoroso, o eficiente diretor Frédéric Fonteyne (Uma Relação Pornográfica, 1999) aproveita para utilizar a dança argentina não apenas como centro da atração de J.C. e Alice, mas também como fio condutor de narrativa e montagem. O que são os diálogos nas visitas à prisão se não passos à frente, atrás e ao lado? Aula de como uma simples e bem humorada edição pode transformar uma simples sequência em um dos momentos mais memoráveis do ano no cinema. Aliás, é na prisão que o palco se instala de vez quando os outros presos começam a ter aulas de tango diárias com o latino colega de cela. Tudo porque Fernand não quer perder a esposa para J.C.
Não que o agente penitenciário aparente ser grande obstáculo para a relação a três de Fernand, Alice e Dominic. É pelos seus dois parceiros que os sentimentos da mulher flutuam. Por outro lado, a atração e, quiçá, a repulsa pelo colega de aula só aumentam à medida que segredos e consequentes brigas com seus dois maridos vem à tona. O que falta a J.C. é justamente o tempero que conduz o tango: a paixão. Ele pode estar enamorado de Alice, mas quem disse que o próprio consegue demonstrar este sentimento de forma efetiva?
Nos divertidos e tensos 90 minutos de filme o público pode até desconfiar que, como o próprio tango em geral, a história termine em tragédia. Contudo, o final megalomaníaco (acreditem, no bom sentido) faz qualquer dúvida sobre a condução da narrativa se dispersar. Méritos de um roteiro original, uma direção segura e um elenco totalmente inspirado que dançam não conforme a música, mas além dela.
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sou tanguera....amo milongar....amei esse filme...e a critica...ótima.
Representação da "intensidade" do tango com tudo que possa parecer transgressão da paixão .
Matheus, preciosa sua crítica! Agora que descobri seu 'papo de cinema', não vou deixar de lê-lo. Obrigada. Marisa